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Xïkwembo: Girls talk “not allowed”

Em Moçambique:

– Ex-namorado é como vestido velho, quando olhamos nos questionamos: como é que eu fui capaz de um dia sair à rua com isto?

Na Índia:

– Joana, posso perguntar-te uma coisa?

– Sim.

– Tu… já alguma vez beijaste alguém?

– Eu? C’mon! Claro que… quer dizer… hummm… sim. Porquê?

– Eu nunca beijei ninguém. Eu acho que é errado.

– Porquê?

– As pessoas dizem que é errado.

– E o que é que tu sentes?

– É errado. Eu acho que é.

– Ok…

Na marginal de Maputo:

– Sim, homem é como montra, roupa nova, acessório… tem coisas que nunca nos ficaram bem, nunca nos serviram, forçámos as mangas, os tivemos de subir tanto as bainhas…. Mais valia comprar outro modelo!

– Mas nós às vezes insistimos!

– Somos burras mesmo! Ysh! Amiga, já viste? Hoje não há nada de interessante.

– Yap, está num daqueles dias que nem dá pena não ter taco!

– Mas amiga, sabes que nas compras, às vezes tem de se dar um desconto. Olha aquele damo ali de jeans!

– Desconto? Querida eu desde há um tempo que estou em liquidação total mesmo! Pede lá contacto! Ao fim do dia à beira do rio em Alephey:

– Na tua terra é permitido uma rapariga caminhar com um rapaz a esta hora?

– Claro! Não tem problema!

– Com um amigo?

– Com um amigo, um namorado, o que quiseres!

– Mesmo uma mulher que não seja casada?

– Claro! Aqui não?

– NÃO! It is not allowed!

Sim, estou de viagem, levo xikwembo a outras latitudes, para me perder noutro continente. Como se diz em Moçambique vou com dois “v”, vou e volto. Vou para viver outra vida, com outras referências, diferentes práticas, novos cheiros e definitivamente outros papos… acabo de chegar, ainda a experiência pinga a gota gota na escrita, ainda vivo e escrevo sem o tempo do pensar. Ainda, como acontece quando se viaja de avião, ainda tenho na mala o cheiro da baía de Maputo, ainda não me entrou nos cabelos o jasmim indiano. E talvez por isso a mente viaja sempre em comparações, nas inevitáveis medidas do pensamento e do desejo do povo orgulhosamente “made in Mozambique”:

– Sabem, uma prostituta disse-me uma vez “tens bom material mas não o usas!”

– Ah! Ah! Ah! A sério?

– Ya… mas eu acho que ela foi nice, porque podia só ter feito o que tinha a fazer e não comentar, mas ajudou-me, eu a partir daí comecei a pensar mais no que fazia…

– Hardware e software!

– Yap! Isso é bom tema!

– Sim todos falam das questões dos tamanhos! Claro que importa pah!

– Ya, importa!

– Claro!

– Importantíssimo!

– Ahahahahahah!

– Mas não pensem que basta ter tamanho! Aaaaaaaaaaaaaah! Sem técnica isso tudo não anima pah!

Na índia:

– Eu estou a pensar num amigo…

– Um amigo?

– Sim, especial…

– Um namorado?

– Não, isso “not allowed”!

– Ok… então? Conta.

– Este meu amigo quer amar-me…

– E tu?

– Eu amo os meus pais mais… não posso aceitar.

– Mas… são diferentes tipos de amor..

– Não aqui. Not allowed.

Sim… eu agora estou na Índia, em Moçambique celebrou-se recentemente o dia da mulher moçambicana e eu aqui, sentada no chão da varanda a falar com Lakshmi sobre o amor… amor que a ela não é permitido sentir…

– Tu tens saudades de alguém?

– Eu? Sim…

– De um namorado?

– De um amigo… especial. Sabes o que é?

– Não sei… acho que não sei… Mas na tua cultura é diferente…

– Sim.

Qual é que tu achas que é melhor?

– Eu… não sei. Eu respeito ambas e… entendo ambas.

– Ok…

– E tu?

– Eu acho que a tua cultura é errada, porque vocês têm um namorado, depois têm outro e isso não está certo!

Hummmm… sim, eu acho que já tenho saudades de Moçambique!

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