O presidente peruano, Ollanta Humala, empossou uma nova equipe de ministros no domingo, em uma reforma que poderá conduzir ao aumento da repressão contra os protestos sociais, mas manterá o atual modelo econômico de livre-mercado no país. Humala, que foi soldado antes de se tornar político, nomeou para primeiro-ministro o ex-militar Oscar Valdés, que foi seu instrutor no Exército.
Valdés assume o lugar de Salomén Lerner, um empresário que ajudou Humala a deixar a sua imagem esquerdista e assim vencer as eleições em junho. Lerner contribuiu para que Humala estabelecesse laços com investidores e comandou os esforços para resolver as disputas sociais por meio do diálogo durante seu mandato, de apenas cinco meses.
Críticos disseram que a promoção de Valdés, que era ministro do Interior, indica que o governo estaria menos disposto a negociar com comunidades rurais contrárias aos novos projetos bilionários no setor de mineração e petróleo, e seria mais rápido em usar táticas autoritárias para intervir no crescente número de protestos. “Não apoiamos a militarização do governo de Humala, que foi eleito democraticamente”, disse o ex-presidente Alejandro Toledo a jornalistas.
Toledo, que foi candidato presidencial neste ano, disse que seu partido, o Peru Posible, se distanciaria do partido governista, o Gana Peru, mas ainda o apoiaria no Congresso, onde tem uma maioria. O Peru Posible detinha dois postos ministeriais, de Defesa e Trabalho, mas decidiu não participar do gabinete após a reforma. “Não temos fé alguma em Valdés”, disse Gregorio Santos, governador da região de Cajamarca, que se posicionou contra a mina de ouro de 4,8 bilhões de dólares proposta pela norte-americana Newmont Mining.
“Ele não está interessado em diálogo no momento em que o governo irá enfrentar conflitos sociais”, disse Santos ao jornal El Comercio. Valdés negou que Humala governaria de forma autoritária, mas afirmou que, como primeiro-ministro, iria pôr ordem no gabinete, que em alguns momentos tem parecido desarticulado e repleto de personalidades conflitantes. “Isso não é uma militarização do governo”, afirmou Valdés na televisão. “Houve erros na coordenação que serão consertados. Esse gabinete trabalhará mais e falará menos.”
Humala declarou estado de emergência na semana passada, medida que deu ao Exército e à polícia forças especiais para derrubar barricadas armadas em localidades do interior contra o projeto Conga, da Newmont. Foi o primeiro indício de que estaria disposto a usar táticas mais duras desde que assumiu a Presidência em julho. Dias depois, a polícia contraterrorista peruana prendeu dois líderes do protesto, ampliando a repressão.