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Transparência recuperada

Cientistas sul-africanos desenvolveram um método para potabilizar água altamente tóxica sem prejudicar o meio ambiente, que, asseguram, poderá reduzir drasticamente o impacto da contaminação industrial.

A engenheira química Alison Lewis explicou que 99,9% do líquido contaminado pode ser reutilizado com a nova técnica. Ao contrário de outras técnicas, a chamada cristalização eutéctica por congelamento quase não produz desperdícios tóxicos.

Lewis, professora na Universidade da Cidade do Cabo, começou as pesquisas em 2007 para chegar a este método, que consiste em congelar a água ácida a fim de produzir água potável e sais úteis, como sódio e sulfato de cálcio.

“É uma tecnologia que não prejudica o meio ambiente e é rentável, podendo ser usada em quase todos os sectores industriais que contaminam água e produzir sais, entre eles mineração, gás e petróleo, química, processamento de papel, ou saneamento”, destacou a engenheira.

O método de separação e purificação simultânea consiste em baixar a temperatura da água contaminada até o ponto eutéctico, a temperatura mais baixa de solidificação dos elementos. As toxinas cristalizam- se e formam sais que assentam na base do recipiente, enquanto a água potável fica congelada e flutua na superfície.

“Por natureza, o gelo é o estado mais puro da água porque repele as impurezas. De facto, é muito simples”, explicou Lewis. “É um método ecologicamente significativo porque transforma desperdícios tóxicos num produto útil”, afirmou. Companhias sul-africanas já demonstraram interesse, bem como outras alemãs, holandesas, canadianas e australianas, disse a engenheira.

O método de purificação de água contou com o apoio da Comissão de Pesquisa de Água da África do Sul. “A cristalização eutéctica congelada é uma brilhante técnica para reciclar a água, muito melhor do que outros”, disse o responsável pela Comissão, Jo Burgess.

Actualmente, a água contaminada pela indústria é purificada de duas formas: os sais são armazenados em grandes tanques de evaporação, com o perigo de contaminar lençóis freáticos, ou por meio da cristalização por evaporação, que exige grande quantidade de electricidade.

A cristalização eutéctica utiliza seis vezes menos electricidade do que o método de evaporação convencional, afirmou Lewis. “Além disso, os dois métodos deixam dejectos sólidos e não são ecologicamente sustentáveis”, acrescentou Burgess. As técnicas convencionais produzem sólidos perigosos, o acúmulo das toxinas nos sais, que depois devem ser processados de forma correcta.

Na cristalização eutéctica por congelamento obtém-se 99% de produtos utilizáveis, água potável e sais puros. “É totalmente ecológica”, insistiu Lewis. Além disso, as empresas podem vender os sais, o que para a engenheira pode ser um incentivo para se utilizar o novo método.

Reciclar água tem um valor económico. Para cada dólar investido para deixar a água potável é gerada uma “renda” em saúde, social e ecológica entre 3 e 34 dólares, diz um estudo da Iniciativa Económica Verde, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que ajuda os governos na realização de políticas e investimentos em diversos sectores verdes.

“Investir em água potável traz múltiplos dividendos”, afirmou Achim Steiner, director executivo do PNUMA. “Não é um luxo, mas uma acção prudente, prática e transformadora capaz de melhorar a saúde pública, garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e incentivar o emprego de forma mais inteligente na gestão da água”, acrescentou.

A cristalização eutéctica por congelamento também pode ser usada na mineração da África do Sul, que há décadas produz mais sais do que as empresas podem reciclar. É a actividade económica mais importante do país que produz ouro, platina, diamantes e carvão. Durante anos a água contaminada foi armazenada em grandes tanques de evaporação em todo o país.

“O problema é que produzimos muito mais sais do que pode evaporar. E ainda mesmo que consigamos que evapore toda, os dejectos tóxicos não recicláveis permanecem. Os tanques de evaporação não são uma solução ecológica sustentável”, alertou Burgess.

A nova técnica pode ajudar o governo a economizar muito dinheiro. O Ministério de Assuntos Ambientais anunciou que precisa de pelo menos 30 milhões de dólares para limpar os sais das áreas de mineração maiores, fora da cidade de Johannesburgo.

A água ácida permanece em canais de Gauteng, a província onde fica Johannesburgo, a apenas 500 metros da superfície. O seu processamento deveria ser de alta prioridade, alertou a ministra do Meio Ambiente, Edna Molewa.

Contudo, ainda faltam entre quatro e seis anos para que o método de cristalização eutéctica por congelamento esteja disponível para uso industrial. A equipa de pesquisa de Lewis construirá uma unidade-piloto este ano.

O projecto, de 1,3 milhão de dólares, estará operacional dentro de dois ou três anos e poderá purificar um metro cúbico de sais por hora. Depois dessa etapa, serão necessários outros dois ou três anos para desenvolver a tecnologia para uso industrial.

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