A província de Nampula, no norte de Moçambique, poderá conhecer uma nova dinâmica económica, nos próximos anos, com a execução de vários projectos de exploração mineira.
As autoridades daquela região do país acreditam que a província poderá registar um ritmo de crescimento similar a província de Tete, no centro do país, actualmente considerada a capital moçambicana dos recursos minerais.
Em Nampula estão em curso vários projectos, a maioria dos quais ainda numa fase embrionária. O projecto de areias pesadas de Moma é o maior em execução nesta província e que contribui com uma fatia “considerável” para as receitas do Estado.
Entretanto, a hegemonia deste projecto poderá ser ofuscada com a implementação do projecto de exploração dos fosfatos de Evate, no distrito de Monapo. O projecto, pertencente a multinacional brasileira Vale, deverá consumir cerca de dois biliões de dólares.
A Vale, que também explora carvão mineral em Tete, já investiu cerca de 200 milhões para a implementação do projecto de fosfato.
As reservas de fosfato de Evate são consideradas umas das maiores do mundo, podendo ocupar a terceira posição, o que significa que Nampula deverá entrar na “liga” dos maiores produtores do planeta. Nos últimos dois anos, a Vale realizou trabalhos de prospecção e pesquisa de fosfatos, tendo concluído os estudos geológicos.
Actualmente, estão em curso estudos socio-económicos, incluindo a questão do reassentamento da população local. Após a conclusão desta fase, vão arrancar as obras para a implantação da mina, o que poderá acontecer em 2012.
Comentando sobre o assunto, o director provincial dos recursos Minerais e Energia de Nampula, Moisés Paulino João, disse que “já existe alguma maquinaria no local”.
“Vamos ter a exploração dos fosfatos de Evate no distrito de Monapo. Estes recursos são a maior esperança para província de Nampula, porque com a sua exploração Monapo vai conhecer o movimento idêntico ao de Moatize (Tete). Com a efectivação deste projecto haverá um movimento desusado de empresas subcontratas para dar andamento ao empreendimento”, explicou.
Este projecto, para além de dar uma nova dinâmica social e económica ao distrito de Monapo, e à província de Nampula, no geral, vai ajudar a resolver o problema de fertilizantes no país. O mundo enfrenta, nos dias de hoje, uma escassez de fertilizantes, razão pela qual Moçambique possui um vasto mercado ao seu dispor.
Paralelamente à exploração da mina de fosfato, a Vale vai construir uma fábrica em Nacala-a-Velha para a produção de fertilizantes, cujo início está previsto para 2014/2015. Os fertilizantes produzidos serão exportados para a China (principal mercado), Brasil, entre outros e uma parte para o consumo interno.
“A província aguarda com muita expectativa a implementação deste projecto porque vai mudar a situação de Nampula, tal como o carvão mudou a situação de Tete” frisou.
Outra actividade de relevo em curso em Nampula é a pesquisa de hidrocarbonetos no distrito de Memba, onde se prevê realizar os primeiros furos nos princípios de 2012. A comprovar-se a ocorrência de gás natural, estarão criadas todas as condições para a maximização do projecto de fosfato, afiançou Paulino João.
Na província de Nampula está igualmente a ser implantado o projecto de areias pesadas de Angoche, um projecto pertencente a uma empresa Chinesa, cujos investimentos não foram revelados. Entretanto, a AIM apurou que para as actividades de pesquisa e prospecção foram investidos cerca de 60 milhões USD.
Angoche integra um grupo de três distritos costeiros de Nampula, incluindo Moma e Mongincual, onde foi detectada a ocorrência de jazidas de areias pesadas. Moma foi o primeiro distrito a beneficiar de um projecto de exploração deste recurso, por via da empresa irlandesa Kanmare. Agora chegou a vez de Angoche, que deverá iniciar a produção de zircão, ilmenite e tantalite em 2012.
“As areias pesadas serão implementados por uma empresa chinesa e já estão no terreno a implantar o projecto, havendo indicações de que em 2012 vai iniciar a produção de ilmenite, zircão e outros derivados” frisou.
A exploração do ferro de Lalaua é outro projecto de relevo na província de Nampula. O projecto já foi implantado no terreno, com maquinaria montada e ensaios feitos, esperando-se que em 2012 inicie a primeira exportação, tendo como principal mercado a Índia.
Este projecto da firma indiana Damudar Ferro, avaliado entre 10-15 milhões USD tem um senão: as quantidades de ferro identificadas na mina até ao momento são reduzidas. “A reserva da mina está prevista para cinco anos. Os donos do projecto estão a procura de mais áreas para aumentar as reservas da mina para cerca de 20 anos” revelou.
A província de Nampula também se distingue pela ocorrência de pedras preciosas e semi-preciosas, como turmalinas simples, águas marinhas e ouro. Estes recursos têm atiçado a cobiça de alguns estrangeiros, que incitam cidadãos locais a fazerem o garimpo para depois venderem o produto a preços baixos.
As turmalinas paraíba são o principal atractivo de estrangeiros vindos de países vizinhos, bem como do centro e norte de África. De acordo com o director provincial, a exploração das pedras preciosas e semipreciosas em Nampula já foi muito problemática, pois os garimpeiros ocupavam áreas já concessionadas a privados prejudicando a actividade dos empresários.
“Nos últimos dois anos trabalhamos com as autoridades locais, incluindo a Polícia para repor a ordem nesta actividade. A intenção é que as pessoas que exploram os recursos minerais estejam organizadas. Já temos alguns casos de sucesso. Por exemplo, em Mavuco (localizado entres os distrito de Moma e Mogovolas), onde se fazia o garimpo de forma desordenada, hoje conta com três empresas mineiras de pequena e média escala a operar” revelou.
O interlocutor acrescentou que “estas três fábricas estão a fazer extracção com maquinaria apropriada, processamento em fabriquetas instaladas para o efeito e depois vão exportar o produto”.
Segundo estatísticas apuradas pela AIM, entre 2008 e 2009, cerca de seis mil estrangeiros estavam a trabalhar na extracção ilegal de minerais na região de Mavuco. Esta rede já foi desmantelada. Entretanto, as autoridades reconhecem que o tráfico de minerais continua a ocorrer.
Este ano, foram apreendidas das mãos de estrangeiros duas toneladas de diferentes produtos minerais, sendo grande parte pedras preciosa. As pedras preciosas ocorrem nos distritos de Moma, Mogovolas, Nacala-a- Velha e Lalaua.