Emília da Sónia Janeque, que nasceu em 2002, no distrito de Moma, província de Nampula, padece de angioma facial, um tumor benigno localizado na bochecha direita, desde que veio ao mundo. Filha de pais desempregados, dos primeiros dias de vida a esta parte anda pelos hospitais à procura da cura. Sonha, um dia, ser professora.
A petiza frequenta a 3a classe numa escola primária local. Os seus dias resumem-se na dor causada pela doença que tende a agravar-se à medida que o tempo passa, facto que deforma a sua estética facial. À situação, acresce-se a troça que tem recebido dos amigos e dos colegas da escola, segundo contou a mãe, Sónia Domingos, ao @ verdade.
A doença de que Emília da Sónia padece foi diagnosti- cada em 2002, semanas depois de ter nascido, no Centro de Saúde de Moma, tendo sido imediatamente transferida para o Hospital Central de Nampula, onde é tratada. De lá até esta parte tem estado em constantes análises e exames médicos, mas, ao invés de registar melhorias, só piora.
Em contacto com o @verdade, a família da menor contou que a menina já foi uma vez operada quando tinha pouco mais de um mês. Os pais transferiram-se do distrito de Moma para a cidade de Nampula como forma de estarem mais próximos do Hospital Central local, onde, duas a três vezes por mês, a menina deve ser observada.
A mãe, Sónia Domingos, disse-nos que depois da opera- ção, regressou com a filha ao distrito de Moma, sua terra natal. A menina só conheceu dias de alívio durante dois meses, depois dos quais começaram as complicações.
Durante as constantes deslocações ao Hospital Central de Nampula, a maior naquele ponto do país, Emília da Sónia passou a ser submetida à drenagem do sangue acumulado no “inchaço”. O processo durou até os dez meses de vida.
Nessa altura, o Hospital Central de Nampula ainda não tinha aparelhos que permitissem tratar uma doença similar à de Emília. Já aos onze meses de vida, em 2003, foi submetida a outros exames médicos, que ditaram a sua transferência para o Hospital Central de Maputo, onde ficou internada durante um mês. Comemorou o seu primeiro aniversário numa sala de cirurgia.
Em Maputo, segundo Sónia Domingos, a menina passou por mais uma sessão de observações médicas, também sem sucesso. Desta vez não houve nenhuma cirurgia nem drenagem de sangue. “Hoje a doença está numa fase avançada e os médicos dizem que não há como operar porque o sangue continua muito fluído”, contou.
Porém, os médicos não conseguirem conter o crescimento do angioma. Visivelmente consternada, Sónia Domingos disse que “o tumor está a crescer. Quando ela (Emília) era criança estava só na parte central da bochecha. Hoje alastra-se para o pescoço e para a boca. A língua está a ficar abrangida porque contém manchas pretas, o que a impede de movimentar os lábios. Ela mastiga com dificuldades”.
Em Janeiro do corrente ano, Emília da Sónia ficou, outra vez, uma semana hospitalizada em Nampula para mais uma tentativa com vista a uma cirurgia. Tudo fracas- sou pois o sangue ainda não coagulou. Os seus pais são desempregados e alimentam a esperança de ver a filha livre do problema.
De acordo com eles, se tivessem dinheiro levariam a filha para ser tratada “noutro lugar do mundo”. O marido de Sónia, pai da menina, cursa enfermagem no Centro de Ciências de Saúde na cidade da Beira.
O que é angioma?
Um angioma é um tumor benigno constituído por uma proliferação das células dos vasos sanguíneos ou dos vasos linfáticos. Pode-se desenvolver em diversas partes do corpo. Trata-se de uma doença muito comum em crianças e adolescentes.
As meninas são cinco vezes mais afectadas que os meninos e 80% ocor- rem na face, cabeça e pescoço. Aparece em 10 a 12 porcento dos bebés, especial- mente os que nasceram com um peso abaixo de um quilograma. Conhece-se no mundo 30 porcento de bebés que nascem com este peso.
O angioma é geralmente causado por uma anomalia congénita, ou seja, durante a gravidez. Depois do nascimento cresce progressivamente aos seis a oito me- ses, tempo a partir do qual inicia uma regressão que pode durar até aos 10 anos de idade em algumas crianças.
Frequentemente diz-se que não é necessário tratamento pois ele irá desaparecer espontaneamente, o que já não é universalmente aceite. Todos os angiomas sofrerão regressão em algum grau, mas a maioria não regride a um nível aceitável.
Em geral, mais de metade das crianças com angioma facial, como o caso da Emília da Sónia, com mais que 5 anos de evolução terão algum tipo de procedimento cirúrgico ou Laser como tratamento final.
Actualmente, trata-se um angioma no início do seu aparecimento. Deve-se ter em conta o desenvolvimento da criança. Por volta dos dois a três anos de idade a criança tem noção da sua imagem, mas, à medida que cresce, compara-se com os amigos.
Por isso tudo, a intervenção precoce dos angiomas evita os efeitos psicossociais. Em alguns casos, os angiomas podem ser ameaçadores da vida da criança ou impedir alguma função importante como a da visão, respiração, audição e da alimentação. Refira-se que Emília já se ressente desta última função.
Em casos extremos, angiomas muito grandes podem levar a um sequestro de sangue e causar problemas circulatórios e/ou na coagulação.
Opções de Tratamento
Actualmente, não há razão para se deixar de tratar um angioma. Existem várias opções de tratamento. Cada criança deve ter um tratamento individualizado e, quando há vários angiomas, cada um pode ter um tratamento diferente.
Há factores a ter em conta no tratamento: se o angioma é proliferante ou evolutivo, superficial ou profundo, a idade da criança, localização da lesão. As opções de tratamento podem ser usadas à parte ou combinadas.
Um dos tratamentos mais indicados para o angioma é a cirurgia. Esta confere resultados mais eficazes. Muitos pensam que é uma cirurgia complicada e com perda de sangue, o que não é verdade.
Cirurgiões com experiência realizam esta cirurgia com um mínimo de sangramento. O objectivo da cirurgia é remo- ver a lesão na fase proliferativa ou remover algum resíduo no caso dos que já regrediram. Pode ser usada também com Laser ou Propanolol.