Super-Águias (Nigéria), Águias de Cartago (Tunísia) e Quénia, vão sobrevoar o território dos Mambas, fruto da nossa qualifi cação para a fase decisiva do Apuramento para o CAN e Mundial 2010. O objectivo da caminhada que todos os moçambicanos pretendem coroada de êxito, é a terceira presença da nossa Selecção na prova mais importante do continente, depois do Egipto e Burkina Fasso. E como o sonho protege os audazes, mesmo tendo em conta as teóricas diferenças que nos separam de dois dos adversários, o sonhar com o Mundial da África do Sul não é um pecado mortal.
Estamos entre os 20 melhores de África por acaso? Uma leitura isenta e desapaixonada, mostra-nos que não. Ao nos ter saído no sorteio da primeira fase Senegal, Madagácar e Botswana, começámos desde logo a tremer face à obrigatoriedade de iniciar a prova na casa do mais forte do Grupo. A surpresa foi a excelente prestação dos nossos atletas, que não nos trouxeram o empate devido ao momento menos inspirado de Dário Monteiro, ao não conseguir converter uma grande penalidade. As partidas que se seguiram revelaram uma Selecção em crescendo. Na memória de todos ainda permanecem, indeléveis, as imagens da reviravolta tswana na Machava e a “roubalheira” em Madagáscar. Mas agora tudo isso é passado. O futuro tem novas e maiores exigências, face aos adversários que nos saíram do sorteio.
Quem é quem
A Nigéria apresenta-se naturalmente como o mais forte do Grupo, por várias razões. Isso é justifi cado pelo seu palmarés, não só nos seniores como nas camadas de formação; o extraordinário porte físico dos seus jogadores e a qualidade do campeonato interno, aliado ao leque de opções vindas do estrangeiro. Mas tal como David venceu Golias, os Mambas têm por obrigação adoptar cuidados e opções tácticas certas para esta partida. Tal como fez, há uns anos na Machava o Desportivo de Maputo, frente ao BCC Lions, da Nigéria. O então campeão moçambicano, formado por atletas de baixa estatura como, Xande, Tiago e outros, jogou de pé-para-pé, usando o passe e a fi nta curta como armas principais. Resultado: 3-1 a nosso favor. Já a águia vinda da Tunísia, deverá ter outras características. Sem a estatura e capacidade de choque dos nigerianos, as Águias de Cartago jogam simples, mas com um grau de efi cácia muito grande. A fi nta e o espectáculo não costumam a ser o seu forte, mas tacticamente são rígidos, sabendo segurar os resultados, mesmo que tangentes. Do Quénia, diz-se que é o mais acessível do Grupo. Será? Não é de crer, porque alia uma mescla de força física e técnica, muito difícil de contrariar pelo estilo que pautamos.
Derrotar a mística
Moçambique, antes de pensar em ganhar no terreno graças aos factores que desequilibram as contendas, tem que vencer um adversário omnipresente que é a mística. Trata-se do mito que as equipas de gabarito transportam e que, apesar de ele (o mito) não marcar golos, “bloqueia” e prejudica os teoricamente mais fracos. Aos nomes, aparato, “ranking-FIFA”, àvontade e até “bana-estilo”, só podem ser contrapostos uma alta condição psicológica, nem sempre fácil se nos consideramos uns “coitadinhos”. E que trunfos poderão jogar a nosso favor? Desde logo, a imprevisibildade de algumas das unidades principais, casos de Tico-Tico, Mahomed Hagi, Genito e Dário Monteiro; a facilidade de executar rotações para conter a ânsia dos opositores; o jogo no pé e a excelente ligação entre os sectores que o técnico holandês conseguiu implementar. Como factores contra, a baixa estatura e capacidade de choque; a falta de concentração em momentos cruciais e o desnível entre titulares e suplentes. Este último aspecto é o espelho da competitividade do Moçambola que não permite revelar estrelas do mesmo quilate dos que actuam fora.
Aprender da lição anterior
É claro que os adversários desta fase não serão os mesmos, mas também não queremos que a nossa Selecção seja a mesma. Se o “papão” Senegal, com toda a sua “legião europeia” acabou não o sendo, porque não dar tratamento idêntico à Nigéria, à Tunísia? Olhar com respeito não signifi ca fi car aterrorizado. A surpresa de nos termos qualifi cado entre os 20 melhores de África, terá também causado nos opositores alguns receios. Até porque… Na “selva” das grandes competições não são permitidos “cordeirinhos”. Se tamanho, em futebol fosse um argumento, Maradona não teria sido melhor do Mundo, tal como Romário e outros. Ressuscitar a Machava como “cemitério” dos visitantes, depende da união. público retomou a empatia com a Selecção. Já criámos a nossa própria mística. A partir daí, é só “operar milagres” na casa dos adversários. A Mamba, matreira, pachorrenta e venenosa, tem que saber esperar pelo momento em que as águias, altaneiras, adromecem, para lhes desferir a picada fatal. Os últimos indicadores que a nossa Selecção, com uma liderança sóbria da equipa técnica nos deram são de que… temos Mamba, sim senhor!