Arrastava os pés nas ruas “feiras” onde o comércio do sexo assegura economias femininas quando o sol se vai ao esconderijo. Abraçava a sua companheira do sagrado dia do vencimento: garrafa de Hankey Bannister. Esta cabia no sovaco, apertada pelo antebraço, quando quisesse abrir o zipper das calças e mijar contra os postes de iluminação da cidade.
Bocejava e ria-se de suas imaginações embriagadas. Deslocava a companheira, do sovaco à boca, onde a beijava despachadamente, sem carinho. Beijava como quem explorava até sentir-lhe de beijos vazios. Acabada. Sem mais nada por explorar. Deu-lhe contra o chão e gargalhou-se das suas quebras irrecuperáveis. Dançou louca e desordenadamente. Som musical não havia senão o barulho e a lenga-lenga das promotoras do prazer erótico em rapidinhas comerciais.
– Duzentos e cinquenta meticais com preservativo e quinhentos sem preservativo – diziam as mulheres avulsas da noite. Procuravam exibir sensualidades improvisadas à razão da fome e da ganância. Pernas aqui. Seios ali. Traseiros acolá.
Como um cão raivoso exposto ao sol do Verão, Xidakwa, babava quase de língua fora. Suava. Olhava para a realidade que o circundava. Pernas aqui. Seios ali. Traseiros acolá. – Vem comigo – dizia cada puta, exibindo o que de mulher tinha. Indeciso, o cliente não manifestava a sua escolha entre os mil e um produtos expostos no Mercado – quanta feira do sexo! – pensou de si para si – manguinhas verdes, manguinhas semimaduras, mangas e mangonas – pensava em razão do que via, com a baba a humedecer-lhe a gola da camisa.
O resto da putaria afastou-se do lugar, proferindo injúrias de toda a gravidade possível, quando Xidakwa apontou, como sua escolhida, a catorzinha de seios em pé – esta criança leva-nos todos os clientes que aparecem – diziam as trintinhas às quarentinhas e estas àquelas – deixem-lhe ocupar todos os que aparecem, vai apodrecer cedo e nós vamos continuar – consolavam-se umas às outras – uhm, xini mania! – diziam as inconsoláveis.
Sem se dirigirem palavra, Xidakwa e a menina escolhida, entreolharam-se sem nenhuma mobilidade. Pareciam objectos sem vida. Ninguém queria acreditar no outro. Facto que fez com que as trintinhas e quarentinhas, rejeitadas pelo cliente, se reaproximassem do incompatível casal ocasional. – Não queres atender o cliente? – perguntavam sem obter resposta da catorzinha. Aproximavam-se mais e rodeavam o cliente e a vendedeira quando Xidakwa, com a embriaguez afugentada pelo espanto, quebrou o silêncio.
– Guyassi!
– Tio!
Umas esfregando as mãos como se fossem ao banquete. Outras abanando as cabeças e assobiando animadas, as putas, respirando ainda o rancor da rejeição, zombavam – ahm é teu tio, a ximoko! – gozavam – vais ter que atender o teu velho hoje – ameaçavam – hoje terás que engolir o teu quota, sua malandra!
Guyassi encolheu-se. Xidakwa, já consciente, totalmente abandonado pela embriaguez que lhe cobria a vergonha, procurava escapulir-se, sem sucesso, das senhoras que o açoitavam com sapatos de salto, enquanto outras despiam Guyassi, sua sobrinha.
– Vá velho, começa a acção se quiseres sair daqui vivo – diziam imperativamente as trintinhas e quarentinhas ao Xidakwa, empurrando-o para o corpinho de Guyassi estendido no chão cimentado.
– Só queres fazer isso com as nossas filhas? Hoje é vez da tua.
Xidakwa procurava que aquela não fosse a sobrinha quando começava a obedecer às ordens.
– Gostaria de morrer – disse já em obediência.