A crise financeira e a recessão global vão fazer perder às economias africanas cerca de 70 mil milhões de dólares até ao final deste ano, sugere um estudo da organização humanitária Action Aid.
Metade dessa quantia representa uma queda drástica da ajuda internacional, lucros de exportação e contribuições de nações mais ricas atingidas pela recessão, adianta aquela organização.
Segundo a Action Aid, os preços voláteis das matérias-primas e o colapso das remessas de dinheiro enviadas pelos emigrantes levaram a uma redução dos rendimentos para metade nos países africanos mais afectados.
A Action Aid diz que, em África, a recessão global será equivalente a um corte salarial de 10%, dai que, pede aos líderes do G20 que ponham as instituições financeiras a trabalhar para todo o mundo e não apenas para o que chama de “banqueiros sedentos de bónus”.
Entretanto, Organização das Nações Unidas (ONU), responsabiliza as grandes potências pela crise, acusando- as de ter praticado uma ‘especulação selvagem’.
Por isso, a agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento, a UNCTAD, no seu relatório, recomenda a aplicação urgente de reformas dos sistemas financeiros e monetários internacionais e diz que a ONU deve desempenhar um papel central nesse processo.
Com uma linguagem invulgarmente acutilante, a UNCTAD diz que uma fé cega no mercado livre deu margem de manobra a formas de gestão financeira completamente distanciadas de qualquer actividade económica verdadeiramente produtiva.
Segundo o relatório, “um comportamento de rebanho”, contribuíram em grande parte para o aumento, no ano
passado, dos preços dos produtos alimentares.
O secretário-geral da UNCTAD, Supachai Panitchpakdi, deseja que a ONU desempenhe um papel central na reforma dos mercados financeiros globais.
“Esta é uma tarefa multilateral. A ONU tem 192 membros que deviam, todos, ter uma palavra a dizer. As pessoas falam da Wall Street mas o que devíamos era pensar nas que nem sequer ruas têm”, considerou.
A ONU manifestou apreensão de que o declínio económico global possa reduzir financiamentos para projectos fundamentais de combate à fome, pobreza, doença e alterações climáticas. O relatório da UNCTAD recomenda a aplicação de uma regulamentação firme para impedir a especulação financeira no seu todo – não apenas no mercado imobiliário mas também nos mercados monetários e financeiros.
Se tal não acontecer, conclui o documento, nada, a não ser “o encerramento completo do casino financeiro, fornecerá uma solução sustentável para a crise.”