A queda do avião que provocou a morte do primeiro Presidente da República Popular de Moçambique, Samora Machel, e comitiva, em 1986, foi causada por “desleixo da tripulacao” soviética da aeronave. Esta é a tese do jornalista José Milhazes, que relata a tragédia no seu mais recente livro intitulado “Samora Machel – Atentado ou Acidente?”, a ser formalmente lançado hoje em Portugal pela Aletheia Editores, coincidindo com o início da visita de estado do actual estadista de Moçambique, Armando Emílio Guebuza.
“Penso que consegui responder (a questão do título do livro), pois não se tratou de um atentado, mas sim de um acidente. O avião caiu devido a um erro humano, mais propriamente ao desleixo da tripulação do avião presidencial, como disse um dos técnicos”, referiu o jornalista, actual correspondente da Agência Lusa em Moscovo. Samora Machel morreu na queda (na África do Sul) de um avião, cedido pela então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e com tripulação desta nacionalidade, no regresso de uma reunião internacional em Lusaka, na Zâmbia, a 19 de Outubro de 1986.
Segundo Milhazes, a ideia para escrever o livro surgiu pelo “facto de ler repetidas vezes em órgãos de informação que a morte do Presidente Samora Machel na queda do avião teria sido fruto de um atentado organizado pelos serviços secretos sul-africanos.” Os soviéticos, indicou Milhazes, “participaram directamente em toda a investigação” do Tupolev 134 que foi cedido ao dirigente moçambicano, líder da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e primeiro presidente do país africano após a sua independência de Portugal em 1975.
“Foi vendo o resultado das investigações por parte dos soviéticos, cruzando com declarações de pessoas que participaram destas investigações, nomeadamente um tradutor russo que acompanhou todo o trabalho das várias comissões internacionais, que me levou a colocar esta pergunta e tentar responder”, sublinhou o jornalista.
“Atentado” por conveniência
Para Milhazes, a tese de atentado era mais conveniente para soviéticos e moçambicanos. “Os soviéticos ainda estavam no início da transparência e da reestruturação realizada por Mikail Gorbachov em 1986 (perestroika). Não conseguimos imaginar a direcção soviética a reconhecer que o avião caiu por causa da tripulação, devido a erros crassos”, indicou. “Para os moçambicanos, interessava também que o Presidente se transformasse num mártir da luta contra o apartheid, assim, tentou-se encontrar versões heróicas, com mais epopeia do acontecimento”, revelou ainda.
Entretanto, Milhazes revelou que outras hipóteses para a queda do avião foram lançadas, como o falso farol que teria enganado os pilotos soviéticos ou ainda a conspiração entre os serviços secretos sul-africanos e soviéticos na morte do Presidente. Segundo o jornalista português em Moscovo, “alguns especialistas indicam que o acidente aconteceu por total desleixo da tripulação soviética”, deixando os detalhes para que o leitor descubra ao ler o seu livro.
A obra tem capítulos dedicados a alguns dirigentes moçambicanos, nomeadamente Eduardo Mondlane, Samora Machel e Joaquim Chissano, relatando a visão dos soviéticos destas personalidades, assim como uma análise da intervenção militar da URSS em Moçambique.