De há um mês a esta parte, a polarização mediática e diplomática sobre os acontecimentos da Tunísia e do Egipto abriu o que se poderia chamar uma janela de oportunidade para alguns responsáveis subsarianos confrontados com crises de legitimidade e que não ignoram a que ponto a famosa comunidade internacional é por vezes versátil e inconstante.
A eleição presidencial na República Centro-Africana, cujos resultados foram contestados pela oposição, passou despercebida, os ajustes constitucionais em curso na RDC, que até já determinaram uma modificação no modo do escrutínio, idem.
Segundo especialista na matéria, Laurent Gbagbo foi, sem dúvida, quem melhor soube aproveitar este desvio de atenções ao ponto de, como demonstram os resultados “marfinenses” da última cimeira da União Africana, já não se falar mais do problema (um golpe de Estado eleitoral), mas da solução (como sair do impasse sem recorrer a uma intervenção militar da qual ninguém quer ser responsável).
A este respeito, permitam-me três advertências que poderão ser usadas pelos membros do painel de chefes de Estado encarregues pelos seus confrades de uma enésima mediação. Sabe-se que Gbagbo não irá partir. Gbagbo não é Ben Ali.
Nem as sanções, nem as ameaças do TPI, nem o congelamento dos bens – estima-se que possa resistir ainda durante meses – nem a rua, nem os militares o irão demover. Gbagbo é um sobrevivente, disposto a morrer sob os escombros do seu palácio.
Suponhamos que Ouattara não cede porque este é o combate da sua vida, para o qual levou os seus colaboradores mais próximos e os seus partidários.
Está em jogo não só a sua credibilidade, mas também a da ONU, da CEDEAO e de todos aqueles que, no exterior, o apoiam. Suponhamos, enfim, que um e outro já atravessaram o seu Rubicão, queimaram os seus navios, e que uma conciliação entre os dois (três, com Bédié) parece impossível devido aos ódios insuperáveis. Disto isto, boa sorte e bon courage*…
*Bon courage é uma expressão francesa de compaixão, onde a pessoa mostra solidariedade, mas não ajuda (ou porque não pode ou porque não quer). É, assim, um apoio moral.