Há muito que se debate em todos âmbitos culturais a valorização do que é nosso, da nossa moçambicanidade e do orgulho nacional.
Diz-se que há necessidade urgente e suprema de se ter a auto-estima. Ora, quanto a mim é um debate oportuno e lógico, não pela inexistência do orgulho e/ou valorização do que é nosso, mas sim pela necessidade de se alçar cada vez mais e se obstar a baixa auto-estima.
Do concreto, a valorização da música moçambicana não está sob alçada do público pelas suas preferências e nem se devem estirar as responsabilidades ao mesmo pelo actual cenário da nossa música, como também defino como utopia a ideia de que a solução parte geralmente de todo nós, no geral.
Vou mais longe, sempre que se debate assuntos do género é dever desse “todos nós” evitar trazer visões holísticas para um problema concreto, correndo-se o risco de não se ter conclusões concretas e realizáveis. Contudo, se é pelo receio ou ignorância que não se apontam os dedos, eu já começo.
Temos neste país o Governo no seu sector da Cultura, que é a entidade que define estratégias e orçamentos próprios para a arte musical. Porém, é visível a falta de estratégias claras, concisas, avaliáveis e com orçamentos atinentes tendentes à valorização da música “Made in Mozambique”.
Só para citar alguns exemplos, o Ministério da Cultura pode, à semelhança de muitos países, mesmo os da região austral de África que já firmaram o sector, adoptar a carteira profi ssional para os músicos em 3 categorias: Carreira, semi-profissional e amador.
A carreira para os artistas já firmados que vivem apenas da música como seu sustento, a semi-profissional para os artistas que têm a música como opção laboral ou profissional e amador para os aprendizes e principiantes no mundo da música.
Sendo que essa mesma carteira, categorizada, é acompanhada de benefícios com a principal condição de o artista render e estar inscrito no Instituto Nacional de Segurança Social. Assim, podemos valorizar o artista e o motivando para cada vez mais cantar pelo país.
A segunda estratégia para desenvolvermos a cultura e valorizar o que é nosso é a adopção de uma legislação tocante a fim de regular as nossas rádios e televisões que passam horas e horas transmitindo músicas e vídeos internacionais, em detrimento do que é nosso.
Por exemplo, em 1 hora de transmissão musical, 70% serem ocupados pela nossa música e os restantes, pela internacional. Neste ponto não se pode articular com a Xenofobismo, pois haverá musica estrangeira sim, aliás, devo dizer que é o que vigora em muitos países e ainda não no nosso, razão pela qual somos bombeados por qualquer música de fora, na maior parte desvairada.
A outra, que a sua não subsistência demonstra a nossa fragilidade no sector, é a adopção de uma taxa imposta para todo e qualquer artista internacional que queira actuar nos palcos nacionais. Isso teria impacto até mesmo sobre os produtores de espectáculos que repensariam nas suas estratégias de sempre chamarem artistas de fora e os pagarem valores altíssimos em comparação com os nacionais.
A censura institucionalizada também pode contribuir e muito para a valorização da nossa música na medida em que o que é fútil para o nosso maravilhoso povo não passe nas nossas rádios e televisões, através de métodos concretos e eficientes, justamente desenhados. Nesta estratégia, por exemplo, podíamos acabar com o exacerbado nudismo que se transformou em tolice de alguns dos nossos músicos.
Por fim, só para completar algumas das muitas estratégias, o Governo deve refl ectir seriamente no sector cultural, precisamente na arte musical. Nós moçambicanos podemos, melhor, devemos resolver os nossos próprios problemas. A nossa música pode tornar-se numa indústria forte e consistente.