A edição nº 136 do @ Verdade, que saiu à rua no passado dia 20 de Maio, foi dominada por um tema: o estado actual da Polícia da República de Moçambique (PRM). A instituição completava 36 anos e esse foi o pretexto para a elaboração de um dossier que ocupou, para além da capa, seis páginas no interior.
Trabalhos com uma dimensão e profundidade semelhantes a este fizemos só muito excepcionalmente. Estou a lembrar-me dos Heróis Moçambicanos, da Mulher Moçambicana, da Criança e da eleição de Barack Obama, o primeiro não branco a conquistar a presidência norte-americana.
Há muito que tínhamos consciência da necessidade de se abordar, de uma forma séria e rigorosa, o tema da PRM, mas a sensibilidade do mesmo exigia um tratamento com pinças. Por isso demorámos tempo, mas não desistimos e o dossier foi publicado.
Nunca recebemos tanto “feedback” como nessa edição. A grande maioria elogiou-nos a coragem e a determinação em abordar esta problemática e, passado quase um mês, ainda estava a receber parabéns pela ousadia quando me cruzava com um conhecido na rua.
Nesse extenso dossier, falámos na corrupção no interior da instituição, na falta das placas de identificação, na impreparação geral dos agentes, na falta de meios, no caso dos agentes da FIR que espancaram brutalmente seguranças da empresa G4S que reclamavam o pagamento de salários em atraso, nos relatórios internacionais que dão conta de que o maior violador dos direitos humanos no nosso país é a polícia, num caso de um agente que violou um cidadão na Zona Verde e nas queixas dos cidadãos em geral em relação à actuação da polícia.
Dirão os leitores que só conseguimos descortinar aspectos negativos. Não é verdade. A polícia, como qualquer outra instituição, também possui, seguramente, aspectos positivos, mas os negativos são tantos e tão gritantes que ofuscam completamente os outros. Infelizmente, esta é a realidade e a realidade não pode ser escamoteada.
Senão vejamos: depois disto – lembro que ainda só passaram 40 dias! – já tínhamos, como se costuma dizer, pano para mangas, para elaborar outro dossier PRM.
Desde as nossas experiências pessoais (apreensão do cartão da máquina fotográfica do nosso fotógrafo que registou uma violação de uma rapariga por parte de agentes da PRM nas Barreiras e da confiscação de um portátil ao nosso redactor “porque andam a desaparecer muitos computadores dos escritórios”), passando pelas ameaças do seu mais alto responsável para quem se manifeste na rua e pelos julgamentos na praça pública de supostos ladrões numa clara violação da Constituição – a lei máxima do país – no que diz respeito à presunção da inocência, até aos doze detidos esta semana por furto a um cidadão sul-africano (sob a ameaça de armas de fogo roubaram-lhe quatro mil randes e, não contentes, ainda o forçaram a efectuar um levantamento de oito mil meticais no ATM). A esta polícia tudo é permitido.
Por conseguinte, como podem constatar pela amostra, matéria para outro dossier não nos falta. Se em matéria de histórias fosse tudo como a PRM, garanto-vos que a sobrevivência do jornalismo estava assegurada.