A Administração Marítima em Sofala é denunciada como tendo violado normas e convenções da marinha mercante, ao ter permitido a saída do navio petroleiro denominado Songa Crystal, que encalhou no canal de acesso ao porto da Beira no passado dia 12 de Março sem que o mesmo fosse sujeito a inspecção para determinar as condições operacionais e estruturais da embarcação, como por exemplo se teria sofrido rombo do casco ou danos do hélice e lemo.
Uma fonte abalizada na matéria da marinha mercante disse ao nosso jornal que em condições normais todos navios quando se envolvem em qualquer tipo de incidente antes de zarparem do porto onde forem atracar recomenda- se que sejam verificadas as condições operacionais e estruturais da embarcação.
“É uma norma de carácter obrigatória” – referiu, salientando que esse trabalho deve ser executado por especialistas certificados na matéria. Neste caso, seria necessário envolver mergulhadores que desceriam ao fundo do mar para verificar sobretudo o estado da estrutura do navio, com destaque para as condições do casco, hélice e lemo.
Trata-se de uma operação complexa e bastante onerosa, mas necessária até para a salvaguarda dos tripulantes e da própria embarcação que representa um investimento de certa forma multidimencionado.
O Autarca soube, entretanto, que não existem na Beira nem no país mergulhadores certificados, sendo que o recurso tem sido o mercado sul africano. O Autarca soube ainda que para evitar o envolvimento de mergulhadores o comandante do navio Songa Crystal alegou que as águas no porto da Beira são escuras e não permitiriam visibilidade dos mergulhadores.
No entanto, a nossa fonte referiu que a partir da bóia dos pilotos “P” as águas são limpas e tem sido lá onde geralmente ocorrem trabalhos de mergulho para verificação e ou reparação de navios.
“Se o navio zarpou do porto da Beira sem que tenha sido feita a inspecção obrigatória existe um único culpado, a Administração Marítima, a única autoridade competente que devia exigir o cumprimento dessa norma universal da marinha mercante” – afirmou a nossa fonte.
O Autarca soube, entretanto, que existem situações em que essa norma tem sido manifestamente ignorada, com consentimento da própria autoridade competente, para se evitar despesas com a contratação de empresas de mergulho.
Neste caso quem deveria assumir as despesas seria a empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM-EP), porquanto o navio sujeitou- se àquele incidente por erro de seu piloto destacado para levar o navio da barra até fundear no cais.
Refira-se que o navio em causa encalhou no sábado (12.03.2011) de manhã tendo desencalhado na tarde do mesmo dia e de seguida atracado no porto da Beira de onde viria a zarpar na segunda-feira seguinte, 14 de Março de 2011.
Administrador Marítimo alega ter havido inspecção moral
A nossa reportagem contactou o Administrador Marítimo em Sofala, António Reginaldo Vilanculos, por sinal um Engenheiro Naval. Ele confirmou a ocorrência, nomeadamente o encalhe do Songa Crystal na manhã do dia 12 de Março de 2011, como também confirmou as causas que provocaram o incidente, designadamente erro de pilotagem – conforme anunciamos na edição n° 2115, de 14 de Março de 2011.
No entanto, revelou que a retirada do navio do porto da Beira sem que tivesse sido feita a verificação material das condições operacionais e estruturais da embarcação foi uma decisão concertada entre o agente do barco, o comandante e a equipa da Administração Marítima em serviço nesse dia, que julgaram conveniente que assim se procedesse depois de acharem que não havia perigo.
Disse que esse procedimento é permissível, em que o comandante da embarcaçao se reúne com os restantes membros da tripulação e chegando a conclusão de que não há perigo eles assumem a decisão.
“É uma das inspeções de que se está a referir e chama-se preliminar. Podia ter sido feito materialmente ou moral. Neste caso podemos dizer que se tratou se uma inspecção moral que foi feita, em que o capitão achando com toda estrutura técnica que ele tem no navio concluiu que o barco não tinha problemas e foi se embora”.
O Autarca soube que o petroleiro Songa Crystal zarpou do porto da Beira em direcção a Madagascar e desde então não correm relatos de anomalias. A Administração Marítima é a única autoridade governamental competente para fiscalizar a entrada e saída de navios nos portos moçambicanos.