Operários de uma fábrica de capital estrangeiro, na China, entraram em greve, esta Quarta-feira, após uma semana de conflitos trabalhistas em pólos industriais litorais, e a onda de inquietação não dá sinais de que irá diminuir, em meio a crescentes pressões económicas.
A economia chinesa dá sinais de desgaste devido ao endividamento dos governos locais, da drástica redução da demanda externa e da persistente inflação. Para os líderes chineses, obcecados pela estabilidade do país, há grande temor de que uma desaceleração económica leve à demissão de milhões de operários migrantes.
Na fábrica Hi-P International, que pertence a cingapurianos e fica no leste do delta do Yangtze – importante região industrial próxima a Xangai -, centenas de trabalhadores decidiram parar as máquinas durante uma semana, por causa da sua preocupação de que uma possível transferência da fábrica provoque demissões em massa.
Os operários da Hi-P, empresa que fabrica produtos para a Apple e a Research in Motion (fabricante do BlackBerry), apresentaram abaixo-assinados exigindo indemnizações, e entraram em confronto com a polícia depois de bloquearem o embarque de equipamentos pesados.
“A conscientização dos trabalhadores quanto aos seus direitos cresceu”, disse Li Qiang, director da entidade trabalhista China Labour Watch, com sede nos EUA.
“Para o governo chinês, é muito perigoso se eles não resolverem o problema dos trabalhadores (…). Eles não podem simplesmente construir um muro para conter a enxurrada, eles precisam de encontrar uma forma de desviar o rio antes que ele transborde, resolver essa crescente pressão.”
Na próspera Shenzhen, no sul, quase mil operários também promoveram uma greve, por causa da redução de tradicionais benefícios desde que a fábrica em que eles trabalham foi adquirida pela Hitachi, maior empresa japonesa de produtos electrónicos.
Em nota, a Hitachi disse que a empresa está a negociar com representantes dos trabalhadores, e assegurou que seus direitos e benefícios serão respeitados.
Os trabalhadores estão desesperados em garantir os seus empregos e salários antes da pausa anual do Ano Novo Lunar, em janeiro, quando muitos operários migrantes regressam para as suas remotas aldeias.
Esses empregos estão sob pressão por causa dos esforços de industriais e exportadores para reduzirem custos, em resposta à redução das encomendas do Ocidente, especialmente da endividada Europa.
Nos últimos meses, um surto de greves em grande escala e bem organizadas afectou fábricas de várias marcas globais, como Pepsi, Citizen e Yue Yuen (calçados).