A presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, deve conquistar a reeleição no segundo turno das eleições esta terça-feira, apesar do seu rival, Winston Tubman, ter prometido rejeitar os resultados após desistir da disputa alegando fraude no primeiro turno. Houve trocas de tiros esta segunda-feira no centro da capital, Monróvia, depois que a polícia antidistúrbios lançou gás lacrimogêneo para dispersar centenas de partidários de Tubman, disse uma testemunha da Reuters.
Um policial liberiano afirmou que tanto a polícia como membros do partido de Tubman dispararam, mas não foi possível confirmar a informação. Dois helicópteros da ONU sobrevoavam a cidade enquanto seguidores de Tubman atiravam pedras nos policiais durante confrontos nas ruas. Jornalistas das Reuters viram várias pessoas feridas, incluindo dois policiais. Um veículo da ONU foi atacado.
A eleição presidencial iria permitir medir o progresso do país do oeste africano desde o fim de uma devastadora guerra civil, em 2003, e pavimentar o caminho para novos investimentos, mas em vez de a eleição abrir portas os temores estão aumentando por causa da enorme agitação política. “Eu vou rezar esta noite para que haja paz para a Libéria”, disse Akisame Johnson, um morador de 50 anos da capital. “O pessoal de Ma Ellen está por toda parte dizendo que é claro que vai ter eleição na terça-feira, mas as pessoas de Tubman veem e dizem que não. As crianças confusas. Nós não sabemos o que vai acontecer”, disse ele no dialeto pidgin local.
Ellen recebeu quase 44 por cento dos votos no primeiro turno, em 11 de outubro, e desde então ganhou o aval do terceiro colocado no pleito, o ex-senhor da guerra Prince Johnson, praticamente garantindo a sua vitória no segundo turno. Mas o seu principal rival, Tubman, ex-diplomata da ONU – que teve cerca de 33 por cento na primeira votação – anunciou na semana passada que iria retirar-se da votação de 8 de novembro e pediu aos liberianos um boicote às eleições por causa de evidências de fraude.
DENÚNCIA DE FRAUDE
“Algo foi feito com os números, eles foram adulterados, eles foram mudados, foram alterados. Essa é a nossa crença”, disse Tubman à Reuters em entrevista no domingo. Tubman afirmou que estava buscando mudanças para o sistema de contagem de votas da Libéria e um adiamento do segundo turno, de duas a quatro semanas, acrescentando que seu partido vai rejeitar os resultados se a eleição for adiante na terça-feira como planejado.
“Acho que no final do dia teremos que avaliar o que é provável que seja melhor para o país: adiar as eleições ou ir em frente com elas de uma maneira que não tem o apoio deste grande partido do país”, disse Tubman. “O impacto sobre a região seria enorme se nós voltássemos aos caos novamente.” Ele disse ter pedido a seus partidários que não sejam violentos no dia da votação.
Observadores eleitorais internacionais que acompanharam o primeiro turno disseram que a votação foi em grande parte livre e justa, e os Estados Unidos, o bloco regional Ecowas e a União Africana criticaram a decisão de Tubman de boicotar o segundo turno. O Conselho de Segurança das Nações Unidas disse no domingo que está “profundamente preocupado” com o anúncio de boicote, e acrescentou que tinha recebido relatórios de que membros do órgão eleitoral nacional da Libéria tinham sido ameaçados. Não foram dados detalhes.
Ellen, que fez campanha na capital no domingo, chamou o boicote de inconstitucional. A Libéria é um dos países menos desenvolvidos do mundo, com mais da metade de sua população sobrevivendo com menos de 50 centavos de dólar por dia. Os 14 anos de confrontos, encerrados em 2003, mataram cerca de 250 mil pessoas e deixaram a infraestrutura nacional em ruínas. Ellen tornou-se em 2005 a primeira mulher chefe de Estado livremente eleita na África, e tem sido elogiada internacionalmente por reduzir a dívida do país e manter a paz. Mas ela enfrenta críticas internas devido ao ritmo lento de desenvolvimento.