Não me perguntem porquê, mas ela faz-me lembrar a Bessie Smith. Também nascem feridas dolorosas dentro de mim quando penso nela, no facto de este país ter uma mulher que emana leite e mel e, mesmo assim, passar pelas ruas sem que ninguém lhe dê prioridade. Eu, particularmente, não estou preocupado com tanta mediocridade que aparece por aí, mas revolto-me quando essa mediocridade é hastaeada como bandeira de todos os moçambicanos, envergonhando-nos perante aqueles que sabem o que é boa música. Algumas meninas que andam por cá, já se arvoram divas. Mas divas de quê?! Moçambique tem divas, sim, e uma dessas divas é Zena Bacar, não é qualquer menina “bonita” que veste saias curtas, maquilha-se e vai ao palco abanar o traseiro, como se isso fosse o bastante para se ser notável.
O que me dói mais é que ministros (incluindo os dois da Educação e Cultura, nomeadamente Ayres Aly e Luís Covane), são arrastados para essas palhaçadas (que de palhaçada não têm nada, pois palhaço é um artista e estes não são artistas, pois não têm alma), onde vão bater palmas, congratulam esses jovens e no fim dizem: estão de parabéns. Que parabéns, senhores ministros? Será que não percebem que aquilo que fazem muitos desses jovens está completamente despido de qualquer categoria? Não sabem, senhores ministros, que, indo aplaudir esses jovens, se tornam cúmplices dessa mediocridade? Não percebem, senhores ministros, que, abraçando esses jovens, também vós vos tornais pobres de espírito? Ah, meu Deus do Céu!
Numa cerimónia na Casa Branca, nos Estados Unidos, Georg Bush convidou e galardoou B.B. King, por ser (disse isso o Presidente) – juntamente com a sua guitarra – uma das coisas mais importantes que à América têm. O artista que vai à Casa Branca nos Estados Unidos é porque é bom. Mas em Moçambique, à Ponta Vermelha, qualquer artista medíocre tem acesso e a culpa não pode ser do Presidente Guebuza. Então de quem será? Perguntem ao ministro Aires Aly e ao vice-ministro Luís Covane.
Zena Bacar é feita de outros cristais. Ela é fogo. Zena merece tratamento VIP. Falo dela hoje como já falei e tenho falado, de outros colegas, que são simplesmente muito bons e que, enquadradados devidamente, orgulhariam o país inteiro.
Escutem a voz da Zena Bacar. Prestem atenção à movimentação dela no palco. Falem com ela de perto. Sintam a sua respiração. Ponham a vossa mão no peito da Zena e escutem o batimento do coração. Depois venham dizer-me quem é esta mulher. Não pretendo que lhe dêem esmola. Ela não precisa de esmola. Ela merece o lugar que conquistou com talento e transpiração. Mas ninguém liga a isso, em benefício de uma legião de jovens que nem deviam ser ouvidos. Temos um país com uma área musical desenvolvida ao avesso. Um país paradoxal, onde aqueles que não têm valor são os idolatrados e aqueles que têm realmente valor são humilhados.
Tenho para mim que Zena Bacar e seus companheiros talentosos e trabalhadores é que deviam estar na proa da nossa música, mas eles estão na coxia. Alguns deles já não acreditam em nada. Continuam vivos porque não podem morrer. Coçam constantemente as suas feridas mantendo-as vivas, para não se esquecerem de que estão a sofrer. Zena Bacar também, ela tem essas feridas, mas entregou-as a Deus.
É isso: Zena Bacar é nossa fonte de água.