Ante a apatia das estruturas administrativas de Marracuene, perto de uma centena de residências localizadas no entrocamento da Avenida Sebastião Marcos Mabote e a rua do Grande Maputo, no bairro Guava – fronteira entre a cidade de Maputo e o distrito de Marracuene – poderão, num futuro próximo, ser engolidas por uma cova enorme aberta para a extracção de areia vermelha destinada às obras de construção civil e de estradas.
Localizado a aproximadamente 15 quilómetros do centro da cidade de Maputo, Guava, um bairro ainda em expansão, integrante do distrito de Marracuene, a norte da província de Maputo, vive momentos conturbados. Em causa está a proliferação de buracos enormes, abertos para a extracção de areia vermelha usada nas obras de reabilitação e construção de estradas e casas.
A exploração está a cargo da empresa Minas de Saibo, a qual é feita sem estabelecer nem respeitar as mínimas regras de segurança, tanto dos trabalhadores assim como das cerca de uma centena de casas construídas a escassos metros da cova.
Há muito que a situação vem sendo levantada pelos residendes daquele bairro mas é supostamente ignorada pelas estruturas administrativas locais, que nadam fazem para travar os desmandos.
O buraco, aberto na esquina entre a Sebastião Marcos Mabote e o Grande Maputo, rua que vai dar ao futuro Estádio Nacional, está a cada dia que passa a aumentar de diâmetro, provocando uma erosão que constitui um perigo para centenas de famílias circunvizinhas.
“Esta cova constitui para nós um risco. Podemos, a qualquer momento, ver as nossas casas, contruídas com muito sacrifício, enterradas e muitas famílias atiradas para a desgraça. O Estado não vai ter capacidade para nos indemnizar”, realçou um grupo de residentes visivelmente preocupado e apoquentado com a situação.
Os referidos moradres dizem ter notificado, vezes sem conta, o assunto às estruturas administrativas locais no sentido de se encerrar a cova ou, no mínimo, estabelecerem-se regras de exploração, mas estas nunca mostraram vontade de dirimir a contenda que opõe os residentes de Guava à empresa Minas de Saibo.
Aliás, segundo soubemos da população, as referidas regras não existem, se existirem são ignoradas, portanto, não estão a ser aplicadas, por forma a evitar os feitos negativos derivados da actividade.
Dizem eles duvidarem da existência de regras porque se tais existissem, no seu entender, a exploração não seria tão desordenada como está sendo e as pessoas não haviam de abrir buracos para, depois de amealharem muito dinheiro, os abandonarem sem que haja nenhuma responsabilização sobre elas.
Os residentes afirmam ainda que não sabem se a Direcção Provincial das Minas de Maputo conhece o areeiro porque o fenómeno está a ganhar contornor alarmantes.
“Se conhecem”, admitem os moradores, “então as autoridades não funcionam, pois nunca há fiscalização e as estruturas locais mostram-se impotentes para travarem os desmandos”.
Devido à grande profundidade da cova, quando os carros passam, sobretudo camiões, a terra estremece e, em resultado disso, as casas apresentam-se com rachas e poderão, a qualquer momento, desabar.
“Quando passam camiões a terra estremece, para além da própria erosão, pois cada vez que chove a cova aumenta de diâmetro e isso é um verdadeiro enterro de largas dezenas de famílias circuvinzinhas”, sublinharam as fontes.
Ao que apurámos, há pessoas que vivem nos arredores da cova que não estão preocupadas com a situação, pois aquela actividade gerou outras secundárias de que estas pessoas sobrevivem, embora sejam também práticas ilícitas. Os referidos moradores, também em risco de serem engolidos pela cova, retiram combustivel dos tanques dos camiões que ali se fazem para transportarem areia. Isso em conluio com os motoristas dos mesmos.
“As pessoas preocupam-se mais com o lucro e não com a vida dos outros. Hoje aquela cova é fonte de dinheiro para alguns, mas amanhã será fonte de desgraça para muitas famílias. Vai também incitar a criminalidade, pois vai servir de um esconderijo para os amigos do alheio”, acrescentaram.
Efectivamente, a abertura de buracos para a extracção de areia para construção civil é um dado adquirido no nosso país mas de impugnar devido à forma como esta actividade é levada a cabo. Muitas vezes, as covas são abertas em bairros residenciais pondo em risco a segurança de pessoas e bens.
É, portanto, preciso que haja mão dura por parte das autoridades governamentais, particularmente da Direcção das Minas, por forma a pôr termo ou, no mínimo, a disciplinar a actividade, estabelecendo e fazendo cumprir regras de exploração.
Caso não haja, de urgência, vontade de travar os desmandos, repetir-se-ão casos como o da cratera da Julius Nyerere, que também proveio da mesma actividade e já causou danos incalculáveis. Outros exemplos vêm-nos das casas abandonadas, outras engolidas pelo avanço do buraco no bairro Kumbeza, junto do cruzamento de Michafutene, também no distrito de Marracuene, acontecendo o mesmo com a estrada que parte de Michafutene até ao bairro Mali que vai ficando, aos poucos, estreita devido à erosão derivada de buracos abertos com o mesmo propósito.
As condições de trabalho dos jovens que labutam naquele areeiros são deploráveis. Segundo constatámos no local, eles trabalham em condições humanamente inaceitáveis, desde as condições de hegiene à segurança. Não possuem equipamento de trabalho, como luvas, capacetes, botas e máscaras.
Do contacto com um jovem trabalhador daquela “mina”, soubemos que os mesmos não possuem contratos de trabalho. Cavam a terra descalços. “Dependendo das condições de cada um, há quem traz os seus próprios chinelos e calça ou calções de casa”, explicou.
O areeiro possui duas pás escavadoras, mas quando o movimento é elevado, chegando os clientes a coincidirem no momento do carregamento da areia, alguns destes são despachados com o recurso a pás, um trabalho feito utilizando a força humana. É uma situação sobejamente penosa.