O Conselho Nacional de Transição já mudou o seu quartel-general de Bengasi para Trípoli, anunciou o número dois do órgão político da rebelião contra Muammar Khadafi, Mahmoud Jibril, A mudança foi feita, ainda quarta-feira, com a batalha de Trípoli dada já como vencida e as colunas rebeldes a começarem a avançar em direcção a Sirte.
Este anúncio, feito durante uma visita de Jibril a Roma, onde se reuniu com o primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, vem contrariar as indicações anteriores dadas pelo CNT de que a transferência para a capital só aconteceria mais tarde, mesmo até só depois de Khadafi ser capturado e a situação no país estabilizada.
Esta Quinta-feira, ainda há tiroteios nas ruas de Trípoli, mesmo se apenas esporádicos. Mas na generalidade a capital líbia – dois dias após a tomada da fortificação do coronel – está mergulhada “no mais calmo dos últimos dias”.
Restam focos de resistência dos leais ao regime, numa última tentativa de formar derradeiras linhas de defesa, e a rebelião dá já a batalha como vencida, pondo agora os olhos em Sirte, onde se encontra a mais forte mobilização militar de Khadafi.
O complexo militar do coronel caiu nas mãos da rebelião, terça-feira, mas a tomada de controlo total de Bab al-Aziziyah ainda reserva “complicações”: há mais de 200 famílias a viver na enorme fortificação, bem no centro da capital. Um dos rebeldes, citado esta manhã pela agência noticiosa AP, denunciou que as forças de Khadafi pretendiam usar aquelas pessoas “como escudos humanos” face ao avançar da ofensiva da rebelião sobre a capital, desde sábado.
A batalha por Trípoli, à qual se juntaram hoje colunas de “veteranos” das batalhas de Misurata, custou a morte a 400 pessoas e deixou mais de duas mil feridas, segundo um primeiro balanço das forças rebeldes.
O Conselho Nacional de Transição, órgão político dos rebeldes, sustenta que controlam agora a maior parte da cidade, mas que continuam a persistir focos de resistência, alguns grupos armados leais a Khadafi nas linhas de retaguarda e ainda muitos atiradores furtivos nos telhados da capital, concentrados sobretudo nos bairros de Abu Salim e Hatba Charkia. Nenhum combate pesado é porém testemunhado esta manhã no centro da cidade, de acordo com a agência noticiosa francesa AFP.
Falta electricidade, alimentos e água potável
Outros dramas começam a ganhar proeminência. O correspondente da BBC Wyre Davies narra a partir de Trípoli que a electricidade começa a ser cortada e cada vez há uma maior escassez de alimentos e água potável: “Há sinais de poder ocorrer uma crise humanitária caso se deixe a situação piorar”. Uma residente da capital, Rana, descreve também à BBC News que as lojas estão fechadas e o abastecimento de água interrompido.
O chefe da missão da Cruz Vermelha na Líbia, Geoff Loane, lançou o alerta de que se verifica também uma falta de serviços médicos na capital. “Não é apenas a falta de medicamentos e equipamento mas também de equipas médicas, poucas para dar resposta ao elevado número de feridos que aparecem”, avaliou.
Para lá de Trípoli, um volume cada vez maior de colunas de rebeldes é testemunhado a avançar na direcção de Sirte, zona costeira no centro do país que é também a cidade natal de Khadafi e de onde, ainda ontem, tropas leais ao regime disparavam mísseis Scud contra Misurata.
“Estou a chegar a Sirte. O exército que aqui está agora é diferente do que aqui vi em Abril. Melhor organizado, mais disciplinado”, tuita esta manhã o produtor da BBC Jonny Hallam, descrevendo a existência de 18 tanques rebeldes na aproximação à cidade.
O correspondente Paul Wood, também da BBC, relata combates fortes a 100 quilómetros de Sirte e cita rebeldes segundo os quais há uma força de mais de mil combatentes leais a Khadafi na estrada ocidental de entrada em Sirte.
De acordo com um mercenário capturado hoje na frente oriental de batalha pelos rebeldes, um dos filhos de Khadafi, Mutassim, conselheiro de segurança nacional do regime e líder de uma unidade militar, estará com as forças leais ao coronel em Sirte.
Com o posto de tenente-coronel nas forças armadas líbias, Mutassim terá alegadamente planeado um golpe contra o pai, que falhou, levando-o a fugir para o Egipto, e foi mais tarde perdoado e autorizado a regressar