O homem que no Domingo, num comício em El Fasher, capital do Darfur do Norte, arvorava, literalmente, a espada contra o Ocidente em geral e a América em particular, é o cérebro de um genocídio que já fez, nessa mesma região martirizada do Darfur, mais de 300 mil mortos e três milhões de deslocados. Omar al Bashir é o seu nome e ocupa o cargo de Presidente do Sudão, nada mais nada menos que o maior país de África.
A sua reacção, violenta em gestos e em palavras, deve-se à recente sentença decretada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) para que Bashir, à semelhança de Milosevic ou de Charles Taylor, se sente no banco dos réus em Haia. Razões não faltam. Contra ele, o TPI formulou sete acusações: cinco por crimes contra a humanidade (assassinato, extermínio, deportação forçada, tortura e violação) e duas por crimes de guerra (ataques a civis e saques). Bashir já reagiu violentamente expulsando de imediato do país treze organizações de ajuda humanitária que actuavam no Darfur. Quem sofre é o povo, que se vê cada vez mais privado de auxílio. A embaixada dos Estados Unidos, inimigo ancestral, reduziu ao mínimo o seu pessoal. África está a demorar a reagir, mas o Rei dos Rei, Khadafi, já disse que esse assunto dizia respeito ao Sudão, acusando o tribunal de dois pesos e duas medidas e de falta de isenção. Porque será que África demora sempre muito tempo a reagir quando o assunto diz respeito a direitos humanos? Não será por poucos terem as mãos limpas nesta matéria? Deste modo, os seus líderes preferem encobrir-se uns aos outros receando que alguém se dê ao trabalho (e que trabalho!) de conseguir apanhar o fio à meada. Os crimes são tantos e tão graves que parece não haver ponta por onde pegar. É, seguramente, um trabalho hercúleo mas que urge começar. Sugiro que, para não ferir susceptibilidades, se comece pelos que já caíram em desgraça e se encontram exilados. Vou dar uma dica: um está em Dacar e governou o Chade o outro está em Harare e comandou os destinos da Etiópia. Porque, como um dia disse Desmond Tutu, “a falta de Justiça é a última responsável pela ausência de paz.” Ainda que muitos considerem que a Justiça nas relações internacionais possa ser contraproducente para a paz, a realidade poderá revelar-se bem contrária. Separe-se, de uma vez por todas, a diplomacia da Justiça.
Nota: A maior competição de futebol cá do burgo continua a padecer de um mal que parece estar brutalmente enraizado: a desorganização. Na edição anterior suamos as estopinhas para retirar qualquer informação sobre os 14 clubes que a compõem. Um trabalho que normalmente leva um a dois dias a ser efectuado, neste país demora 15 dias! E, mesmo ao fim deste tempo, não conseguimos reunir toda a informação que desejávamos passar ao leitor. Cúmulo dos cúmulos: 15 dias após o sorteio ainda não havia calendário dos jogos disponível para imprensa! A táctica da batata quente foi amiúde utilizada, tanto pela Liga como pelos clubes, para escudar a ineficiência. Deste modo, ainda o campeonato não tinha dado o seu pontapé de saída já o leitor estava a perder.