O mundo pode enfrentar uma nova crise alimentar, semelhante à que aconteceu em 2007/08, se os países restringirem exportações para tentarem proteger os seus armazenamentos, alertou, Quinta-feira (9), a FAO (órgão da ONU para alimentação e agricultura), depois de relatar uma alta nos preços dos alimentos em decorrência da seca nos EUA.
O milho e a soja bateram preços recordes,mês passado, por causa das condições climáticas nos EUA, puxando para cima a cotação doutros produtos, e obrigando a FAO a reduzir as suas previsões de declínio nos preços, este ano.
Em 2007 e 2008, a conjunção de preço elevado do petróleo, maior demanda por biocombustíveis obtidos de produtos comestíveis, clima adverso, políticas restritivas para as exportações e especulações nos mercados futuros causaram uma disparada nos preços dos alimentos, provocando protestos nos países como Egito, Camarões e Haiti.
“Há o potencial para que se desenvolva uma situação como a que tivemos em 2007/08”, disse à Reuters Abdolreza Abbassian, economista-chefe e analista de cereais da FAO.
“Há uma expectativa de que desta vez não adoptaremos más políticas nem interviremos no mercado por meio de restrições, e se isso não acontecer não iremos ver uma situação séria como a de 2007/08. Mas se essas políticas repetirem-se, tudo é possível.”
Os mercados graneleiros foram atingidos por especulações de que os produtores de cereais do mar Negro, especialmente a Rússia, poderiam impor restrições às exportações por também terem sofrido com uma seca.
Quarta-feira (8), a Rússia disse não ter motivos para restringir exportações, este ano, mas que tarifas punitivas aos exportadores não estão descartadas para o próximo ano.
O Índice de Preços Alimentícios da FAO, que mede oscilações mensais para uma cesta de cereais, oleaginosas, lacticínios, carne e açúcar, subiu duma média de 201 pontos em Junho para 213 em Julho.
A alta reverte três meses de declínio. O índice está abaixo do recorde de 238 pontos em Fevereiro de 2011, quando a alta dos alimentos ajudou a estimular as revoltas da Primavera Árabe, mas acima do índice registado durante a crise alimentar de 2007/08.
A ONG Oxfam disse que a alta no preço dos cereais pode causar fome e desnutrição para milhões de pessoas, que iriam somar-se às quase 1 bilhão que já não têm condições de se alimentar adequadamente.
Abbassian disse que a situação ainda é muito diferente da de 2007/08, quando o preço do petróleo estava em níveis recordes, o que também eleva os custos dos produtores agrícolas.
A abundante oferta de arroz e o fraco crescimento económico mundial também devem aliviar a pressão sobre os preços, e muita coisa vai depender das condições climáticas nos EUA.