A sociedade civil da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) exige medidas concretas destinadas a acabar com a fome neste bloco, onde se estima haver perto de 28 milhões de pessoas desnutridas, do total de cerca de 223 milhões de habitantes.
Constituída por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, a CPLC reúne-se ,esta semana, em Maputo, na sua IX conferência de Chefes de Estado e de Governo dos países membros, cujo tema principal é a segurança alimentar e nutricional.
Diversas organizações da sociedade civil dos países membros encontram-se reunidos em Maputo a produzir propostas sobre os caminhos que poderão culminar com a eliminação da fome na comunidade.
“Não basta aprovar leis e estratégias. É preciso ir ao cerne do problema. É preciso produzirmos comida suficiente para alimentar os nossos povos”, disse a directora da organização moçambicana Mulher Género e Desenvolvimento (MuGeDe), Saquina Mucavele, falando em nome da Rede de Organizações para Soberania Alimentar (ROSA).
Mucavele disse que a segurança alimentar e nutricional depende, em larga medida, de investimentos na agricultura, particularmente nos países pobres, onde a produção de alimentos ainda é muito baixa. Ela apelou aos governos a alocarem mais investimentos para a produção de comida.
“Não podemos continuar a oferecer ao mundo pessoas esfomeadas”, disse ela. Estatísticas indicam que perto de um bilião da população mundial padece de fome, sendo a situação mais crítica nos países pobres, onde ainda persiste o problema da fraca produção e produtividade de alimentos.
Particularmente, perto de 28 milhões de pessoas da CPLP são desnutridas, sendo Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste os países mais problemáticos, com 44 por cento, 37 por cento, 31 por cento e 23 por cento da taxa de desnutrição, respectivamente. Estes são, igualmente, os estados com elevados índices de desnutrição infantil.
Falando no encontro, a Coordenadora da Organização Mundial da Agricultura e Alimentação (FAO) para o direito a Alimentação, Bárbara Ekwall, disse que a questão que se coloca é que a produção mundial de comida aumentou nos últimos anos mas, paradoxalmente, há cada vez mais pessoas padecendo de fome.
Outra questão paradoxal é o facto de 50 por cento das pessoas padecendo de fome serem pequenos produtores. Por isso mesmo, Ekwall defendeu que a abordagem do problema de fome no mundo merece uma desagregação das estatísticas globais.
Mas a questão crucial do momento é que, para além da produção, o problema da fome tem também a ver com o difícil acesso das pessoas aos alimentos, o que passa pelo envolvimento dos governos na melhoria desse acesso.
Na reunião desta Terça-feira, as diversas organizações da sociedade irão produzir uma declaração final sobre as suas visões, documento que será submetido ao Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP para a sua posterior apreciação durante a conferência dos Chefes de Estado e de Governos desta comunidade, que arranca já na próxima Sexta-feira.
Outros encontros paralelos que decorrem em Maputo são a reunião dos Embaixadores da CPLP e da FAO, que também produzirão documentos a submeter para apreciação dos Chefes de Estado e de Governo.