A povoação de Matalana, no distrito de Marracuene, encheu-se esta sexta-feira (14) de muitos milhares de pessoas para o funeral do maior artista plástico moçambicano Malangatana Valente Ngwenha.
“A Nação moçambicana está de luto, as artes e as letras, a cultura e as pessoas de bem e amantes da paz estão de luto. Matalana, Moçambique e o Mundo choram o desaparecimento físico do grande mestre Malagantana”, começou por dizer o Presidente da República, Armando Guebuza, no último elogio fúnebre ao pintor, em Matalana.
Malangatana morreu no passado dia 5 no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, Portugal, vítima de doença prolongada.
Em vida, o artista plástico deixou expressa a vontade de ser sepultado na terra natal, Matalana, onde os seus restos mortais chegaram na quinta-feira(13) para que também a povoação pudesse velar o corpo do pintor.
Na sexta-feira, o auditório aberto do Centro Cultural de Matalana voltou a ser pequeno para tantas pessoas que quiseram prestar uma última homenagem ao artista, que mereceu honras de Estado e a presença de muitas figuras da política nacional. “Estamos aqui para acompanhar o teu regresso à terra natal. A cerimónia de hoje é um dos quadros mais bonitos que já pintaste”, elogiou a vice-reitora da Universidade A Politécnica, Inês Nogueira da Costa, cuja instituição atribuiu o “Doutor Honoris Causa” ao artista em 2007.
Perante um auditório cheio de gente, que nem a ameaça de chuva arredou e que apesar da perda não deixou de trajar as cores vivas que sempre caracterizaram as obras de Malangatana, Armando Guebuza lembrou o “embaixador” e “sublime ícone da cultura moçambicana”.
O cortejo fúnebre seguiu depois para o local escolhido para receber a campa do artista, próximo do terreno onde vai ser erguida a futura Fundação Malangatana, e onde a atriz moçambicana Lucrécia Paco o aguardava para as últimas palavras de homenagem, escritas pelo poeta moçambicano Eduardo White.
Palavras para o “pintador enfeitiçado da vida” e “colorido marinheiro do mundo” que, em pleno inverno português, levou o “sol” a Matosinhos e que regressou a Matalana para viver “na consanguinidade das suas telas”.
As 19 salvas de canhão e o hino nacional “Pátria Amada”, entoado pela banda das Forças Armadas de Moçambique, acompanharam a descida da urna na campa do pintor, que será guardada pelo crocodilo (“Ngwenya”) e recordada pelas imensas flores que os presentes puderam depositar, ainda ao som dos cânticos solenes entoados pelo exército.
Depois de mais de uma semana de cerimónias fúnebres, iniciadas ainda em Portugal, na sexta-feira foi o “até sempre” a Malangatana, o filho da terra e do mundo. Malangatana, “agora és mais nosso do que nunca”, lembrou Inês Nogueira da Costa.