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Egipto – Um sistema político inabalável

Os ministros responsáveis não estão preocupados, mesmo quando uma tela de Van Gogh é roubada em pleno dia ou o abastecimento de electricidade é cortado durante um dia inteiro: os seus lugares estão protegidos pelo regime.

Se tivéssemos interrogado, há semanas, Sua Excelência o ministro da cultura Faruk Hosni sobre o estado dos nossos museus, ter-nos-ia respondido que a sua segurança não ficava atrás do que se fazia noutros países.

Se o presidente Mubarak tivesse decidido visitar o x (de arte moderna, principalmente europeia), o ministro teria, como de costume, vestido o seu melhor fato para o receber sob o olhar das câmaras de televisão e declarado que tudo ia bem no melhor dos mundos. Acontece que um dos quadros mais importantes da história da arte (as papoilas, de Vincent Van Gogh) foi roubado deste mesmo museu, em pleno dia.

Percebemos, então, que a segurança era inexistente, que a maior parte das câmaras de videovigilância não funcionava há anos e que não eram efectuados trabalhos de reparação desde 1995.

Este quadro faz parte do património da humanidade, sendo inútil querer atribuirlhe um valor em dólares. O seu desaparecimento é uma verdadeira catástrofe e uma enorme perda para o Egipto.

Se vivêssemos em democracia, este escândalo teria sido julgado suficientemente grave para que todos os responsáveis do ministério fossem demitidos. Mas estamos no Egipto: seja qual for a falta cometida, nada pode abalar Faruk Hosni, porque ele goza da confiança do Presidente.

O mesmo se passa com a maioria dos outros membros do governo. Como o ministro da Energia, Hassan Yunes: insistia em dizer que a rede de distribuição de electricidade estava em perfeitas condições. Pior ainda, mesmo antes do Ramadão, produziu esta declaração interessante: ‘Nunca cortaremos o abastecimento em pleno jejum!’.

Para lá da postura de combatente pela fé que adopta (mas que sentido fará a sua declaração para os cidadãos coptas ou para os muçulmanos que não praticam o jejum?), a sua afirmação foi particularmente fútil, uma vez que o Egipto mergulhou numa escuridão profunda logo após o início do Ramadão, tendo bairros e cidades inteiras ficado privados de electricidade. O ministro deitou as culpas para os habitantes, acusados de abusar de ar condicionado como se não tivessem o direito de ter e usar um equipamento de climatização, cujo consumo pagam a peso de ouro.

Pouco depois, percebemos que estas avarias se explicavam pela falta de gás nas centrais… porque o exportamos para Israel. Se vivêssemos em democracia, isto teria sido suficiente para provocar uma exoneração.

Mas estamos no Egipto, onde os ministros nunca são responsabilizados pelos seus erros e podem ser incompetentes, trapalhões ou mesmo arrogantes para a população.

O problema não reside nesta ou naquela personalidade. O problema está na maneira como se processa o acesso a esses lugares. Se vivêssemos em democracia, em primeiro lugar seria necessário ganhar eleições, ou seja, obter o sentimento dos eleitores.

Num país oprimido pela tirania, pelo contrário, é o chefe do Estado quem nomeia e exonera os ministros, cuja única preocupação é agradar-lhe. Enquanto conseguirem fazê-lo, ninguém lhes pedirá contas.

O problema do Egipto não está nas pessoas, mas na natureza de um regime fundamentado na fidelidade e não na competência, e onde todos os poderes estão nas mãos de um só homem.

Este regime achincalha o princípio da igualdade de oportunidades, ridiculariza as qualidades dos candidatos, afasta os talentos e não recompensa senão os que sabem redigir um relatório de polícia, que dominam a arte da bajulação e que passam o tempo a ‘andar ao sabor do vento’. O Egipto vive uma verdadeira derrocada a todos os níveis.

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