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Visão do papa sobre camisinha é “expressão do óbvio”

A grande surpresa do novo livro do papa Bento 16 não é o facto de ele achar que a Igreja Católica pode autorizar o uso da camisinha para prevenir a proliferação do HIV/ SIDA, sob algumas circunstâncias, mas o facto de ele ter levado tanto tempo para dizer isso.

Trechos de um novo livro de entrevistas do papa fizeram manchetes em todo o mundo, e alguns analistas chegaram a dizer que a Igreja Católica teria mudado repentinamente de postura em relação à contracepção e teria finalmente começado a entrar em sintonia com a sociedade moderna. Mas uma leitura atenta dos trechos citados mostra que o papa não rompeu com ensinamentos passados, mas analisou a questão, usando lógica que data de São Tomas Aquino, do século 13. Ele conclui que o uso da camisinha, embora ainda seja errado, pode representar um mal menor em alguns casos.

Muitos teólogos católicos chegaram à mesma conclusão anos atrás, e alguns padres na África aconselham reservadamente o uso da camisinha quando esta representa uma alternativa à contaminação com o vírus HIV/SIDA, por exemplo no caso de mulheres cujos maridos soropositivos querem fazer sexo com elas. Mas é a primeira vez em que um papa diz isso publicamente.

A questão vem representando um campo minado para vários papas, e tentativas sucessivas de explicar a postura da Igreja fracassaram, como o próprio Bento descobriu durante visita à África no ano passado. Na época, ele causou ultraje internacional quando disse a jornalistas que o acompanharam na viagem que camisinhas não devem ser usadas porque podem agravar a proliferação do HIV/SIDA.

Agora o Papa procurou a ajuda de um jornalista católico em quem confia, o também alemão Peter Seewald, cuja longa entrevista com Bento forma o livro, para ajudá-lo a reformular o argumento de uma maneira que faça a doutrina da Igreja parecer menos fria e absoluta. Para o jornalista católico britânico Austen Ivereigh, “o Papa usou o formato informal de um livro-entrevista para assinalar algo que dá a impressão de ser uma mudança grande de postura, mas que não passa de uma expressão do óbvio.”

SEM MUDANÇA QUANTO À CONTRACEPÇÃO

No livro “Luz do Mundo”, Bento destaca que o uso da camisinha não é uma solução moralmente aceitável à epidemia da HIV/SIDA, porque, segundo o Papa, a camisinha pode converter o sexo de uma expressão de amor desinteressado em “uma espécie de droga”. Ele afirma em seguida que o uso da camisinha pode justificar-se em alguns casos, como o de uma prostituta seropositivo que queira proteger o seu parceiro.

“Trata-se de um primeiro passo na direção de uma moralização, de tomada de responsabilidade, mas não é realmente a maneira certa de enfrentar o mal da contaminação pelo HIV/SIDA”, diz Bento.

Ao mencionar prostitutas, o Papa encontrou uma maneira de tolerar algum uso de camisinhas para prevenir o HIV/SIDA e, ao mesmo tempo, manter a proibição da Igreja à contracepção artificial que bloqueia a procriação — que, segundo ela, constitui o objetivo natural do sexo.

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