Em Moçambique, a massificação do desporto tem sido agenda principal dos que querem mostrar ao mundo que têm vontade de fazer alguma coisa. O facto é que esse intento perde-se na hora de se conciliar com a prática. Concretamente abordando o futebol feminino, Moçambique recebeu e organizou os décimos Jogos Africanos e perdeu nas duas partidas que disputou. A primeira foi pela margem mínima (1-0) frente aos Camarões. A segunda foi uma goleada (7-1) contra uma talentosa formação argelina. Embora os resultados não tenham sido prometedores, algumas vozes emergiram para dizer que os Jogos Africanos de Maputo constituíam um marco com vista a um futuro brilhante para o desporto moçambicano.
Nesta semana, o @Verdade visitou a zona de Beleluane, distrito de Boane, e descobriu uma equipa de futebol feminino demasiadamente esquecida para aquilo que são as lições deixadas pelos Jogos Africanos.
A mesma é treinada por Danilo de Nascimento Nhantumbo, docente de Educação Física na Escola Secundária Nelson Mandela em Beleluane.
Em conversa com a nossa equipa de reportagem Danilo fez saber que teve a ideia de formar uma equipa de futebol no âmbito das suas aulas de Educação Física de onde descobriu estes talentos de sexo feminino e com vontade de avançar com o futebol, isto em 2006. Na altura a equipa chegou até a disputar vários torneios distritais e provinciais que envolveram apenas escolas o que não foi suficiente para avaliar o grau de competitividade da sua equipa e a qualidade das atletas aliados ao facto de ainda, na altura, o futebol feminino constituir de certo modo um tabu.
Apesar de ter uma equipa formada e com vontade enorme de atacar o futebol federado, Danilo conta que desde a época em que decidiu criar um combinado com estas características nunca foi chamado a competir num torneio de grande envergadura e/ou regular como são os campeonatos provinciais. Hoje, só faz apenas jogos amigáveis de rodagem aos sábados apenas para se certificar de que realmente tem uma equipa feminina de futebol.
As dificuldades
Danilo revelou-nos que nunca teve patrocínio e que vive a improvisar para aguentar com a equipa. Cita, como dificuldades, os torneios em que é chamado a participar e equipa viaja apertada em semicolectivos comuns, vulgo chapas custeados pelo próprio bolso das jogadoras. Aliás, neste capítulo de patrocínio foi revelado pelo nosso interlocutor que várias portas já foram batidas desde 2006 e até hoje nenhuma se abriu para ajudar ficando apenas nas promessas.
As suas jogadoras passam por maus bocados. Algumas não aguentam e desistem. Sobre isso Danilo sente-se frustrado devido ao fracasso dos seus propósitos de formar uma equipa capaz de disputar grandes torneios, como também ao número de talentos que se perdem pelo esquecimento a que é votado o futebol feminino. Algumas porque abandonam a sua escola.
Sobre o material desportivo como bolas, campo e equipamentos, ficámos a saber que a equipa de Danilo usa os meios da Escola Secundária Nelson Mandela devido ao facto das jogadores serem alunas daquele estabelecimento de ensino. Outro material pontual como apitos, é pessoal do próprio docente.
Sugestões
Na óptica do professor Danilo, este país precisa mais de seriedade para com o futebol feminino e tem que olhar mais para o aspecto da formação nas escolas para tornar possível a modalidade no país.
No seu entendimento, as Associações Provinciais de Futebol e as Direcções dos Desportos Distritais deviam aproximar-se às escolas de modo a saber o que por lá se passa pois é nas unidades de ensino onde há mais talentos no futebol feminino por aproveitar. Portanto, devem ser alocados mais meios para que se possa tornar sustentável a modalidade. Outrossim, apela aos clubes para que trabalhem mais com as escolas pois o sucesso do desporto feminino depende de e engrandece a todos como forma de evitar o descalabro de Setembro passado.