O nobre Reitor, dizem as más-línguas, “pensou” num tal currículo de Bolonha e reduziu o tempo de permanência dos estudantes moçambicanos nos estabelecimentos de ensino superior. “Tão bondoso, tão prestável foi o padre Couto”, pensaram os estudantes moçambicanos agradecidos.
No início apregoaram que a introdução deste sistema tinha como perspectiva o melhoramento da qualidade de ensino e a aprendizagem, bem como permitiria a mobilidade e empregabilidade dos estudantes após a formação, além de que iria responder às necessidades do país no melhoramento da qualidade do ensino, bem como garantiria a sua flexibilidade e a aprendizagem.
O certo, diga-se, é que não aconteceu nem uma coisa e nem outra. Quantos licenciados chegam ao mercado do trabalho sem saberem patavina do que ele exige? Temo-los aos montes e não são a excepção que confirma a regra, são mais uma espécie de regra que obriga as pessoas a recorrem aos préstimos de um lupa para encontrar a sempre prestativa excepção.
O problema é que a culpa nem é deles e muito menos do agora burrificado currículo de Bolonha. O yesmenismo, neste país, tem barbas brancas e o maior exemplo disso é esse volte face da UEM.
E assim, a baixo preço, se conforta o moral do estudante. Assim se premiou a sua triste condição de caixas de ressonância e obtusos qualifi cados. Servidores eternos dos interesses dos outros, daqueles que os transformaram em doutorzinhos analfabetos, em funcionários públicos sem voz e nem vez, em cidadãos que não questionam, não refl ectem e nem emitem opinião.
Os estudantes regressaram, depois da boa-nova, à casa sorrindo e a sonharem com um diploma no final de três anos. Porém, algo traía a aparência de reconforto. Porque a formação que lhes ofereciam era um convite para que não pensassem, já se disse, para que aceitassem tudo quanto estudantes de ensino superior veementemente deviam negar. Ou seja, ofereciam-lhes noutros moldes uma formação para perpetuar a incompetência, mas num outro invólucro.
Na verdade, os penosos anos que consumissem no ensino, depois da iluminada ideia, eram nada mais nada menos do que tempo roubado à incomoda obrigação de serem prestativos. Porque haviam sido treinados para serem máquinas, serem desprovidos de capacidade. Para isso serviam os três anos, o estágio e derivados. Para lhes livrar da tentação de se pensarem prestativos.
O senhor Reitor demorou-se escassos anos no cargo e regressou rapidamente ao conveniente estatuto de cidadão, enviando de longe mensagens de estímulo. “Podemos ter licenciados em um ano”, disse-o.
Os estudantes sorveram o currículo que lhes tinham impingido e, pela primeira vez, sentiram náuseas. Contudo, tais náuseas não derivavam do facto de o erro estar no currículo de Bolonha.
O que ninguém diz, no meio desta história toda, é que a ideia do Currículo de Bolonha foi do Governo. Ou seja, o bom do Padre Couto foi colocado na UEM estrategicamente para introduzi-la. Ou vão dizer que a famigerada reforma não vinha decorrendo nos corredores com os devidos cuidados e cautelas obedecendo ao rigor científico?
E que atendia também às condições materiais e humanas da própria UEM. Ou vão dizer que o Gabinete da Reforma não era dirigido pelo Professor Catedrático Manuel de Araújo? Mas como era ponderado nas medidas a tomar foi substituído pelo também Professor Doutor Firmino Mucavele.
Só para avivar a memória, recordemo-nos que Mucavele era funcionário sénior da NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento de África) e foi convidado pelo Chefe de Estado, Armando Guebuza, a retornar ao país com o fito de dirigir a reforma curricular na UEM. Alguém se esqueceu de que Mucavele foi uma das caras mais visíveis que apareceu, em tempos, a defender a aplicabilidade, eficácia e eficiência do sistema PBL-Bolonha?
Por exemplo, o actual reitor e vice na altura da introdução nunca apareceu publicamente a contrapor argumentos. Portanto, esse mea culpa demonstra apenas que as universidades públicas não têm autonomia intelectual e científica e que são geridas por quem nomeia e demite os respectivos reitores. A lógica é a seguinte: “Vou-te nomear para o cargo X e vais auferir Y, mas em troca vais implementar isto e mais aquilo. Não é para discutir. Ouviste?”