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Fazer da escola um local de exaltação da cultura

Fazer da escola um local de exaltação da cultura

Raquel Chuquela, actual directora da Escola Primária Completa Unidade 19, no bairro do Aeroporto A, cidade de Maputo, é uma mulher que, para além do ensino, se revela apaixonada pela cultura, principalmente pela dança tradicional Makwaela, praticada na região Sul de Moçambique.

Raquel Edina José Chuquela, de seu nome completo, de 50 anos de idade, reside na Matola-Rio e é mãe de dois filhos. O seu sonho era ser arquitecta, mas quis o destino que ela fosse parar ao mundo da dança tradicional.

Mas porque no país havia um défice de professores e ela já tinha frequentado o curso, optou por abraçar a carreira da docência, em 1985. “Não me sinto perdida, estou numa boa área. Gosto de transmitir conhecimentos e quando o faço aprendo cada vez mais”.

Mas voltando à dança, a primeira vez que Edina José Chuquela subiu ao palco foi aos 13 anos de idade. Dançava Makwaela. Desde então nunca mais parou e, porque se considera apaixonada por aquele ritmo, decidiu criar um grupo cultural, composto por 30 membros, o qual pratica diversos tipos de dança, tais como o Xigubo, Makwaela, Marrabenta, Xingomana, para além de encenar peças teatrais que retratam o quotidiano dos moçambicanos e de carácter cívico.

“Eu sou pela valorização da cultura, em todos os sentidos. É necessário que a preservemos, pois só ela nos identifica. Um povo sem cultura não pode ser tratado como tal”, considera Raquel Chuquela, que durante a juventude era frequentadora assídua da Casa da cultura do Alto-Maé, onde assistia a diversos espectáculos e saraus culturais na companhia dos pais, que também eram apreciadores da dança e dos cantos tradicionais.

Foi exactamente nessas ocasiões que ela tentava dar os primeiros passos ao som de instrumentos musicais como a timbila e o batuque. Em 2005, sentiu que já era chegada a altura de criar um grupo cultural, e a sua primeira experiência foi na Escola Secundária Estrela Vermelha, onde era professora. O conjunto denominava-se Grupo da Paz e Amor.

Em meados de 2008 foi nomeada directora da Escola Primária Completa Unidade 19, localizada no bairro do Aeroporto “A”, na cidade de Maputo, função que desempenha até hoje.

“Os meus pais contribuíram bastante para aquilo que sou hoje”

Ainda na juventude, segundo relata a nossa interlocutora, os pais aconselhavam-na a criar ou a abraçar um projecto cultural, uma vez que talento é o que não lhe faltava. E como forma de materializar o desejo dos progenitores, uniu o útil ao agradável e hoje está com os seus alunos na escola e no grupo cultural.

“Eu reuni um número considerável de alunos, os quais passaram a aprender a executar danças tradicionais típicas de diversos cantos do país, a encenar peças teatrais, a declamar poesia, entre outras manifestações socioculturais. Por exemplo, as nossas peças teatrais têm a componente de educação cívica. Explicamos às pessoas como evitar a malária, a cólera, entre outras doenças”, explica.

Para dar corpo e criatividade ao conjunto, Raquel convidou o Grupo Cultural da Mafalala para juntos trabalharem de modo a tornar a cultura um veículo de sensibilização das comunidades em torno de diversos assuntos, tais como doenças infecto- contagiosas que continuam a matar em Moçambique.

“Sinto-me satisfeita uma vez que o meu amor e a admiração pela cultura têm crescido a cada dia que passa. A dança, o teatro e outras formas de exaltação da identidade moçambicana fazem-me sentir completa e feliz”, comenta.

Quando Raquel pensou em criar o grupo cultural, no lugar de convidar artistas de renome, achou melhor usar os seus formandos, também seus alunos, para abrilhantarem as cerimónias de abertura do ano lectivo, entre outros eventos organizados pela escola.

Depois de ter criado o primeiro grupo na Escola Secundária Estrela Vermelha, “vi e senti que poderia fazer mais. Constatei que contribuiria para o resgate da valorização da escola (e não só) através da cultura. Os alunos têm de fazer parte da escola, participar em actividades culturais, recreativas, e mais”.

Para Raquel Chuquela, a cultura alimenta e engrandece o seu espírito, pois é através dela que se expressa com maior facilidade e procura despertar no seio da sociedade a necessidade de os moçambicanos serem verdadeiros embaixadores e defensores do que é nosso.

Um grupo promissor

O grupo cultural da Escola Primária Completa Unidade 19 é composto maioritariamente por adolescentes e jovens. Segundo Raquel Chuquela, os seus pupilos vêem na representação e na dança uma forma saudável de brincar educando as pessoas nos mais variados domínios da vida.

O teatro é uma forma de comunicar com os outros, por isso a sua importância é, diga-se, imensurável. “Apesar da idade, fui e continuo a ser uma grande dançarina. Em 1975 pertencia ao Grupo Cultural do Alto-Maé, na companhia de Mário Guerreiro, David Kangwa e outros, na altura pilares daquele movimento cultural”, recorda, e afirma que é chegada a altura de passar o testemunho aos mais novos, particularmente aos alunos do estabelecimento de ensino do qual é professora e directora.

Actualmente, o grupo tem feito apresentações internamente, mas espera-se que nos próximos tempos actue em diversas escolas da capital moçambicana. Com efeito, acredita-se que a iniciativa possa impulsionar o desenvolvimento e gosto pela cultura.

Preservar o que é nosso…

Para a nossa interlocutora, as crianças, os adolescentes e jovens devem ser conservadores e preservadores da história, dos hábitos, e costumes do povo moçambicano.

“Não podemos permitir que a globalização suplante a nossa rica diversidade cultural. É necessário que façamos um bom uso da globalização. Dela devemos tirar proveito do que é bom e deixar de lado o que põe em causa a nossa identidade cultural”, termina.

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