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Maputo: quem te abraça não te larga mais

Maputo: quem te abraça não te larga mais

O título roubámo-lo à bela música de Hortêncio Langa. E ele tem muita razão. Maputo é uma cidade festiva, tanto em termos arquitectónicos, como no aspecto ritmico-social. A capital de Moçambique desempenha também – por ela mesma – as funções de museu, porque oferece, ao regalo dos olhos, um tempo que as próprias décadas, que ultrapassam os cem anos, não vão conseguir apagar, nem do chão físico, muito menos da memória registada e não registada

. Será sempre um espectáculo arrebatador, entregarmo-nos às ruas de uma das mais lindas cidades da África e andar à toa. Descer pela baixa, onde as antigas construções nos conquistam, subindo depois zona alta acima, para, no desenvolvimento seguinte, deslizarmos até ao espaço dos novos-ricos que se ergue na Costa do Sol, indo depois ao Belo Horizonte, local de sonho. A cidade de Maputo não será considerada – por enquanto – um local de crime violento, comparativamente àquilo que se assiste pelo mundo fora, mas uma urbe sedutora. Quer dizer, quem vem para aqui não quer sair mais.

Uma das grandes atracções que levará Maputo ao mundo, é, sem sombra de dúvida, o projecto da Xefina, uma infra-estrutura avaliada em cerca de três milhões de dólares, que visa recuperar as ruínas existentes para transformá-las num local de atracção turística com alojamento, restaurantes, lojas, entre outros empreendimentos de interesse.

Há uma grande expectiva relactivamente a esta construção, porque, segundo os seus projectores, poderá desempenhar um grande papel, em termos de atracção nesta área, particularmente em 2010, quando se efectivar o Campeonato Mundial de Futebol. Outro projecto é a construção de um hotel de cinco estrelas no recinto do Centro de Conferências Joaquim Chissano.

Mas na baixa da cidade de Maputo – discretamente – está instalado o Museu Nacional da Moeda. Será, provavelmente, o edifício mais antigo de Maputo, capital de Maputo e actualmente é administrado pela Universidade Eduardo Mondlane.

Construído em 1787, foi das primeiras edificações em pedra-e-cal a existirem na feitoria de Lourenço Marques. Quando a região circundante passou a ser governada por um Governador de Distrito, já na segunda metade do século XIX, este edifício passou a ser a sua residência oficial e, mais tarde, a albergar ainda a secretaria do governo e a repartição de fazenda.

A Casa Amarela é um edifício de um único piso, em forma de L, com um pátio interior. Não possui telhado e tem as paredes exteriores, pintadas de ocre, rasgadas por grandes janelas que chegam quase ao chão.

O Museu da Moeda de Moçambique possui um acervo de material que retrata a história, não só do país, como da região, desde há vários séculos. Aqui se encontram os búzios ou cauris e as aspas de ferro que serviram de moeda durante o tempo dos impérios bantu, como o dos Mwenemutapas. Pode igualmente ver-se o antepassado da actual moeda de Moçambique – o Metical – que era uma ráquis de pena de pato cheia de pó de ouro.

Para além destas “moedas” antigas, encontram-se também as libras emitidas pelo Banco da Beira, associado à Companhia de Moçambique, as notas e moedas usadas durante o período colonial, pode apreciar-se a “evolução” (leia-se depreciação) da moeda nacional e ainda colecções de moedas de vários países de todo o mundo.

Estacão dos
caminhos-de-ferro

A Estação Central dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique, na cidade de Maputo, foi escolhida pela prestigiada revista norte-americana “Newsweek” como a sétima mais bela do mundo, num “ranking” que incluiu todas as infra-estruturas do género em todo o mundo, das mais “modestas” às mais famosas.

A pesquisa da “Newsweek” tomou em consideração o traçado arquitectónico e o seu nível de conservação, algo que, no caso da imponente obra, casa a história com o empenho da instituição que a tutela, a empresa Portos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique, em conservá-la.

A estação ferroviária de Maputo é uma obra secular concebida pelo arquitecto francês Gustave Eiffel, célebre por ser o criador de várias obras no mundo e que têm como traço comum o uso do ferro na sua execução. O seu nome ficou eternizado – e projectado – pela famosa torre parisiense que leva o seu nome.

Em Moçambique, as obras de Gustave Eiffel não se ficam pela estação ferroviária que é também património da cidade de Maputo. Foi o francês que concebeu também a Casa de Ferro, implantada nas proximidades do jardim botânico Tunduru e em que funciona hoje uma direcção do Ministério da Cultura.

A estação central dos Caminhos-de-Ferro foi inaugurada em Março de 1910, dois anos depois do início da sua construção. Contudo, a imponência com que se lhe conhece hoje só se verificaria a partir de 1916.

Hoje, para além de estação ferroviária por onde passam milhares de passageiros e mercadorias de e para Maputo (também para os vizinhos Zimbabwe e África do Sul), é também um local de cultura. Nela, vários eventos de carácter cultural e artístico têm sido promovidos, ao mesmo tempo que a empresa que a tutela (CFM) agenda implantar nela um museu ferroviário.

A mais bela estação ferroviária do mundo é, segundo a revista Newsweek”, a londrina de St. Pancras, seguida pela nova-iorquina Grand Central Terminal.

Fortaleza de Maputo

A primeira fortificação, de planta quadrangular rodeada por um fosso, teve duração efémera, vindo a ser arrasada, no contexto das lutas que se seguiram à Revolução Francesa, por três embarcações artilhadas de corsários franceses, em 26 de Outubro de 1796. Defendido por alguns poucos homens sob o comando do Governador João da Costa Soares, o pequeno forte foi conquistado, saqueado e incendiado.

Para recuperar a posição destruída, foi remetido da Fortaleza de São Sebastião um pequeno destacamento sob o comando do Tenente-ajudante Luis José, a bordo da pala “Minerva”.

Tendo chegado a Lourenço Marques a 7 de Junho de 1799, instalaram-se “na terra do Capella, defronte do antigo presídio, por o régulo da Matola não ter querido atendê-lo imediatamente”. Ali se mantiveram até cerca de 1805, quando com relativa segurança puderam “passar para o outro lado, que havia sido ocupado anteriormente pelos Holandeses e pelos Austríacos”. Aqui ergueu então uma “pequena habitação fortificada para quartel de tropa e feitoria, onde se arvorasse a bandeira portuguesa, como sinal de posse do terreno, e sem intenção de fazer resistência a qualquer inimigo?. O Governador e Capitão-general de Moçambique, justificou a exiguidade desse estabelecimento “por falta de recursos da província”.

Por volta de 1946, no contexto das celebrações dos Centenários, o forte foi reconstruído sobre os alicerces do primitivo, procedendo-se à conservação da árvore histórica existente junto ao seu Portão de Armas (onde, segundo a tradição os Vátuas, enforcaram o Governador Dionísio Ribeiro, em 1883) e a requalificação das edificações no seu interior como “Museu Histórico de Moçambique”.

Actualmente, nela se encontra instalado o Museu de História Militar, administrado pela Universidade Eduardo Mondlane.

Localizada junto ao Porto de Pesca, a Fortaleza de Maputo apresenta planta quadrangular, erguida em alvenaria de pedra avermelhada. Possui apenas um portão de acesso que se abre para um pátio central, também de planta quadrangular, para o qual se abrem, por sua vez, as várias salas que compõem a edificação. Neste pátio ergue-se actualmente a estátua eqüestre de Mouzinho de Albuquerque.

Do mercado Central

ao mercado do Peixe

O velho mercado da Avenida 25 de Setembro está a pedir cuidados urgentes, mas não há como o evitar num périplo em busca das cores mais vivas da capital. À entrada, numa loja do lado direito, anuncia-se artesanato e outras sortes de quinquilharias que nascem como cogumelos. É uma obra de arte, com um telhado que pode provocar uma tragédia, a qualquer momento. Há muitas udjamas lá dentro, conjuntos escultóricos em pau-preto, representações simbólicas da família, com várias figuras entrançadas em espiral. Rassul Mamade é um comerciante de origem indiana que herdou a actividade da família.

O Mercado Central de Maputo está bem abastecido de simpatia, mas também, obviamente, de fruta, legumes e de uma grande variedade de produtos enlatados, a esmagadora maioria proveniente da África do Sul. Desde manhã cedo que há muita gente a percorrer os corredores entre as bancas, onde sobrevivem balanças que dariam belas peças de museu e humorísticos cartazes a garantir a excelência dos produtos.

Em matéria de mercados, há outro lugar incontornável na capital moçambicana, o Mercado do Peixe, assim popularmente designado já que toda a gente desconhece o outro nome – “A luta continua”. Um cenário popular por excelência: apelos de vendedoras e vendedores, mares de amêijoa e graúdos espécimes piscícolas arrancados aos submarinos viveiros do Índico, pesos e contrapesos, com terceiros a desfazer a dúvida, cantorias daquela lógica de mercado “o meu peixe é maior que o teu”. O tamanho, conta, sim senhor, mas a prova dos nove é da competência das papilas gustativas. Queira o cliente e não há razão para perdas de tempo: ali mesmo, ao lado, uns quantos restaurantes ao ar livre dão trato à peça, mediante o pagamento de uma taxa de serviço.

Xipamanine

Evidentemente que o nosso roteiro não pode terminar por aqui: o mercado do Xipamanine também nos vai apelar, pela sua natureza e história, por tudo aquilo que leva à cabeça e no regaço. Construído num dos bairros mais conhecidos de Maputo, este lugar de compra e venda junta o país inteiro. Pelos produtos que vai expor nas suas prateleiras, pelas culturas que ali se juntam, tornando-o um chamariz irrecusável.

Na zona central de Maputo concentram-se numerosos edifícios de muito valor para o estudo da história da cidade, e algumas ruas conservam ainda conjuntos significativos de imóveis, que recordam os ambientes e as características de um modo de vida urbano, hoje profundamente modificado.

Esta zona é considerada como de Protecção Histórico-Arquitectónica, porque contém os edifícios e os espaços urbanos construídos ou ajardinados mais antigos e significativos para a compreensão do desenvolvimento da cidade de Maputo, e a da sua história.

A parte central de Maputo, que é costume designar-se por “Baixa”, foi o embrião histórico da cidade, a qual cresceu muito lentamente ao longo do século XIX e veio a “explodir” em todos os sentidos no século passado.

Apesar da enorme expansão que se verificou, a “Baixa” continuou a desempenhar a função de “coração” urbano do conjunto. Em parte porque ali continuam a existir dois pólos fundamentais da economia da região e do País – o Porto e os Caminhos-de- Ferro.

Além disso, tinham-se mantido ali, também, o comércio, a maior parte dos escritórios, e alguns serviços públicos, apesar da grande dispersão que se deu paralelamente ao crescimento da cidade.

Ao longo dos anos após a Independência, a Baixa foi, pouco a pouco, readquirindo vitalidade, embora se alterassem ligeiramente algumas das funções anteriores e graças, por outro lado, à valorização de outras, como, por exemplo, a função administrativa, desempenhada pelo Concelho Municipal, pelos Ministérios e serviços público-privados, e a função representativa, realçada pelas manifestações de massas que, quase sempre têm lugar.

A Baixa tem um significado cultural nacional que ultrapassa a simples soma das actividades práticas que ali se desenrolam quotidianamente. É um local representativo, polarizador, e que se pretende viva funcional, agradável. Os turistas não podem deixar de concentrar as suas atenções quando por ali passam.

Torna-se necessário o conhecimento exacto das actuais condições da Baixa, o que se consegue através de inquéritos permanentes que abrangem vários âmbitos, como o estado físico dos edifícios, ruas e outros espaços urbanos; as características da sua utilização; a situação habitacional da população que ali reside; o valor histórico-cultural de edíficios e outros elementos; os problemas relacionados com o trânsito, etc.

Onde comer

Na cidade de Maputo não vão faltar lugares onde se possa ter uma refeição. Desde as simples barracas, aos restaurantes de luxo que se espalham por quase toda a cidade. A nossa capital é cosmopolita e todas as culturas do mundo podem encontrar – cada uma – um lugar para comer nesta urbe. A dificuldade que vai ter – o turista estrangeiro – é encontrar um restaurante que confeccione a variedade gastronómica moçambicana. Os pitéus nacionais rareiam em Maputo, podendo, geralmente, ser degustados em dias especiais, quando se comemora uma efeméride qualquer. De resto, teremos comidas abundantes de outros quadrantes.

Seja como for, Maputo é um espaço turistico privilegiado, que cresce a olhos vistos.

 

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