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20 anos atraindo o belo

Inéditos de Cortázar descobertos em Paris

 

“Eu sou inteligente porque venho de África e não porque sou africano”  – Bento Mukesswane

 

“A arte em Moçambique precisa de se afirmar como instrumento fundamental e interveniente na sociedade. (…) É urgente alargar o número de apreciadores interessados pela arte, abrir novos horizontes em relação a novas formas de práticas artísticas e estender este esforço para além da cidade capital”

 

O mês de Maio será atípico. Para as artes plásticas em Moçambique. Ou seja, o Museu Nacional de Arte vai levar a cabo, nesse período, uma exposição – para comemorar os 20 anos do Museu Nacional de Arte e o Dia Internacional dos Museus – composta pelas melhores obras patentes naquela instituição e que constituem o seu acervo. Será também a comemoração de um percurso que, nos finais de 1980, demonstrou o estabelecimento de uma estrutura que apoiou e incentivou um grande número de artistas que produziram as artes plásticas na sua mais ampla magnitude: pintura de cavalete, escultura de talhe, desenho, gravura e fotografia.

Estas produções, segundo estudiosos, pautam por narrativas nacionalistas, sociais, culturais e todas as preocupações que, de certa forma, estam presas às questões de forma. “A crítica e a censura da arte vieram antecipar a produção, adoptando uma estratégia de repressão e direccionismo, a qual acabou por ditar uma determinada estética e conceito de arte em Moçambique”.

Será uma homenagem ao trabalho de várias mãos e de muitos sentimentos. Uma festa à imaginação. Será, também, – socorrendo-nos duma análise feita pelo MUVART (Movimento de Arte Contemporânea em Moçambique), – o resultado de uma produção que soube cruzar aspectos da tradição, da antropologia, da sociologia, do secretismo e das ideologias partidárias em prol de uma estética e linguagem específicas, “as quais classificamos hoje de escola de pintura e da escultura moçambicana”.

O Museu Nacional de Arte é ainda um verdadeiro alfobre de artesanato, onde se produzem as mais belas obras por homens que não estarão muito longe da arena dos grandes artistas. Aliás, ao introduzirmo-nos na zona onde trabalham estes artífices, voltaremos à antiga questão que sempre se colocou: onde é que está delimitada a fronteira entre o artesanato e as artes plásticas? Seja como for, esta exposição, segundo Jorge Dias, Curador do MUZART, será atípica. Na nossa opinião será ainda uma estrondosa revisitação ao tempo e ao espaço, lembrando momentos e marcas de artistas que sempre acompanharam, uns, a evolução da história e outros que, mesmo fortes e coerentes, nunca mudaram de residência.

Aliás, em relação a evolução, que nos conduzirá à Arte Contemporânea, cujos traços podem ser vistos em obras que fazem parte do espólio do Museu Nacional de Arte, queremos recordar aqui uma entrevista dada a um órgão de comunicação português, por Jorge Dias: um professor de inegável competência.Uma figura que o Museu Nacional de Arte nunca dispensará, sobretudo pela sua sabedoria. Sobretudo pela sua entrega à causa da Arte. E sobretudo pela sua incomensurável sensibilidade:

Para Jorge Dias, “Moçambique vive hoje e viveu há muitos anos uma fase muito densa em experimentalismo — experimentar técnicas, formatos, dimensões, materiais —, o que foi compreendido como sendo arte contemporânea. Algo que foi acontecendo porque há pouco conhecimento em relação à arte contemporânea”.

Mas no MUVART, na escola e como artista – segundo Jorge Dias – existe uma preocupação diferente em relação a esses posicionamentos: “achamos que a arte contemporânea é um pouco mais do que isso. É reflexão sobre o tempo moderno, o actual, usar novos meios de comunicar e expressar que dialogam com o dia de hoje, o contemporâneo é romper com os estereótipos, é propor coisas novas”.

É isso: a exposição a ser promovida em Maio, será uma oportunidade para debate. Teremos uma miscelânea de obras com diversas e diferentes perespectivas. Diferentes abordagens que poderão suscitar discussões intensas e interssantes sobre o percurso das artes plásticas em Moçambique. Sobre a aceitação ou não da contemporaneidade. Será um espaço bastante aberto. Um momento para ainda perguntar: o moçambicano tem a cultura de visitação dos museus? O que será necessário para que ele vá desfrutar da beleza e do sonho que os museus nos oferecem? Será que esta força artística chega às restantes províncias do nosso país? Tudo isso e muito mais, caberá, concerteza, no debate que esta exposição poderá suscitar em Maio.

 

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