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OBITUÁRIO: Blanca Varela 1926 – 2009 – 82 anos

Sobre ela, Octávio Paz, o grande escritor mexicano do século XX e Prémio Nobel da Literatura, escreveu: “Blanca Varela é uma poetisa que não se compraz com os seus achados nem se embriaga com a sua lírica. Com o instinto do verdadeiro poeta, sabe calar-se a tempo.” Já então o autor mexicano observou que o elemento fundamental da poesia de Varela era o silêncio. Blanca Varela, que faleceu no passado dia 12 na sua casa de Lima, no Peru, contava 82 anos de idade e deixa uma memorável obra lírica universalmente reconhecida, tendo recebido inúmeros galardões por ela.

“Sempre me senti próxima do vazio. O que calo é precisamente o que sinto”, comentou Blanca, pouco depois de ter recebido o Prémio Octávio Paz, em 2001, o mais importante no que diz respeito à poesia em língua castelhana.

Em Maio de 2002, na entrevista concedida à agência de notícias EFE, a propósito da publicação da sua obra completa num volume intitulado ‘Onde tudo termina’ a grande escritora peruana assegurou que os seus versos brotavam “do maldito castigo da perda, do abandono e da tristeza” que sempre havia sentido. Varela reafirmou o sentimento da sua caneta ao dizer que o seu livro reflectia a alma de uma mulher “rebelde porque o mundo é injusto.” Nesse sentido, a poesia não é uma vocação, mas sim uma “devoção, em que se saldam contas com Deus”, confessou a poetisa. Sobre a sua relação com a igreja revelou um episódio curioso: “Um dia um sacerdote, durante a minha confissão, disse-me que se continuasse a ler Emile Zola não me absolvia os pecados. Foi então que resolvi afastar-me da Igreja”, um distanciamento que durou longos anos até ao falecimento de um dos filhos.

Blanca Varela, que nasceu em Lima, Peru, em 1926, iniciou-se na poesia quando ingressou na Universidade de San Marcos (Lima) para estudar Letras e Ciências da Educação. Alguns anos mais tarde rumou a Paris, onde conheceu Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Michaux e Alberto Giacometti, tendo ainda privado com o círculo de intelectuais latino-americanos e espanhóis radicados em França. Passou ainda por Florença e Washington, cidades onde se dedicou a trabalhos jornalísticos e de tradução.

Varela, que escrevia poesia desde os 20 anos, reconhecia que a sua obra não era muito extensa e confessou que necessitava, de quando em vez, de voltar aos seus poemas iniciais “para que sempre sejam meus e não uma realidade distante.” Entre as suas principais obras contam-se: ‘Este puerto existe’ (1959), ‘Luz de día’ (1963), ‘Valses y otras confisiones’ (1971) e ‘Canto Vilano’ (1978).

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