Na última segunda-feira, por volta das 20h00, sou surpreendido por duas mensagens que caem quase em simultâneo no meu telemóvel. O teor era o mesmo: o assassinato à queima-roupa do director de Investigação e Auditoria das Alfândegas de Moçambique, Orlando José de seu nome.
Uma delas entrava em mais pormenores explicando que a vítima fora baleada com três tiros: um na cabeça, outro no coração e ainda outro na perna.
Passados uns minutos recebo uma chamada da minha amiga e colega Eva Trindade:
– Já sabes? – pergunta-me ela. –
Estás a falar da morte do director das Alfândegas? – respondo.
– Sim, era meu colega aqui no serviço.
Estou a sair da morgue e não sei muitos detalhes. Sei que foi morto no Zimpeto quando se preparava para entrar em casa. Quando souber mais pormenores digo-te. No noticiário das 20h00 da Rádio Moçambique fico a saber um pouco mais sobre o caso.
Sei que os assassinos eram quatro, que saíram do carro quando Orlando José se aprestava para sair também ele do seu carro com a filha de cinco anos de idade. Sei também que os tiros foram disparados com ele no interior da viatura com a filha a assistir a tudo. E pergunto-me a mim mesmo:
Como é que esta criança crescerá depois de ver o pai ser trespassado por três tiros à queimaroupa? Resta-lhe um consolo, se é que há consolo neste tipo de situações: saber que o pai foi morto porque estava a cumprir e bem o seu dever. Mais tarde, ficará certamente também a saber que no país onde nasceu o crime compensa e quem cumpre bem o seu dever, especialmente nas forças de segurança, arriscar-se, e de que maneira, a morrer.
Exemplos não faltam: Carlos Cardoso, Siba-Siba Macuácua, diversos agentes da PIC e agora… Orlando José. Hoje, escarafunchar neste lixo em que a nossa sociedade se tornou à procura da verdade, é igual a tirar um passaporte para a morte. E por isso, como o crime compensa cada vez mais, a tendência para o florescimento de indivíduos pérfidos, criminosos, facínoras, sem escrúpulos é cada vez maior.
Pelo contrário, quem tem uma boa conduta profissional, quem é íntegro, honrado e escrupuloso não passa de um louco e cada vez mais isolado D. Quixote. Mas, neste caso, estes moinhos de vento matam e moem.