O governo moçambicano está a trabalhar com os parceiros de cooperação no sentido de conseguir, ainda no ano em curso, capacidade adicional destinada a conferir maior celeridade ao processo de desminagem na Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), para livrar o empreendimento das minas ali implantadas.
A hidroeléctrica está densamente minada, com artefactos colocados pelo exército colonial português e, segundo informações do Instituto Nacional de Desminagem (IND), os arquivos militares dão conta de um total de 65 mil minas semeadas no solo do empreendimento de elevado valor económico para o país.
Porém, desde o arranque das actividades em meados de 2010, foram até então removidas e destruídas mais de 10 mil minas antipessoais, aliviando, embora que de forma parcial, o perigo às comunidades locais, cuja subsistência reside fundamentalmente na agropecuária.
Belchior Martins, Chefe do Departamento de Operações do IND, disse que os contactos em curso com os parceiros que trabalham com a sua instituição, assim como a própria “Halo Trust”, Organização Não Governamental (ONG) encarregue de desminar aquela área e a província central de Tete, em geral, visam melhorar a actual abordagem operativa.
A necessidade de melhorar ainda mais a operatividade no processo de desminagem, para livrar o empreendimento dos milhares de artefactos deriva, por um lado, do facto de sobrarem só dois anos para o fim do período de prorrogação do prazo (2014) solicitado pelo país, ao abrigo da Convenção de Ottawa, mas por outro lado porque o curso das actividades está abaixo do ideal desejado.
“Não estamos muito adiantados na desminagem da Cahora Bassa. A avaliar pelo que fizemos, se fizermos uma conta de rácio tendo em conta o progresso mensal ou anual e ver se até 2014 concluímos, confesso que não acabaríamos”, disse Martins.
A capacidade actual da Halo Trust não é suficiente para garantir um avanço satisfatório, para que em 2014 estejam removidas todas as minas ali implantadas.
Segundo a fonte, os trabalhos de desminagem contemplam um ringue cuja extensão máxima é calculada em 32 quilómetros. Até ao momento, as equipas no terreno concluíram aproximadamente 60 por cento de um raio de 11 quilómetros do campo de Nhanchenje, quase metade do ringue minado.
A operação, segundo Martins, já dura há cerca de 14 meses e se durante este período não foi possível concluir 11 quilómetros não será possível acabar os 32 que perfazem a extensão máxima até 2014, daí a necessidade de haver capacidade adicional não só a nível de recursos humanos e materiais, mas também financeiros.
“Se a capacidade adicional necessária não vier, temos de ver se os recursos financeiros existentes a nível nacional permitem lançar concursos de desminagem para certas partes do troço que achamos que podem ser desminadas por operadores nacionais”, explicou a fonte.
A desminagem na Hidroeléctrica de Cahora Bassa não é nada simples dado, em parte, a complexidade do relevo caracterizado por muita vegetação, montanhas e rochas, situação que na maioria dos casos deixa às vistas e, segundo relatos das comunidades, tem provocado muitos acidentes ao gado dada a grande densidade de minas ali implantadas.
Desta feita, há, segundo Martins, áreas que têm de ser novamente pesquisadas, porque apesar de terem sido desminadas no passado estão a ser encontradas minas.
A cerca de rede colocada para definir e proteger a área minada já não existe, em consequência da erosão e outros factores humanos.
“Por isso, o trabalho já não pode ser feito de forma linear como se as minas estivessem dentro da cerca, porque ai seria apenas uma questão de as recolher. Agora terá de haver novas pesquisas em muitas áreas, dado que muitas minas saíram do troço normal”, acrescentou a fonte.
O IND está, por conseguinte, a envidar esforços para, ainda este ano, se introduzir lá capacidade adicional, pelo menos em algumas partes, para acelerar o processo mesmo com a Halo Trust porquanto tem óptimos conhecimentos da área.
“Mas precisamos de assegurar primeiro os recursos, porque se fizermos uma conta simples de 400 mil metros quadrados que é a área da barragem e multiplicar por dois dará cerca de um milhão de dólares americanos, valor necessário para desminar aquele empreendimento”, disse Belchior Martins.