Desde Outubro último, o mercado do Estrela Vermelha possui sanitários móveis, mas a nova estrutura higiénica parece não estar a surtir os efeitos desejados. Os mercadores queixam-se de que não têm dinheiro para pagar um Metical pelo serviço. Também a propriedade destas unidades móveis está a gerar polémica uma vez que o Conselho Municipal descarta qualquer responsabilidade na sua gestão.
Rodrigues Manuel, de 45 anos de idade, trabalha como fiscal dos cinco sanitários móveis (três urinóis e duas latrinas móveis). A sua função reduz-se à recolha do um Metical depositado por cada utilizador dos sanitários e a sua “limpeza.” Para as necessidades maiores, existem outras latrinas dentro do mercado que cobram três Meticais.
Manuel revela que, face à degradação da situação, o que provocava um cheiro nauseabundo no mercado, o Conselho Municipal proibiu que se urinasse no muro, tendo sido assim que surgiram os sanitários. Montados junto ao muro da Escola Secundária Estrela Vermelha em Outubro último há ainda muita gente que, alegando não possuir um Metical para a sua utilização, continua a urinar no muro. Segundo este responsável, até às 13 horas quase todas as pessoas urinam junto ao muro, havendo só um número reduzido a pagar para utilizar os urinóis. “Eu acho que um Metical não é dinheiro que se reclame. Usamos este dinheiro para pagar ao senhor que faz a limpeza e transporta os recipientes contendo os excrementos para despejar longe daqui,” explica.
Questionado sobre o lugar onde o empregado despeja os dejectos que transporta no carrinho de mão, este responsável afi rma desconhecer o local. Por dia, entram nos sanitários cerca de 35 a 50 vendedores, um número insignifi cante comparado com o total de vendedores deste mercado, que é de cerca de 1.070.
Para Manuel, o que liberta o cheiro nauseabundo que afecta todo o mercado é o muro. “Não são os urinóis porque estes são limpos todos dias,” justifica. Almeida Ananias Fumo, vendedor de mobília neste mercado, defende que estes três sanitários são propriedade de um particular que quer ganhar dinheiro a coberto do nome do Conselho Municipal. Fumo desmente que o faxineiro leve o excremento, sobretudo a urina para os despejar algures longe do mercado, uma vez que nunca fora visto a transportá-los. “Eu acredito que, à noite, quando todos regressamos a casa, eles despejem a urina aqui mesmo por isso o cheiro agrava-se cada vez mais,” explica. Na sua opinião, estes urinóis não resolveram nada porque o cheiro mantém-se. “Seria bom que se introduzisse uma medida inovadora e rentável para pôr fim a este tipo de problemas.”
Mafala, outro vendedor, corrobora a opinião de Fumo, defendendo que os sanitários são de um privado e não do Conselho Municipal. Para ele, a urina não é levada para outro sítio, é despejada no muro desta escola, sendo assim o problema não foi resolvido. “Devia-se retirar estes urinóis porque são uma farsa,” conclui.
Conselho Municipal recusa a acusação
Segundo, Carlos Inácio Quibe, chefe do Departamento dos Mercados e Feiras do Conselho Municipal, há a tendência para as pessoas fazerem negócios em nome do Conselho Municipal. “Estes sanitários móveis não pertencem ao Conselho Municipal. A informação que temos é a de que pertencem a um privado,” explica Quive. Para ele, a colocação destes sanitários pelo empreendedor de nome Victor é uma atitude louvável já que auxilia grandemente o Conselho Municipal (CM), uma vez que as necessidades fi siológicas são uma preocupação enorme para o CM nos mercados informais.
Este responsável conta que o Conselho Municipal está neste momento a construir um muro para vedar este mercado, como forma de organizá- lo. Quive reconhece que os sanitários instalados neste mercado são precários, por isso está prevista para o próximo ano a construção de quatro sanitários de raiz tal como foi feito nos mercados de Mavalane, Jorge Dimitrov (Benfi ca) e Malhazine. A obra estará a cargo do CM.
Quive explica que o CM cobra uma taxa diária de um Metical e meio por cada metro e 40 cm, isto é, esta taxa é aplicada em função do espaço ocupado pelo vendedor. Da receita global cobrada durante o ano, 10% são enviados para a Comissão do Mercado para a manutenção e alguns serviços. “A receita global do Mercado Estrela no ano transacto foi de 22.425.220.30 Meticais, donde foram retirados 10% para a Comissão de vendedores deste mercado,” esclarece. No entanto, Quive informou que é da responsabilidade desta instituição zelar pelos mercados em todos os sentidos, mas tal não proíbe que os privados ou vendedores contribuam para o seu desenvolvimento.
De acordo com Quive, os sanitários existentes nos vários mercados foram construídos pelo CM, tendo delegado as cobranças das entradas e a sua gestão à Comissão de Vendedores de cada mercado. Para Quive, alguns vendedores do Mercado Estrela continuam a urinar junto ao muro porque não querem pagar a utilização dos sanitários.
Segundo Ângela Agy, directora da Escola Secundária Estrela Vermelha, a solução podia passar pela deslocação do mercado para outro local. Agy acha que “provavelmente não são os vendedores do mercado que urinam junto ao muro, mas os cidadãos em geral e as pessoas que se embriagam no mercado Estrela.”
Comissão de Vendedores satisfeita
Paulo Jonasse, chefe da Comissão de Vendedores deste mercado, assume que os sanitários móveis instalados no mercado Estrela são de um privado de nome Victor. “Vendo que os vendedores urinavam junto ao muro, a Comissão de Moradores decidiu contratar um privado para montar sanitários móveis para resolver esta situação. Antes da sua instalação, o mercado e o muro encontravam- se em condições deploráveis, por isso fi zemos reuniões de sensibilização sobre o prejuízo que a urina representa para o muro da escola, mas tudo se revelou infrutífero. Mas após a instalação dos sanitários a percentagem de indivíduos a urinar junto ao muro decaiu.”
Respondendo à acusação de que os dejectos são despejados ainda no muro, Jonasse diz não constituir a verdade porque, à noite, os sanitários são trancados. “Mas, efectivamente, não sei onde o senhor da limpeza despeja os excrementos,” explica.