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As crianças querem acabar com a fome

As crianças querem acabar com a fome

Acabar com a corrupção, com a fome, com a pobreza e governar como Samora Machel. Crianças moçambicanas partilham connosco o seu modo de olhar, o seu modo de amar, o seu modo de estar; partilham connosco as suas angústias e perplexidades, sonhos e interrogações. Falaram sobre o país. Sobre a relação com os pais, professores, amigos, com elas mesmas. Sobre o que lhes passa na cabeça e coração.

Iara Lopes Menete, 11 anos – frequenta a sétima classe na Escola Primária Completa da Maxaquene e acha que os Direitos da Criança têm sido sistematicamente violados pela sociedade. Para ela, as crianças têm o direito de serem respeitadas, serem registadas e os seus pais devem garantir saúde, educação, carinho e amor.

Para Iara, as crianças que crescem num ambiente de violência, exploração e insegurança, jamais serão felizes. O que deve ser feito, na sua opinião, é construir mais escolas para que os mais necessitados tenham acesso à educação e mais escolas como forma de levar a saúde para junto das comunidades. Se fosse Presidente da República, Iara Menete diz que construiria mais escolas e hospitais, formaria mais médicos e professores e faria de tudo para levar os direitos das crianças ao conhecimento das comunidades.

Iara gostaria de ver programas infantis mais divertidos e didácticos e apresentados por crianças, o que, na sua opinião, não se verifi ca. O seu sonho é ser médica, mas o desejo de ver novelas e documentários “Made in Mozambique” faz com que ela alimente também o sonho de ser actriz. A sua disciplina preferida é Língua Portuguesa.

Miraldo Meireles Kruger, 11 anos – para este aluno da sétima classe na Escola Primária Completa da Maxaquene, a criança tem direito a um nome, respeito, saúde e à educação, mas estes direitos são violados pelos seus progenitores ou encarregados de educação, o que os leva a abandonar a escola e a família para se fixarem nas ruas mesmo cientes do perigo a que estão expostos. “Temos que analisar os motivos que os levam a sair de casa para estar na rua, sem abrigo, alimentação”.

Miraldo acredita que se o Governo criasse centros de acolhimento, mais orfanatos e associações de ajuda a crianças desfavorecidas, isto não estaria a acontecer. Se fosse Presidente da República canalizaria fundos para a construção de centros de saúde, apetrecharia os armazéns do Ministério da Saúde com mais medicamentos porque tem verifi cado que os hospitais têm registado rotura de stock de medicamentos e reabilitaria as escolas e melhoraria as condições das salas de aulas (carteiras, quadros, bibliotecas, …) Considera-se sonhador e por isso tem três sonhos: ser agrónomo para tornar o planeta mais verde e acabar com o aquecimento global, ser electricista para levar a energia a mais lares e ser astronauta, sua paixão, para conhecer outros planetas. Gosta da cadeira de Ciências Naturais e considera que os programas infantis (radiofónicos e televisivos) deviam abordar a questão da discriminação de pessoas portadoras de HIV e SIDA e cultura geral.

Antonieta Adelaide Cumbula, 12 anos – frequenta a sétima classe na Escola Primária Completa da Maxaquene, e considera-se inteligente. Já ouviu falar dos Direitos da Criança e considera que muitos deles não são respeitados devido ao que considera de perda, se não falta, de sensibilidade por parte de alguns pais. Para ela, os pais deviam dar mais carinho, amor, educação e compreensão aos filhos, ao contrário do que acontece hoje em dia, em que os pais mandam os seus fi lhos para pedir esmola nos semáforos, dentre outros males que preocupam a sociedade.

O que a preocupa é a situação de vulnerabilidade e doenças a que muitas crianças estão expostas. Se fosse Presidente da República, Antonieta diz que reabilitaria as escolas e centros de saúde para permitir que muitos petizes tenham acesso à saúde e à educação. O seu sonho é ser contabilista ou engenheira civil e tem a cadeira de Matemática como preferida. Telespectadora assídua dos programas infantis, Antonieta acha que estes ainda não são sufi cientes e que as televisões deviam apostar mais em programas que despertem o gosto pela leitura e escrita no seio das crianças.

Yuran Custódio Mazivila, 12 anos – é estudante da sétima classe na Escola Primária Completa da Maxaquene. Diz que uma criança tem o direito a um lar, nacionalidade, a ser respeitado pelos pais e a crescer numa família. Para ele, os direitos das crianças não são respeitados porque muitas delas são obrigadas a fugir de casa devido à violência, falta de alimentação e educação. Como forma de acabar com esta triste realidade o Governo devia criar leis mais rígidas para punir os pais que, por exemplo, mandam os fi lhos pedir esmola, deixar de estudar para fazer trabalhos pesados em troca de dinheiro.

Se fosse Presidente da República, “construiria mais escolas públicas e centros de acolhimento para os meninos de rua, tornava o ensino gratuito da 1ª à 12ª classe, baixava o preço dos produtos básicos e aumentaria os salários, principalmente o das empregadas domésticas”. Outro problema que preocupa Yuran é o tráfico de menores. Na sua opinião, o Governo devia fazer um controlo mais rigoroso das fronteiras e punir os que a esta actividade se dedicam”. Apaixonado pela Matemática, Yuran tem o sonho de seguir o curso de engenharia civil e ser professor, para dar contributo aos esforços do Governo no sector da educação. Sobre os programas infantis, Yuran diz que “faltam rubricas que incentivem as crianças a ler e a estudar”.

Kevin Erson Parruque, 8 anos – é aluno da terceira classe na Escola Primária 3 de Fevereiro. Considera o dia 1 de Junho como importante porque é dia em que a sociedade pára e refl ecte sobre os direitos das crianças, nomeadamente a alimentação, saúde, família, o abrigo e outros, o que não acontece. Há pais que olham para os órfãos, por exemplo, como se fossem pessoas sem direitos. Na sua opinião, toda a criança, independentemente de ter ou não uma família, devia ter esses direitos salvaguardados, “se não for pela família, que seja pelo Estado, só assim teremos uma sociedade com futuro”.

Para Kevin, não se pode falar do respeito pelos Direitos da Criança enquanto existirem petizes que fogem de casa devido a vários factores e se instalam nas ruas para vender e/ou pedir esmola, por isso afi rma que os direitos das crianças ainda não são respeitados. “O Estado devia fiscalizar todos os sectores de actividade para poder evitar situações deste género. O lugar da criança é na escola e não na rua”. “Se fosse Presidente da República ajudaria as crianças desfavorecidas, construiria mais escolas e hospitais e providenciaria alimentação para jamais sentissem necessidade de ir à rua para pedir esmola. O lugar da criança é no banco da escola, a estudar”. O sonho de Kevin é ser professor para, na sua opinião, dar às crianças desfavorecidas a oportunidade que ele teve de estudar. A sua cadeira preferida é Ciências Naturais.

Tomásia Paiva, 8 anos – é aluna da terceira classe na Escola Primária 3 de Fevereiro. Diz que ouviu falar dos Direitos da Criança na escola e interessou-se pelo estudo dos problemas que afl igem as crianças desfavorecidas. Para ela, as crianças têm direito a um nome, educação, família, carinho, amor, brincar, e à saúde.

Para Tomásia, nem todos os direitos das crianças são respeitados, tendo dado como exemplo o caso de crianças que vivem nas ruas, sem abrigo, sem ter o que vestir, mas o que mais a preocupa é a falta de alimentação. Na sua opinião, o Governo devia criar formas de reintegrar essas crianças nas suas famílias e assegurar a sua educação e saúde. “Há crianças que desde cedo têm de garantir a sobrevivência das famílias em que estão inseridas e isso faz com que elas abdiquem da escola.” “Apelo a todos os pais no sentido de providenciar as condições básicas aos nossos irmãos, tais como comida, roupa, educação e, acima de tudo, uma família. Os pais deviam levar os filhos à escola para que possam olhar para o futuro com esperança.” Se fosse Presidente da República faria questão de ajudar as crianças desfavorecidas e órfãs e faria de tudo para que elas se sentissem protegidas. Para as crianças que não têm família, construiria um orfanato com escola para que eles pudessem estudar, à semelhança dos que têm uma família. As suas cadeiras preferidas são as de Matemática e Desenho, daí o sonho de ser arquitecta.

Yula Sidónio da Silva Tique, 7 anos – Para ela, para além de ser Dia da Criança, 1 de Junho é uma data de reflexão na medida em que os pais já não conseguem estar com os seus fi lhos devido à falta de tempo. Diz que ouviu falar dos direitos das crianças pela primeira vez na escola e acha que eles são importantes mas lamenta a sua fraca divulgação. “Mas isso não deve servir de motivo para maltratar as crianças.” “Toda a criança tem direito a um nome, família, amor, educação, saúde e carinho. É muito triste quando um pai abandona a casa e os fi lhos. Esse não merece ser chamado de pai, é insensível. Há também senhoras que exploram crianças provenientes das províncias, aproveitando-se da sua inocência. Se formos à rua podemos ver dezenas dessas crianças a vender ovos, pão e outros produtos alimentares”.

Se fosse Presidente da República daria mais atenção às crianças desfavorecidas pois elas vivem em situação de carência. Construiria mais escolas, hospitais, orfanatos e criaria mais postos de trabalho para os pais poderem proporcionar boas condições aos fi lhos. O seu sonho é ser professora e nos seus tempos livres gosta de brincar, e de estudar. A sua disciplina favorita é a de Língua Portuguesa.

Tulan André Manhiça, 7 anos – é também aluno da terceira classe na Escola Primária 3 de Fevereiro. Para ele, o dia 1 de Junho é uma data consagrada as crianças possam divertir, brincar. É também um dia em que as crianças devem chamar à atenção aos pais e encarregados de educação no sentido de olharem para os filhos como seu motivo de felicidade e não como fonte de rendimento, como tem acontecido ultimamente, onde vemos pais a obrigar os filhos a deixar de estudar para vender flores no cemitério, pedir esmola ou vender na rua.

Embora reconheça a existência de muitos obstáculos, Tulan aponta a mendicidade como o principal problema das crianças na nossa sociedade. “Os meninos desfavorecidos não têm onde dormir nem o que comer. Os seus pais deviam respeitar os seus direitos e acarinhá-las porque acredito que, se isso acontecer, poderemos ver um sorriso estampado no rosto de cada criança que virmos”.

Se fosse Presidente da República “construiria casa, hospitais, dava de comer aos necessitados e punia todos os que não respeitassem os direitos das crianças “ o seu sonho é ser locutor porque gosta de ouvir rádio. Nos seus tempos livres gosta de brincar com o irmão e tem a Disney como o seu canal preferido.

Catarina Damas Cumate, 10 anos – estuda na Escola Primária 3 de Fevereiro e frequenta a 6ª classe, gosta de Ciências Naturais, porque para ela esta disciplina é a mais fácil, diferentemente das outras. Em relação ao dia 1 de Junho, uma data consagrada à criança de todo o mundo, disse: “Eu gostaria que esta data simbolizasse a solidariedade para com as crianças desamparadas e órfãs, que não seja apenas uma data para oferecer bens materiais, é preciso que as pessoas dêem carinho às crianças que não tiveram a sorte de sentir o amor paterno ou materno”.

A petiz disse ainda que esta data é, acima de tudo, um dia de festa para todas as crianças, independentemente das suas diferenças. Quanto ao cumprimento dos Direitos da Criança, esta menina preferiu não falar sobre eles. Até porque, na sua opinião, são poucos os Direitos da Criança que são respeitados. “Nós as crianças ainda não somos respeitadas, violam os nossos direitos com extrema facilidade e os prevaricadores não são punidos e a sociedade fica indiferente. Para mim o direito da criança mais violado é o da educação, porque ainda temos muitas crianças que não conseguem ingressar na escola por falta de lugar ou porque os pais não as deixam estudar”. A menina Catarina diz que se fosse Presidente da República de Moçambique iria preocupar-se em defender e promover os Direitos da Criança, construiria muitas escolas primárias e abriria empresas para as pessoas trabalharem e ajudarem as suas famílias.

António Rodrigues Júnior, 12 anos – a disciplina de Matemática é da que ele mais gosta. Para António o Dia Internacional da Criança, 1 de Junho, é uma data muito especial, deve ser um motivo para as pessoas reconhecerem a importância que todas as crianças têm na sociedade e que devem ser respeitadas.

Para Júnior, são muitos os direitos da criança que são violados, “há famílias que não deixam a criança ir à escola, não lhe dão de comer, dão trabalhos pesados, violam sexual ou fisicamente e maltratam-nas”, comenta para depois acrescentar que geralmente os que violam os Direitos da Criança é porque não os conhecem, mas também para este menino há pessoas que mesmo conhecendo os Direitos da Criança, violam-nos e não são punidas por isso.

Se António Júnior fosse o Presidente da República, construiria muitas escolas primárias, pois há crianças que não estudam por falta de vaga, reabilitaria e construiria novos edifícios e estradas, criaria uma associação vocacionada ao acolhimento de crianças desfavorecidas. Se fosse Presidente, para evitar a desgraça de várias famílias moçambicanas, Júnior construiria empresas para as pessoas poderem trabalhar e terem o seu ganha-pão, principalmente para as crianças.

Gerson Hugo de Sousa, 11 anos – frequenta a 6ª classe na Escola Primária 3 de Fevereiro, e vive no bairro da Somerschield, cidade de Maputo. O menino Gerson diz gostar da disciplina de Educação Visual porque acha que tem talento para fazer desenhos, gosta ainda de Ciências Sociais, pois esta disciplina é uma espécie de mar por onde navega bem. “Para mim, o dia 1 de Junho é uma data muito especial para todas as crianças, é um dia em que as pessoas têm que mostrar que dão valor à criança, nesta data as pessoas deviam ajudar as crianças necessitadas”, comenta para depois acrescentar que no dia 1 de Junho não se pode esquecer de crianças órfãs, sendo que é preciso que se dê carinho a essas crianças, para não se sentirem desamparadas.

Gerson de Sousa diz que se fosse Presidente puniria a todos aqueles que violam os Direitos da Criança para que não incorressem no mesmo crime, ajudaria mensalmente a todas as crianças desfavorecidas ou em condições de vida precárias, criaria leis que defendessem os Direitos da Criança e um gabinete para fiscalizar o cumprimento dessas leis, construiria mais escolas, principalmente as do ensino primário, e mandaria recolher o lixo nas ruas para deixar as cidades limpas.

Tárcia Maria Godé, 10 anos – O dia 1 de Junho é o Dia Internacional da Criança. “Este dia foi escolhido para homenagear a criança porque é o motivo de orgulho e alegria de todo os pais, por isso todo o mundo pára para prestar esta homenagem”. Tárcia considera que os direitos da criança não são respeitados no nosso país e um pouco por todo o mundo. Deu como exemplo algumas famílias que maltratam as crianças, obrigam-nas a fazer-se passar por mendigos para ganhar dinheiro. “Há mães que deitam os fi lhos nas lixeiras alegadamente porque não têm condições para os criar. Que não tem condições de criar um fi lho não o gera”.

Para Tárcia, o Governo devia ensinar os pais a respeitar os direitos das crianças para evitar o seu sofrimento. Devia também criar leis bem duras para “punir a quem ousasse violar um direito que seja. Temos o caso de pessoas que exploram sexualmente as crianças, levando-as à prostituição e ganhando dinheiro à custa delas. Esses sim, merecem ser punidos severamente para que possam servir de exemplo para os outros“.

Se fosse Presidente da República daria alimentação, roupa a todas as crianças órfãs e vivendo em situações de vulnerabilidade. O seu sonho é ser economista ou nutricionista. Nos tempos livres gosta de ler livros de História, sua disciplina favorita, brincar, ler e assistir.

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