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No reino das confissões

A magia do dramaturgista

Em “Confissões de Adolescente”, peça dirigida pela encenadora Manuela Soeiro, os adolescentes falam das suas experiências: a primeira vez. Quer dizer, faz-se um retrato sociológico daquela camada juvenil e, diga-se em abono da verdade, a peça não se prende a fórmulas fáceis de construção de uma narrativa teatral.

A peça teatral “Confissões de Adolescente” faz lembrar um género de filmes americanos – teen-movies comedy – presos à elegia dos adolescentes: rapazes e raparigas com um estado de rebeldia avançado e hormonas em fúria, pensando invariavelmente em gozar a vida e experimentar as coisas que lhes são apresentadas de forma inofensiva. Mas é puro engano!

Embora se perceba isso, a peça não é uma soma de clichés, nem uma metáfora sobre aquela fase da vida do ser humano de profundas transformações bio-psicosociais e tão-pouco um “puxão de orelhas” aos mais novos.

Aliás, “Confissões de Adolescente” também se desembaraça rapidamente de qualquer moralismo, abordando contradições das mensagens dirigidas aos jovens, o sexo, a droga, tabus e a aproximação à vida adulta.

“Achamos que era muito importante trazer este tema para os jovens de modo a prepará-los no momento em que pretendem falar dos assuntos com os seus pais” diz Manuela Soeiro, encenadora com larga experiência no universo do teatro.

Numa realidade em que abordar a sexualidade ainda continua ‘segredo dos deuses’, a peça fala, numa linguagem directa, jovem e dinâmica, de pequenos insólitos que caracterizam o comportamento e a atitude adolescentes face à sociedade em que estão inseridos.

“Este tema é sempre um tabu. O teatro tem essa função de mostrar a vida como ela é, e, ao mesmo tempo, romper com as barreiras”, comenta Soeiro.

No centro da peça, recheada de humor – quanto baste – estão os actores Jorge Vaz, Dalila Figueiredo, Sílvia Mendes e Arlete Guilhermin, acompanhados pelo músico Sérgio, que encarnam o tipo de adolescentes que os mais velhos, fazendo jus à autoridade paternalista, consideram “uns inúteis”, pois só pensam em farras.

Os actores, escolhidos a dedo – até porque já contam com vários anos no mundo da representação -, apresentaram um espectáculo feito com alma e paixão, além de provarem que não basta ser-se bom no que se faz, é preciso carregar a arte de representar nas veias.

“É uma experiência agradável voltar a vestir camisa de adolescente e também pensar no meu tempo em que muitas dessas coisas não havia, sobretudo essa abertura que há agora de informações sobre a sexualidade e o HIV/ SIDA”, comenta Jorge Vaz, actor que, na peça, vive vários papéis de adolescentes em constantes conflitos e descobertas.

O actor considera ter sido “fácil fazer o papel de adolescente”, até porque para si “foi um grande prazer reviver essa fase da vida, a adolescência, e, sobretudo, estar diante dos jovens que se emocionam com a apresentação e expõem os seus sentimentos”.

Num tom intimista e sem preconceitos, “Confissões de Adolescente” aborda a experiência dos jovens no que respeita à perda da virgindade (a primeira relação sexual), à gravidez precoce, à primeira menstruação, ao relacionamento com pessoas mais velhas, além do primeiro contacto com estupefacientes e bebidas alcoólicas.

As histórias, contadas de forma ágil, privilegiam situações da vida real, trazem uma componente educativa e fazem uma crítica à atitude paterna perante os seus filhos. “Falar da ´primeira vez´ é uma forma que encontrámos para contar uma história.

Optamos por essa maneira porque os primeiros sentimentos ou aqueles que se gostaria de ter é o despertar para a vida” explica Soeiro.

Jorge Vaz comenta que a peça não é apenas direccionada para os próprios adolescente, mas também “chamamos à atenção os pais, pois eles têm a sua quotaparte no comportamento dos seus filhos que buscam soluções fora de casa”.

A apresentação daquela peça teatral foi feita, na última quarta-feira, na sala de Educação Musical da Escola Secundária Josina Machel e contou com a presença de centenas de estudantes de ambos os sexos, na sua maioria adolescentes.

Num fim do espectáculo seguiu-se um debate entre os actores e os estudantes que levantaram algumas questões relativas à sexualidade e apresentaram sugestões.

“Sentimos que os estudantes estão interessados pois no final de cada apresentação vêm ter com a nossa direcção. É preciso fazer com que os jovens comecem a respeitar o seu corpo. E como artistas temos de ter essa função”, adianta Manuela Soeiro.

E Vaz afirma que “há muitas perguntas que o adolescente tem e acho que esta nossa peça ajuda a levantar o problema e a tentar buscar soluções porque o importante é quebrar tabus e gerar diálogo”.

A apresentação da “Confissões de Adolescente” é um evento que faz parte de uma série de 25 espectáculos que a Companhia de Teatro Mutumbela Gogo realizará em diferentes escolas secundárias, bairros, mercados e estações de serviço, com o financiamento da embaixada de Espanha em Maputo.

Refira-se que aquela embaixada tem como objectivo contribuir para o desenvolvimento da Cultura em Moçambique e apoiar os seus actores culturais.

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