Milhares de tchecos escreveram recados de condolências e acenderam velas esta segunda-feira em memória de Vaclav Havel, o dramaturgo que se tornou presidente depois de liderar a “Revolução de Veludo” para derrubar o regime comunista. Um dia depois da sua morte no domingo, aos 75 anos, vítima de uma doença respiratória agravada por décadas como fumante, o governo estava se reunindo para acertar um plano para um funeral estatal que provavelmente atrairá líderes e antigos estadistas da Europa e do mundo. Há pressão para que o funeral aconteça antes do Natal.
Filas formaram-se para assinar o livro de condolências no Castelo de Praga, a sede do poder e onde Havel entrou como presidente em 1989, apenas semanas depois que a revolta pacífica na Tchecoslováquia e a queda do Muro de Berlim anunciaram o fim da divisão da Guerra Fria na Europa.
Outros livros tiveram que ser abertos em prédios do governo em toda a República Tcheca, assim como na Eslováquia, que se separou em 1993. Em Bruxelas, reuniões da União Europeia começaram com homenagens silenciosas para um homem cujas peças foram censuradas por muito tempo e que foi preso várias vezes depois de ter lançado a Carta 77, que em 1977 cobrava ao governo comunista tcheco cumprir seus compromissos internacionais aos direitos humanos.
Ao meio-dia (horário local), as pessoas começaram a fazer fila para passar pelo caixão fechado de Havel num centro cultural que ele havia fundado em uma antiga igreja de Praga. Só a partir de quarta-feira seu corpo ficará no Castelo de Praga – com o qual ele nunca se acostumou, e cuja austeridade medieval ele tentou amenizar enquanto era chefe de estado convidando artistas para se apresentarem ali, incluindo os Rolling Stones.
Um assessor de Havel disse que estava sendo esperada no funeral a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, entre outros. O Seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, tocou saxofone com Havel em um clube de jazz de Praga durante uma visita oficial em 1994.
“VERDADE E AMOR”
Havel morreu no domingo em sua casa em Hradecek, a nordeste de Praga, depois de sofrer uma longa doença respiratória. Ele sobrevivera a cirurgias para extirpar um câncer nos pulmões e a uma operação nos intestinos no final dos anos 1990 que o deixaram fragilizado por mais de uma década.
Em novembro de 1989, apenas seis meses depois de ter completado sua sentença de prisão, Havel liderou centenas de milhares de manifestantes pelas ruas de Praga em um levante pacífico para acabar com quatro décadas de regime patrocinado pelos soviéticos. Havel então se tornou o rosto de uma pequena nação e um símbolo para milhões de pessoas no leste da Europa que exigiam democracia.
Ele foi presidente da Tchecoslováquia de 29 de dezembro de 1989 até 1992, e então da República Tcheca de 1993 até se aposentar, em 2003, quando os tchecos elegeram o economista de livre mercado Vaclav Klaus, com quem Havel frequentemente entrou em choque quando Klaus era primeiro-ministro. O lema de Havel, “verdade e amor vão superar mentiras e ódio”, definiu a revolução para muitos dos 10 milhões de tchecos. Mas conforme passavam os anos pós-comunismo, muitos citavam suas palavras com sarcasmo, à medida que o entusiasmo pelas novas liberdades colidia com a desilusão com os gastos estatais e a corrupção política.