A prática de relações sexuais nos campos abertos ou nas escadas de prédios residenciais não é uma questão de apimentar a vida amorosa, mas sim uma necessidade para os residentes da província do KwaZulo-Natal devido à falta de habitação, o que faz com que uma casa de Tipo Um acomode mais de dez pessoas.
Os residentes do bairro mestiço de Mariannridge, arredores de Pinetown, alegam que, pelo facto de nas suas residências morarem muitas pessoas, vêem-se obrigados a recorrer à prática de relações sexuais nos locais públicos, tais como campos e espaços comuns dos prédios, chegando alguns a adquirir colchões para evitar lesões.
Quando Jeanine Stanley, de 28 anos de idade, quer estar a sós com o seu noivo, o próximo campo de futebol é o melhor local para tal uma vez que “em casa não temos espaço. Praticar relações sexuais no campo é o modo de vida para muitos aqui. Tens que escolher o melhor local. As pessoas praticam sexo em qualquer sítio, mas não nas residências devido à presença de crianças”. “
“Mais de 11 pessoas vivem na minha casa. Não posso ter sexo à frente da minha mãe e dos meus filhos. Quando me viro, a minha mão toca a cama da minha mãe. Sempre que preciso de ter momentos de privacidade com o meu noivo o campo de futebol é a primeira e a melhor opção. Muitos casais chegam a dividir a mesma casa com os seus sogros, e numa casa de Tipo Dois podem viver 17 pessoas”, diz.
Quando querem fazer sexo, segundo Stanley, ela e o noivo transportam os seus colchões, que geralmente são guardados fora das suas residências durante o dia devido à falta de espaço, e em seguida “partem para a aventura passional no campo de futebol”. Segundo conta, o mais difícil é encontrar um lugar para estar a sós pois “há muita demanda”.
Os moradores de Marrianridge, que foram acomodados em 1976 à luz da Lei da Área dos Grupos Raciais do regime do Apartheid, que ditava a divisão das áreas residenciais em função da cor da pele, acreditam que não há nada de errado ao praticarem sexo no campo, acrescentando que este problema poderá ser ultrapassado caso o Governo lhes conceda casas do RDP, Projecto de Desenvolvimento Residencial.
Protestos violentos
Nas últimas três semanas os moradores do bairro mestiço de Mariannridge têm protestado violentamente contra as más condições de vida, com destaque para problemas de habitação, bloqueando as ruas e queimando pneus, arremessando pedras e vandalizando os semáforos.
“Praticar o acto sexual a céu aberto e nos locais públicos só pode ser eliminado com a entrega de casas aos moradores”, diz um dos cartazes por eles erguidos. O líder do bairro, Brain Charles, afirmou recentemente à imprensa que entre 11 e 17 pessoas estão acomodadas em cada uma das residências, que possuem no máximo dois quartos.
Charles acrescentou ainda que maior parte dos casos de gravidezes entre adolescentes ocorre nos locais públicos como é o caso das escadas das residências e campos de futebol.
Por seu turno, o porta-voz do Município, Thabo Mofokeng, garantiu que a questão da falta de habitação em Mariannridge está a ser resolvida. “Três áreas para novos projectos residenciais já foram identificadas e as obras iniciarão brevemente,” afirmou Mofokeng.
Thabo Mofokeng adiantou ainda que um concurso público para o estudo da viabilidade do referido projecto está para ser lançado. Segundo a fonte, um projecto do género leva mais de três anos, mas o município e o governo provincial chegaram a um entendimento para que se respeitassem todas as fases da empreitada, que prevê a construção de cerca de 500 casas.
“O vereador da área das habitações, Ravi Pillay, já informou aos moradores sobre a existência de fundos para a reabilitação das residências. O trabalho para a resolução dos problemas de Mariannridge já iniciou. O que há é a falta de comunicação com os moradores. A equipa é composta por 15 pessoas, incluindo os moradores, quadros do governo provincial e do município destacados para trabalharem neste projecto,” garantiu Mofokeng.