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Português falado em Moçambique

No debate realizado no Centro Cultura Brasil-Moçambique, em Maputo, alusivo ao “Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP”, diversas personalidades sublinharam o contributo das línguas nacionais moçambicanas na língua portuguesa, além de terem comentado que o Português falado em Moçambique se difere bastante do falado noutros países lusófonos. Porém, numa mesa redonda, a discussão comemorativa a efeméride centrou-se no facto de a língua portuguesa ter-se tornado também num veículo de culturas no seio das famílias moçambicanas, havendo cada vez mais fortes tendências de nacionalizá-la.

Actualmente, em Moçambique, o número de pessoas que fala Português se situa num universo de cerca de 40 porcento da população total, estimada em pouco mais de 20 milhões de habitantes. Embora os dados existentes ilustrem que a maioria dos moçambicanos se comunica através das línguas nacionais, a língua portuguesa é considerada como um dos elementos de Unidade Nacional.

O ministro da Cultura, Armando Artur, na sua intervenção, afirmou que a língua portuguesa faz parte do nosso património linguístico, coabitando, portanto, com as línguas nacionais. “Com o advento da Independência Nacional, ela viu o seu prestígio mais reforçado com a sua adopção como um elemento de Unidade Nacional, passando, deste modo, a ostentar o estatuto de língua oficial em Moçambique”. O ministro da Cultura afirma ainda que cada vez mais os moçambicanos apropriam-se da língua portuguesa através de um processo de interacção, entre esta e as línguas nacionais, atribuindo-lhe marcas e aspectos próprios, que se consubstanciam em novas palavras e novas expressões.

Gregório Firmino, docente da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, interviu no debate questionando  “se pode considera língua de Unidade Nacional a uma língua que não seja nacional” e comenta: “A língua portuguesa em Moçambique está a passar por um processo forte de implantação, sofrendo uma reconstrução linguística e ganhando um novo posicionamento. De uma língua colonial, passou para anti-colonial e agora é considerada de Unidade Nacional”.

Na sua apresentação sobre a “Língua Portuguesa num Contexto Multilingue”, Albertina Moreno, membro da Comissão Nacional do IILP, defende que as línguas nacionais moçambicanas emprestam um contributo importante à língua portuguesa que não deve ser ignorado no processo para a ratificação do Acordo Ortográfico. “Os moçambicanos falam mais de uma língua. E a língua portuguesa ainda é um desafio para muitos, sobretudo para aqueles que desde pequeno tiveram acesso ao conhecimento e as tradições através das línguas maternas. Muitos moçambicanos só têm contacto com a língua portuguesa na escola”. Nos últimos anos, Moçambique tem vindo a introduzir as línguas nacionais no sistema de ensino para o desenvolvimento da educação no país. Presentemente, existem 300 escolas a leccionar em duas línguas e estão a ser testadas mais 16 línguas nacionais. As opiniões sobre essa forma de ensino divergem. Albertina Moreno afirma que: “Este ensino é um empreendimento bastante difícil no que respeita a sua metodologia, mas não é algo impossível. Os programas de ensino devem ser acessíveis e os professores devem ser preparados de modo a atender às situações que poderão advir”.

Fátima Ribeiro, professor de português, critica a forma em que está a ser programado o ensino bilingue no país. “Este ensino é exigente e bastante dispendioso. Seria fácil introduzir no pré-primário a nível dos PALOP’s. Receio que o ensino bilingue venha prejudicar o ensino geral”.

Em 1975, cerca de 80 porcento dos moçambicanos não falavam português. Hoje em dia há cada vez mais pessoas usando a língua portuguesa para transmitir valores culturais e conhecimentos. Fátima Ribeiro comenta: “O Português falado em Moçambique é diferente do falado noutros países lusófonos. Nós estamos a construir o nosso Português que tem várias influências das nossas várias línguas maternas e também do inglês. É um Português que, em termo de vocabulário, gramática e estrutura, é diferente naturalmente”.

A escritora Lília Momple defende que Português falado em Moçambique é próprio de um povo que adaptou a língua como a sua. “O Português falado em Moçambique é reflexo da realidade dos moçambicanos. Surgiram novos vocábulos que no tempo em que estudei não havia e acho que não devemos ficar amedrontados com o Acordo Ortográfico, pois, trata-se de um processo normal que visa uniformizar a língua a nível da CPLP”.

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