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Cristãos egípcios criticam Exército por morte de 25 pessoas em confronto

Cristãos egípcios voltaram a sua fúria contra o Exército esta segunda-feira, depois de pelo menos 25 pessoas serem mortas quando tropas sufocaram um protesto usando táticas que aprofundaram as dúvidas quanto à capacidade dos militares de conduzirem o Egito pacificamente a uma democracia.

Na pior violência vista no país desde a deposição do presidente Hosni Mubarak, veículos blindados arremeteram contra uma multidão na noite de domingo para dissolver um protesto perto da televisão estatal do Cairo. Vídeos divulgados online mostram corpos esfacelados. Ativistas disseram que os corpos foram esmagados pelas rodas.

As tensões entre muçulmanos e cristãos coptas, que formam uma minoria no país, existem há anos, mas agravaram-se desde a revolta anti-Mubarak, que deu rédea solta aos salafistas e outros grupos islâmicos radicais que o ex-presidente reprimia. Os confrontos também aumentaram a crescente frustração de ativistas pró-democracia com o Exército, que muitos egípcios suspeitam quer manter o controle do país, mesmo depois de entregar a administração ao governo que será eleito. O Exército nega ter essa intenção.

De acordo com a televisão, o conselho militar governante pediu ao governo interino que investigue com urgência os choques e falou que tomará as medidas necessárias para manter a segurança. Mas boa parte do ultraje suscitado pela violência de domingo foi voltada contra o Exército, acusado por políticos de todas as vertentes de agravar a tensão social com respostas pesadas a episódios de violência de rua e por não anunciar um cronograma claro para a entrega do poder a civis. “Esta é uma crise enorme que pode acabar em conflito civil. Pode ter consequências graves”, disse o possível candidato presidencial Amr Moussa em conferências de imprensa sobre a violência, que teve a presença de políticos importantes. “É preciso formar um comitê imediatamente para investigar o assunto, com resultados imediatos.”

Investidores – que o Egito está desesperado para atrair – venderam ações egípcias, empurrando o índice de referência até 5,1 por cento para baixo no mercado aberto. O índice fechou com queda de 2,3 por cento. “Um problema grande que o Egito enfrenta é que não há no poder ninguém com autoridade e credibilidade suficientes para acalmar a situação”, disse um diplomata ocidental sênior. “Depois dos acontecimentos do domingo, há um risco crescente de os militares entrarem em choque com a população. A autoridade do primeiro-ministro está perigosamente enfraquecida. Nenhum dos candidatos presidenciais possui essa autoridade.”

AGITADORES

Os cristãos, que formam 10 por cento dos aproximadamente 80 milhões de egípcios, saíram às ruas depois de acusar radicais muçulmanos pela demolição parcial de uma igreja na província de Assuan na semana passada. Reivindicaram também a exoneração do governador da província por não ter protegido a igreja.

Alguns dos manifestantes disseram que agitadores, que descreveram como capangas, desencadearam violência que provocou as táticas militares repressoras. “Por que não fazem isso com os salafistas ou a Irmandade Muçulmana quando promovem protestos? Este não é mais meu país”, disse o cristão copta Alfred Younan, falando perto do hospital cristão copta do Cairo, para onde foram levados muitos dos mortos.

A violência lançou uma sombra sobre a primeira eleição parlamentar egípcia desde a queda de Mubarak, que começará em 28 de novembro. Aparecendo na TV na madrugada de segunda-feira, o primeiro-ministro Essam Sharaf disse que os esforços do governo para construir um Estado moderno e democrático estão a ser dificultados por preocupações de segurança e conversas sobre conspirações antidemocráticas.

O Ministério da Saúde disse que 24 pessoas morreram e 322 ficaram feridas, incluindo mais de 250 levadas ao hospital. A mídia estatal mais tarde elevou o número de mortos para 25, em sua maioria coptas. De acordo com o canal de notícias Al Arabiya, podem ter morrido até 36 pessoas.

O ministro da Justiça, Mohamed Abdel Aziz el-Guindy, disse que a investigação e quaisquer julgamentos ficarão a cargo de tribunais militares. Ativistas muçulmanos e cristãos disseram que a violência no domingo não ocorreu por conta das diferenças sectárias, mas era uma manifestação contra a atitude do Exército diante do protesto. O Exército impôs o toque de recolher na praça Tahrir, no Cairo, foco dos protestos que derrubaram Mubarak, e na região central do Cairo

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