Poucos dias depois do acidente nuclear de Chernobil, tentando encontrar alguma réstia de esperança por entre a desgraça, cunhei a expressão “pedagogia da tragédia”. Com isso, pretendia significar que, apesar de tudo, os humanos são capazes de aprender alguma coisa com os seus erros, evitando a sua repetição. Vinte e cinco anos depois, o acidente de Fucoxima mostrou que errei por optimismo.
O pesadelo atómico regressou com toda a sua força. Voltámos a escutar relatos sobre a acção letal de uma vasta gama de substâncias radioactivas, com graus de acção e duração diversos: iodo 131 (afecta a tiróide); estrôncio 90 (28 anos de meia-vida) mais o césio 137 (30 anos de meia-vida) atingem ossos e tecidos, provocando cancros e leucemias na primeira geração, abortos e malformações na geração seguinte. Para já não falar no plutónio 239, que tem uma meia-vida de “apenas” 24 360 anos!
Contra as mentiras dos que prometem o regresso da normalidade, Fucoxima foi um brutal alerta contra a arrogância de um negócio que há muito entrou no registo do delírio e da desmesura. Não conheço uma sociedade mais disciplinada e prudente do que a nipónica.
Se esta calamidade aconteceu no Japão, então nenhum país com centrais nucleares está livre de um acidente semelhante ocorrer. Amanhã, ou daqui a dez anos. Infelizmente, a maior catástrofe é de natureza moral. Hoje, como há 25 anos, há gente que nunca aprenderá nada. Vivem numa espécie de autismo ético. Presos nos seus interesses e certezas mesquinhos.
Contra esses, os cidadãos portugueses devem exigir um duplo consenso nacional: em favor das energias renováveis, e na recusa do nuclear. Não por agora não haver dinheiro, mas por ser essa recusa a única opção pragmaticamente útil e moralmente boa.