A primeira coisa que li quando abri o computador de manhã foi: “Operadores vão cobrar chamadas recebidas aos clientes”.
Antes de apagar a notícia non grata e ainda de queixo no chão, dei por mim a resmungar: Olha, que bela ideia!!! Agora vou ter eu que controlar os que não se controlam…
E lembrei-me da noite de sexta em que eu e a Maria, sem saber por alma de quem, gramámos trinta longos minutos de monólogo de uma ave rara que poisou ao nosso lado num bar… Calhava aquele papagaio ter o meu número de telefone e era eu quem pagava para me chatearem!!! É que só me faltava esta…
Nessa altura apercebi-me do verdadeiro impacto da “coisa”: Cada massacre telefónico pode custar-me um vestidinho a menos no fim do mês!!!
Nãooo… Isso é que não!!!, pensei.
– Teresa, pela tua saúde, há que tomar medidas drásticas!!!
Podia gravar uma mensagem no atendedor: “Olá! Hoje já atingi a quota diária de telefonemas. Tu, que me ligaste sem eu estar à espera e és o imprevisto que dá cor ao meu dia, não terás liberdade de expressão que te valha, porque não ouvirei nem mais um suspiro em linha! Adeus!”
Lá se vão as saídas de casa inesperadas à meia-noite… pensei. As notícias dos amigos estrangeiros, a confirmação de que ganhei o euromilhões… Lá se vai tudo o que o visor do meu telemóvel não reconheça!
E a auto-censura?!? Antes de ligar à Maria a contar nada, vou ter de juntar três ou quatro acontecimentos irrelevantes para fazer render o telefonema…
Nesse momento tocou o meu telefone. O número privado mantinha o ponto de interrogação no ar e a curiosidade sem saber se matava o coitado do gato…
Foi então que pensei: no que toca à minha vida, eu pago o que for preciso para mantê-la fora do controlo!
E antes que fosse parar ao voice mail:
– Estou?