A Coreia do Norte anunciou esta terça-feira que romperá todas as relações com a Coreia do Sul e cortará as comunicações entre os dois países. O objetivo é protestar contra as acusações de Seul de que Pyongyang teria disparado um torpedo contra uma corveta sul-coreana, deixando 46 mortos. O país anunciou também que expulsará todos os funcionários sul-coreanos que trabalham no complexo industrial de Kaesong, localizado ao norte da fronteira entre os dois países, apesar de este ser financiado por Seul, informou a agência de imprensa estatal norte-coreana KCNA.
Todos os navios e aviões sul-coreanos estão proibidos de ter acesso ao território e espaço aéreo da Coreia do Norte, afirmou a agência. Na sexta-feira passada, uma comissão internacional de investigação concluiu que a corveta “Cheonan”, afundada em 26 de março em frente à ilha de Baengnyeong, deixando um saldo de 46 mortos, foi vítima de um torpedo disparado por um submarino norte-coreano.
A Coreia do Norte, por sua vez, acusou Seul de ter “fabricado” provas e afirmou que os dois países estavam “perto da guerra”. Os norte-coreanos voltaram a ameaçar nesta terça-feira com ações militares, enquanto China e Estados Unidos concordaram em trabalhar com a comunidade internacional para encontrar uma solução para a crise, e a Rússia advertiu sobre uma “escalada” das tensões na península coreana.
Esta terça-feira, o exército norte-coreano acusou a marinha sul-coreana de ter penetrado em seu território marítimo, ameaçando de novo com uma réplica militar, segundo a agência oficial KCNA. Em dez dias, dezenas de navios sul-coreanos cruzaram a fronteira, “uma provocação deliberada que pretende provocar outro conflito militar no Mar Amarelo e assim levar a uma fase de guerra”, afirmou a agência. Se essas ações continuarem, a Coreia do Norte “colocará em ação medidas militares para defender seu território marítimo e o Sul será considerado responsável pelas consequências”.
Um porta-voz do Ministério da Defesa sul-coreano desmentiu qualquer entrada de navios sul-coreanos em territórios do outro país. Em Pequim, a crise foi um dos principais temas das reuniões do Diálogo Estratégico e Econômico sino-americano, que foi concluído nesta terça-feira.
A China assegurou estar “disposta a trabalhar com os Estados Unidos e outras partes”, declarou o vice-ministro chinês de Relações Exteriores, Cui Tiankai. Mas não afirmou até onde a China, que não quis condenar a Coreia do Norte, estava disposta a colaborar. “Ambas as partes acreditam que assegurar a paz no leste asiático e na península da Coreia é crucial”, disse o assessor estatal chinês Dai Bingguo, em um encontro com a imprensa.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que na quarta-feira estará em Seul, afirmou que Washington “trabalhará com a comunidade internacional e nossos colegas chineses para elaborar uma resposta eficaz e apropriada”. O presidente russo, Dmitri Medvedev, pediu qualquer “escalada” na crise, durante conversa por telefone com seu colega sul-coreano, Lee Myung-bak. A Coreia do Sul tentou obter o apoio da China para impor sanções na ONU contra a Coreia do Norte. “A China parece compreender a gravidade da situação”, declarou um funcionário sul-coreano, durante as discussões entre Wu Dawei, emissário chinês, e o ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Yu Myung-Hwan.
Na quinta-feira passada, o líder norte-coreano, Kim Jong-Il, colocou o exército em estado de alerta, segundo um grupo de dissidentes norte-coreanos na Coreia do Sul. Os serviços secretos sul-coreanos informaram estar verificando essa informação. Na segunda-feira, Seul prometeu fazer Pyongyang “pagar o preço” pelo afundamento da corveta, pedindo novas sanções da ONU e suspendendo as trocas comerciais com seu vizinho.
A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, disse que o organismo estava esperando a reação da Coreia do Sul antes de tomar uma decisão contra a Coreia do Norte depois do afundamento da corveta. Essas medidas, que teriam forte peso sobre a empobrecida economia da Coreia do Norte, representariam centenas de milhões de dólares em perdas. O país teve um excedente comercial de 333 milhões de dólares com o Sul, segundo um instituto de pesquisa sul-coreano.