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Em fim: A Minha Geração

Nova palavra de ordem e eivada de ideologia demagógica circula no meu país, oriunda de novo discurso dos dirigentes da nação. Chamam por uma terceira geração na construção do estado moçambicano, a “Geração da Viragem”. Debates sucedem-se a seu respeito, académicos ou não buscam explicação que se torna cada vez difusa. Multiplicam-se os encontros no seio de vários segmentos da sociedade, entre eles estão duas alas.

A primeira é a que não questiona e declara-se “seguidor incondicional” da geração de viragem, “e composta por fanáticos escovistas que até podem se tornarem suicidas só para defender esta expressão. A segunda ala é formada por aqueles que não se querem identificar com esta geração por serem avessos aos seus defensores, e a terceira é a daqueles que precisam de mais esclarecimentos para se enquadrar.

E eu, onde estou? Tento me situar, cada vez que me determino para tal façanha mais esbarro deturpado, confuso, me aceito e me recuso. Qual será o motivo? A resposta é certa, as primeiras duas gerações foram construídas pela dinâmica do nascimento e da afirmação de moçambicanidade. São produtos do tempo esculpido em sacrifício de moçambicanos, são produtos configurados na história, disso todos estão de acordo.

Qual quê a terceira geração, porquê se quer diferente gestação como que colocar a carroça em frente dos bois. Qual é a pressa com a história, fazemos história forçando os acontecimentos ou nós somos produto dessa história? Alguém está a forçar as coisas, será por medo da extemporaneidade dos seus discursos?

O desenvolvimento depende desta designação “geração da viragem” ou do trabalho honesto dos moçambicanos? Se não se usar a designação terceira geração não haverá o desenvolvimento almejado, não se vencerá a pobreza absoluta que graça os moçambicanos? O que nos retarda é a falta de termos ou é falta de clareza e políticas coerentes no que fazemos?

A geração de viragem será que irá tornar-nos produtores e deixarmos de ser um amplo mercado que só consome o que os outros produzem? Onde está a SOGER, a INVESTRO, a TEXTAFRICA, a RIOPELE, a TEXLOM, a VIDREIRA e tantas outras industrias que absorviam a mão-de-obra moçambicana e dava receitas ao estado? Onde estão os nossos regadios? Quais são os seus ideais da geração de viragem que podem contrariar a tendência consumista.

Que princípios e objectivos a distinguem com todos os objectivos gerais de desenvolvimento de qualquer povo? Mas neste dilema para me definir, surge o “Primeiro de Setembro”, dia em que as Cidades de Maputo e Matola ficaram as moscas. Dia em que o povo amotinou-se e exigiu ser considerado por quem prometeu pensar nele mas… Dia em que o céu da capital formou-se negro pela fumaça e chamas que tentavam queimar os maus espíritos que haviam se apossado dos rebentos das duas primeiras geração.

Curioso é que quem se rebelava desta vez era a designada geração de viragem, queria esta geração virar o rimo das coisas corporizadas por apatia e ausência do estado, uma contrariedade na implementação das agendas governativas, o verdadeiro “Deixa Andar” a tomar comando da vida dos maputenses. Esta geração da viragem gritou para se fazer sentir, já sabe o que quer, quer ver minimizado o custo de vida.

A geração se rebelou, sabe que vai morrer de qualquer jeito seja de fome, seja de balas as chamadas “balas perdidas” uma bala perde-se dentro duma arma? Assim qualquer sacrifício vale, assim como valeu o sacrifício feito pelas duas primeiras gerações. No dia Primeiro de Setembro morreu o Hélio, miúdo que na tenra idade, não sabe a que geração pertenceu, mas o destino fê-lo um dos heróis deste levante popular.

Morreu alvejado pelo inimigo da tolerância e do respeito dos princípios constitucionais deste país. Este menino é um herói desta fúria popular, morreu por uma justa causa, seu sangue derramado deve ser honrado, pena que Hélio não viveu para ver o inimigo do povo a vergar-se perante a altivez popular. É assim, os heróis não vivem para ver as conquistas, que o digam Gungunhane e Mondlane.

Naturalmente que para além do heróico menino, a insurreição popular de 1 de Setembro deixa também combatentes anónimos que sofreram traumas nas mãos dos detentores do poder. Há que pensar em homenagem ao Hélio, pensar em criar um Ministério para tratar os assuntos dos combatentes pelo custo de vida.

Sim esta é que é a minha geração, esta é que é a terceira geração, fez sacrifício para uma causa justa, negue quem quiser, cada um deve concluir como bem entender, a terceira geração que a todo o custo quis se impor antes do tempo, ela chegou, é a “Geração 1 de Setembro”, já não tenho dúvidas, a esta geração eu pertenço.

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