Nos primeiros anos pós-Independência, poucos ex-desportistas entre nós se “aventuravam” a liderar clubes ou agremiações desportivas. O privilégio ia para pessoas ligadas ao poder e para os empresários. Seguiu-se o período das integrações e as direcções das empresas “abocanharam” clubes, associações e federações. Hoje verifica-se um interesse de ex-atletas, que, não sendo “magnatas” nem “mecenas”, conseguem aliar ao conhecimento de praticantes alguma estabilidade económica e, com prestígio e respeito conquistados, vão sendo indicados para dirigir as “suas” antigas modalidades. As equipas directivas normalmente são mutifacetadas, envolvendo juristas, economistas, políticos, homens de negócios e ex-colegas das práticas desportivas.
Óscar de Carvalho, Nuro Americano, Cândido Coelho, Nuno Narcy e Aníbal Manave, terão sido algumas das honrosas excepções de desportistas de eleição que tiveram a coragem e a oportunidade de avançar para cargos directivos, nas primeiras décadas de vida do nosso país. Por essas alturas, a Federação de Futebol estava entregue ao “histórico” Ferdinand Wilson, a de boxe a Jorge Amade, o Comité Olímpico a Fernando Ganhão e as restantes modalidades aglutinadas numa estrutura, denominada Federação dos Desportos, dirigida por Óscar Fernandes.
Ao longo dos anos foram passando pelo basquetebol, Cláudio Nhandamo, Manuel Durão e Freitas Branco; pelo futebol, Manuel Jorge, David Come e Mário Guerreiro; pelo atletismo, Txuza e Aurélio Lebon e pelo boxe Rui Matias, Momad Jossub, Ikbal Gani e Samo Gudo. Na direcção dos clubes, à memória vêm-nos nomes como os de Augusto Mateus, Américo Fumo, José Luís Cabaço, Comandante Bacelar, Ilídio Dinis, Boaventura Chirindza e outros, sem historial desportivo que se (re)conheça.
ELITE COM O “CHEIRO” DO BALNEÁRIO
Sarifa Magid
Como atleta não atingiu grande notoriedade, mas desde sempre demonstrou grande amor pelo atletismo. Enquanto praticante, as suas especialidade eram o salto em comprimento e as corridas de velocidade, situando-se, em regra, logo a seguir aos lugares do pódio. Treinou vários anos e fez imensas provas em representação do Ferroviário. As suas preocupações pelos estudos terão, então, interferido no sonho de metas mais ambiciosas.
Hoje, a Professora Doutora Sarifa Magide é um quadro superior da docência moçambicana, muito prestigiada e solicitada nos fóruns académicos. Mas ainda lhe sobra tempo para liderar o atletismo, cuja participação já vai no 2.º mandato, com obra feita apesar dos momentos difíceis que a modalidade atravessa.
Ilídio Caifaz
A sua altura, a roçar os dois metros, denuncia-o com o ex-basquetista, que agora tem nas mãos os destinos da modalidade. Foi uma estrela que “roçou” a primeira linha, tendo actuado por várias vezes na Selecção Nacional, como “poste” muito requisitado. Em tudo o que fazia em campo, a sua entrega era notória. Lutava que se fartava e não se fartava de lutar.
Hoje? No reino da gravata, é um reputado quadro no Ministério do Trabalho, mas é com a mesma convicção que nos campos lhe permitia os “smaches”, que enfrenta as duras batalhas, tanto profissionais como as da direcção da modalidade.
João Luís Caldeira
Muito jovem, como professor secundário, foi para Cuba leccionar na Escola Samora Machel, Ilha da Juventude. O “vírus” do boxe entrou-lhe por lá, tendo realizado muitos jogos e não menos treinos. De regresso ao país, foi tempo para dar livre curso à paixão sua desportiva, realizando alguns combates. Porém, rapidamente foi chamado a desempenhar funções directivas, tendo assumido a pasta de secretário-geral e, mais tarde, a de presidente da Associação de Boxe da Cidade de Maputo, além de árbitro credenciado.
Paralelamente, fez-se piloto-aviador, função que vem desempenhado de há uns anos a esta parte. Com muitos dos “carolas” do boxe como seus ex-alunos de Cuba, a sua eleição para presidente da FMBoxe acabou sendo algo muito natural, aglutinando as boas vontades e interesses dos formados na terra de Fidel Castro, aliados aos que por cá adoram a chamada nobre arte.