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A ntyiso wa wansatititi – Uma laranja e meia

Se tu fores mesmo a minha meia laranja, daqui a uns anos ainda estás ao meu lado, de mão dada, aos domingos de manhã, quando saímos a ferros de casa só para respirar outro ar e sentir que o mundo lá fora ainda existe.

E eu vou olhar para ti e vou suspirar de prazer só por te ter ao meu lado, só porque sim, porque o amor é mesmo isto, quando não se explica é porque é mesmo a sério. Sou como tu, não gosto de planear o futuro, tenho medo de me enganar, de perder tempo com sonhos impossíveis, das voltas que a vida dá para nos tirar o que mais queremos, por isso deixo-me ir, hoje vai ser um dia bom e amanhã também, e depois de amanhã também, e quem sabe, para a semana ainda vai ser melhor.

A nossa vida passa a correr, vejo-te ao meu lado há alguns meses e é fácil imaginar-te por mais tempo, não sei quanto, mas agora também não me interessa, o que me interessa é que estás perto e estamos os dois felizes. Talvez um dia chegue um dia diferente de todos os outros. Um dia especial, daqueles que nascem para mudar a nossa vida e nesse dia, ou eu, ou tu, olhemos um para o outro e perguntemos como vai ser a seguir, de que cores se pinta o futuro, se queremos mais laranjas na nossa árvore, uma laranja pequenina a risonha, com olhar malandro e o cabelo aos caracóis.

Imagino-a bonita, de olhos claros e corpo magro, a brincar sozinha no fundo do jardim, numa casa de bonecas só para ela. Imaginoa no primeiro dia de escola, fardada e solene, cheia de cadernos brancos por preencher e depois a sair da escola, muito despenteada a dizer, triunfante: ó Mãe, hoje aprendi o p, depois de ter aprendido o t e b, logo a seguir a saber todas as vogais. Imagino-a dengosa, ao teu colo, a fazer-te festas na barba e a dizer o Pai é meu namorado, e depois a fugir de ti a correr, à espera que vás atrás dela, como fazem todas as mulheres com os homens que amam.

O futuro é como uma casa vazia, cheio de projectos e de sonhos mas também fria e silenciosa, com o peso do desconhecido, do medo que carrega todas as incertezas. Mas eu gosto de imaginar o futuro cheio de momentos bons e mesmo que a vida não se transforme no que mais desejo, prefiro sonhar do que pensar que o futuro é uma terra de ninguém, esquecida para sempre no mapa das nossas almas. Temo e desejo esse dia, porque ele pode mudar as nossas vidas para sempre.

Mas até lá, deixa-me descansar sob o sol de Verão, dormir sestas na rede e ouvir música baixinho, como se embalasse dentro de mim a pequena laranja que ninguém sabe ainda se uma dia vai nascer. Tudo tem o seu tempo e modo e não é por correr atrás da vida que ela acontece mais depressa.

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