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Tiraram-lhe os ólhos e órgãos genitais

Rúben cego para sempre

Rúben Dom Carlos, nasceu e vivia no Posto Administrativo de Chire, localidade de Chilomo, distrito de Morrumbala, no régulo Lampião, e era um menino como outros tantos, embora se diga que quanto mais se sai da capital da província, os direitos vão se reduzindo, o pequeno Rúben, não sentia isso, porque tinha tudo aquilo que Deus quis dar aquando da sua nascença. Mas gente maldosa, sem piedade, imbuídos por um enriquecimento rápido e ilícito, deixaram o pequeno Rúben sem olhos e órgãos genitais, impedindo-o de ler e escrever, como seus direitos.

Como tudo aconteceu? 

Este acto macabro, aconteceu na manhã de 5 de Maio deste ano. A família do menino havia saído para machamba, claro, actividade normal e ele (Rúben), de 12 anos, estava sozinho.

Daí vieram duas pessoas, cuja uma delas era o tio dele, Isaías, em companhia do seu amigo. Em conversa animada, convidaram o menino para irem à caça de ratazanas e também daram-lhe bolachas e outros bens para que ele possa estar alegre. Inocente, o pequeno Rúben aceitou o convite, claro porque um deles era o tio, não havia desconfiança nenhuma.

O tio Isaias, ao invés de dar bolachas ao sobrinho Rúben, tirou-lhe os olhos, deixando-o sem vista, e dai extraíram-lhe os órgãos genitais, abandonando-o nas bananeiras. Logo de seguida o tio Isaias e o seu amigo, rumaram para o vizinho Malawi, afim de venderem o produto que já tinha um comprador, que se chama Nhantawa, comerciante naquele país. Dois dias, os familiares não conseguiam localizar o pequeno Rúben, só depois é que o menino foi descoberto nas bananeiras, mas sem olhos e sem sexo.

Já no Malawi, Isaías foi pego pela polícia moçambicana, quando ia entregar o produto do seu sobrinho. Foi encarcerado, e o expediente dele foi tramitado, e assim veio ao país onde ele cometera o crime.  

Fontes próximas que nos revelaram este caso, sublinharam que o pequeno Rúben ficou internado num hospital malawiano por algum tempo, mas não teve assistência de ninguém. Os direitos do pequeno Rúben, ficaram guardados. Nem sequer a embaixada moçambicana conseguiu da a mão, dizem as fontes.

Quando se pergunta ao pequeno Rúben se de facto é o tio Isaias que o deixou assim, ele responde que sim, foi mesmo o tio Isaias.

Na zona, Rúben só consegue reconhecer as pessoas através de vozes. Agora o menino usa descartáveis e ajuda precisa-se para ele. Os órgãos de Rúben, terão entrado no Malawi para fins obscuros.

Os protagonistas desta acção macabra, estão já nas mãos da justiça e esta sexta-feira, será lida a sentença depois de julgados pelo Tribunal da Zambézia.

Foi graças a uma organização não governamental moçambicana, denominada KUKUMBI, que descobriu o pequeno Rúben, naquele “mundo sem saída”, chamado Chilomo, bem próximo do Malawi.

Segundo contou a funcionária da KUKUMBI, o menino Rúben, estava isolado, porque também, com as dificuldades que a família vive, estas não tinham possibilidade de levar o menino pelo menos até a vila sede do distrito de Morrumbala, que dista cerca de 117 km.

Aquela funcionária fez saber que, em Chire, estes casos não são novos, sempre registam-se e aventa-se a possibilidade de haver uma rede de indivíduos. Como a vocação da organização é trabalhar em prol dos direitos da criança, foi dai que seguiram o caso e trouxeram até as entidades competentes, neste caso a direcção provincial da Mulher e Acção Social

É sempre uma honra, quando uma criança fica perante um governante. Mas o pequeno Rúben esteve, esta terça-feira, perante o Governador da Zambézia, Francisco Itai Meque, mas não viu a cara do chefe máximo da província. Era pela primeira vez que Itai ouvia falar deste caso.

Visivelmente constrangido, Itai pediu para que os protagonistas desta acção sejam punidos.

Por outro lado, o Governador garantiu que o governo vai dar todo apoio necessário ao pequeno Rúben e à sua família, que também é de poucas posses, e ainda mais, sabe-se que a mãe do pequeno Rúben, também sofre de problemas mentais.

Já o Comandante Provincial da PRM na Zambézia, Manuel Filimão Zandamela, começou por lamentar o facto, num ar triste, para depois garantir que já há um trabalho no terreno.

De acordo com o Comandante Zandamela, já houve registo de casos desta natureza em três distritos desta província, dentre elas, Morrumbala (caso Ruben), Nicoadala onde também houve extracção de órgãos para fins inexplicáveis, mas também houve um caso destes em Milange, e os autores deste já foram condenados.

Zandamela garante que a corporação que dirige, não vai baixar os braços e há toda necessidade de combater este crime hediondo e bárbaro.

Para o caso de Milange, o Comandante da PRM diz que já foram condenadas duas pessoas, enquanto que para o caso de Nicoadala, foram também detidas duas pessoas como suspeitas de terem praticado este tipo de crime.

Com este caso de Morrumbala, cuja vítima é o pequeno Rúben, Zandamela diz que são no total seis pessoas envolvidas nestes crimes.

Há rede de tráfico de órgãos humanos? 

Aqui o Comandante não foi claro em afirmar que na província da Zambézia, há rede de tráfico de órgãos humanos. Porém, o chefe máximo da polícia na Zambézia, apelou para que a população seja vigilante, no sentido de denunciar todo e qualquer acção criminosa.

Avaliações médicas preliminares 

A nossa reportagem acompanhou o pequeno Rúben até ao Hospital Provincial de Quelimane, onde logo foi encaminhado ao médico oftalmologista. Sem precisar de muita perícia, o médico explicou aos presentes, neste caso o director clínico do Hospital, o director adjunto da Mulher e Acção Social, que “não há possibilidades de o menino voltar a ver como dantes” – fim de citação.

Ainda na sala do médico, o pequeno Rúben, não se consolava. Não queria carinho de ninguém. Até falava em sua língua materna que estava ali para lhe matarem.

Um verdadeiro trauma para um menino que também tem direito como outros tantos. Não foi fácil para o médico ter acesso as marcas deixadas pelos assassinos. Rúben não aceitava. Com um chapéu na cabeça e um lencinho nas mãos, ainda mais acompanhado por um familiar que pouco entende a língua de Camões, o pequeno Rúben, foi chorando e sem entender o que o médico dizia, assim saímos da sala, com a promessa de que, sexta-feira, será lida a sentença por parte dos órgãos de justiça e do lado clínico, teremos mais dados.

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