Esta é a mensagem que escrevo para a minha Vila. A Vila que me viu nascer, a Vila que me trouxe ao mundo, a Vila que muito cedo me mostrou o real sentido da vida. A Vila por onde dei os meus primeiros passos e aprendi o alfabeto português. A Vila onde muito cedo arredei o pé por questões académicas. A Vila que visito aos fins-de-semana, a Vila onde deixei os meus amigos de infância. Afinal, a minha Vila de coração.
Esta mensagem até poderia abranger a todos os meus conterrâneos, mas, infelizmente, abrange certo segmento da população. População esta que vive e sofre as injustiças sociais.
População que ao amanhecer não tem o que comer e muito menos condições para ir atrás do alimento.
Àquele camponês que perdeu a sua produção agrícola com a subida de nível do Rio Incomáti, encontrando- se hoje na rua da amargura. Àquela mãe que ao raiar do sol percorre longas distâncias à busca de água e hortícolas para abastecer mais de uma dezena de filhos que vivem na penúria sem, no entanto, saber se retomará à casa.
Nesta mensagem, incluo aquelas crianças desprovidas de afecto, amor e carinho de mãe por diversas enfermidades que assolam este planeta, com maior enfoque para o HIV/SIDA.
Àqueles adolescentes e jovens, que em Outubro vêem a sua pauta pintada de vermelho e substituída em troca de notas verdes com timbre de Samora Moisés Machel.
Não me desprezo dos jovens que passam a vida nas barracas aos fins-desemana mesmo sem terem pão em casa. E uma palavra de consolo vai à minha geração que hoje deambula quase que desvairadamente pelas ruas sem projectos para o futuro. Dos jovens que andam dum lado para o outro com CV’s a tentarem a sua sorte nas várias instituições públicas e privadas na minha Vila.
Outrossim, esta mensagem é endereçada às vítimas dos homens mascarados supostamente do policiamento popular, que foram espancadas, estupradas e assaltadas no regresso a casa vindas dos postos laborais, das escolas, do hospital, do ginásio, etc.
Aos oprimidos, excluídos, expurgados e marginalizados pelo poder por não pertencerem a este ou aquele grupo político e por não concordarem com as ideias dos chefes, dirigentes e governantes locais. Aos que são forçados a pertencerem a certos grupos por ameaças, perseguição, medo de sanções e exclusão, entre outras formas de coacção.
Às meninas que contraíram gravidez indesejável de senhores chefes de família. Aos rapazes que por não possuírem meios de transporte, são repetida e categoricamente recusados o “sim” das minhas manas que hoje, achadas crescidas, entregam-se aos que possuem carros, lamentavelmente.
Não me esqueço de incluir nesta mensagem os que concluem a 12ª classe desprovidos de condições para continuarem com os estudos fora da Vila, por falta duma instituição superior, e a posteriori, entregamse pacatamente aos trabalhos medíocres confundidos com a exploração do homem pelo homem e os que vivem abaixo da linha da pobreza que cada dia que nasce é um novo desafio, e à noite, uma viagem perigosa ao mundo obscuro.
Enfim, é esta a mensagem, mensagem de carinho, de consolo, de esperança, de força e de motivação que envio à minha Vila. Melhores dias virão, por isso, segurem-se irmãos que, juntos, sairemos dessa.