Em “Estes miúdos de agora”, uma peça teatral na qual se explora a imaginação artística, um grupo de pequenos actores do Teatro Girassol (Girassolinho) revela talento na arte de representar. A obra foi dedicada aos petizes pela passagem de mais um Dia Internacional da Criança.
Exibida no Teatro Mapiko, da Casa Velha, em Maputo, aquando da estreia do VIII Teatro de Inverno, “Esses miúdos de agora” é um retrato metalinguístico sobre a perda de valores morais e cívicos a que a criança moçambicana está sujeita no seio familiar. De forma metódica, o “Girassolinho” fá-lo recorrendo ao que há de mais belo no mundo – a criança.
À beira de “abandonar” a adolescência, Sandra Jamine, ou simplesmente Sany, coordenadora do grupo Girassolinho, cantora, actriz, locutora radiofónica, estudante e bailarina, tem sob a sua alçada pouco mais de 20 adolescentes.
“Há vezes que não tenho tido tempo para mim”, afirma e acrescenta: “tenho de sacrifi car-me, até porque gosto de aproveitar as oportunidades. É por isso que dizem que eu quero ser uma ‘tudo’”. Sany encontra em Lucrécia Paco a musa da sua inspiração.
Olhando para o seu grupo de infl uência – as crianças – a coordenadora do Girassolinho, comenta, ao abrigo da peça “Esses miúdos de agora”, que a geração actual clama por liberdade excessiva, tentando provar que “estamos numa geração diferente e que não gosta de que os pais imponham limites, o que é mau”.
Lidar com a pequenada pode parecer algo fácil, mas uma coisa não tem dúvida: é prazenteiro. Afi nal, fazendo jus à tenra idade, os miúdos gostam de brincar e fazer piadas enquanto ensaiam. Mas, segundo Sany, o mais importante é fazer-lhes perceber que, além de ser arte, o teatro “é uma forma de educação que nos ajuda a lidar com diferentes realidades no dia-a-dia, sobretudo com pessoas de mau génio”.
De figura arrojada, Sany é uma rapariga multifacetada e desinibida que se abriga nos mais ambiciosos sonhos. Frequentando a 11ª classe do ensino geral, ela almeja ser independente, tendo casa própria e uma família feliz. “Quero ser uma cantora profissional, tocar muito bem o piano e a guitarra; e ser uma actriz famosa, sem me esquecer da Rádio”.
Representar Moçambique nos Jogos Olímpicos
Samuel Cuna, mais conhecido por Samito, de 14 anos de idade, é o mais novo integrante do grupo de formação de teatro Girassol, o Girassolinho. A destreza e ousadia valeram-lhe uma estrondosa evolução. Em apenas dois meses de ensaios, enfrentou com espontaneidade o público na peça “Esses miúdos da agora” na qual fez o papel de um filho desobediente.
O rapaz tem no director do Teatro Gungu, Gilberto Mendes, um actor de referência. Dando os seus primeiros passos no teatro, ele sonha em ser um actor de cinema e desfilar em grandes palcos da Europa. Através do teatro, Samito perdeu a timidez, mas a sua maior ambição está na natação: “Quero fazer a travessia Maputo – Catembe”, à semelhança do que fez Viriato, o seu treinador, a quem considera um atleta completo. E, por via disso, “representar Moçambique nos jogos olímpicos e fazer a nossa bandeira içar mais alto”.
Defender os honestos injustiçados
“O teatro é a minha paixão, gosto das actuações, das cenas. Gosto de Gilberto Mendes. Inspira-me muito a sua maneira de ser e de estar no palco. Ele não tem vergonha do que faz, solta-se e é verdadeiro. E isso ajuda muito na compreensão da história retratada na peça”, afirma Sara, actriz, de 14 anos de idade.
A pequena vê o seu futuro dividido entre ser contabilista ou jurista. Mas é nesta última profissão que o seu sonho mais gravita. “Muitas pessoas honestas são condenadas porque falta quem os possa defender. Seria contabilista, talvez por influências, porque na minha família há muitos. Mas quero ser advogada para defender os necessitados”, comenta.
No teatro Girassol, Sara, além de se deixar moldar para ser “Homem do amanhã”, aprende a ter pensamentos positivos, “esta crença de que nada nos deixará mal. Que tudo vai dar certo”.