Maputo o El Dorado das Províncias
A província de Maputo, a grande capital que concentra as maiores e mais importantes infra-estruturas de Moçambique, é o destino de milhares de moçambicanos com o objectivo de iniciar a vida. Acredita-se que as melhores oportunidades para enriquecer rapidamente estão aqui na capital que é vista como um autêntico El Dorado.
Pelas ruas da cidade existem muitos rapazes com histórias parecidas, embora com motivações diferentes. Dedicam- se à venda ambulante de produtos como fruta, sandes, rebuçados, batatas fritas, chocolates, chuingas entre outros. Gabriel Adelino, 16 anos, é um destes meninos, vendedor ambulante de ovos cozidos. Vem do distrito de Chibuto em Gaza, chegou a Maputo há dois anos, abandonou a escola quando transitou para a sétima e não teve vaga devido à idade avançada para a classe em causa. Procurámos saber as razões que o trouxeram a esta cidade, ao que respondeu: “por emprego.” Hoje, de sol a sol, vende ovos cozidos e ganha mil Meticais como salário, dos quais retiram duzentos para pagar a renda do quarto onde vive no Bairro Hulene.
De acordo com Adelino, veio a Maputo de transporte semi- colectivo interprovincial de passageiros, os chamados chapa 100 e o dinheiro de passagem a própria mãe o deu. O que não acontece com o seu amigo e companheiro José Julião de 15 anos. Este também perdeu a vaga na escola, quando transitou para a sexta classe. Vendo o amigo com o saco de roupa à mão, resolveu fugir de casa sem que ninguém soubesse. O objectivo dos dois era encontrar o tesouro que fosse mudar as suas vidas. Hoje, levantam-se cedo, às cinco horas da manhã, e fazem- se à rua. O sol nasce e os encontra em pé, nas esquinas estratégicas da cidade por onde passa a maior clientela.
No fim de cada dia conseguem vender, em média, cinco dúzias de ovos sendo o sal fino grátis. “Quando perdi a vaga decidi vir a Maputo, porque em Chibuto teria de ir à machamba e nunca teria salário ou dinheiro fruto do meu trabalho” defendeu-se Adelino. Adiante, o nosso entrevistado falou um pouco dos planos traçados antes de cá vir, que eram trabalhar, ganhar muito dinheiro, comprar carro e voltar para a sua terra natal rico. Mas, como isso aconteceria ninguém sabe, nem os próprios donos das ideias, que possuem habilitações básicas de escolaridade. Desde a fase de urbanização da cidade de Maputo que as autoridades moçambicanas se têm queixado do grande movimento de pessoas. Antes era para os países vizinhos e depois do velho sonho de trabalhar na minas do rand (África do Sul), a seguir está o el dorado chamado Maputo. A esta movimentação ou fluxo de pessoas de vários pontos do país para as grandes cidades, dá-se o nome de êxodo rural. O fenómeno está acompanhado de muitas adversidades, designadamente grande concentração de pessoas em lugares pequenos, a criminalidade, o desemprego, a falta de escolas para responder ao elevado número de alunos, salas de aulas com número superior ao normal e poucos professores para ensinar 80 alunos por turma. Milhares de jovens de tenra idade alimentam o sonho de vir cá juntar bens, ficar ricos, mas na maioria dos casos o desejo torna-se pesadelo e são reduzidos a simples vendedores ambulantes que de sol a sol ganham o seu pão pelas ruas. El dorado é uma antiga lenda narrada pelos índios sobre os espanhóis na época da colonização da América. Falava de uma cidade em que as construções/ edifícios seriam todas feitas de ouro maciço, a riqueza e o tesouro existiriam em quantidades imensuráveis. Este é o drama que muitas pessoas iludidas por amigos vivem, abandonando a escola e a família e aventurando-se para Maputo de comboio ou chapa 100 à busca de melhores condições de vida.