Uma crescente corrupção em Cuba, que passa de um vendedor de leite a funcionários de alto escalão, disparou alarmes no governo de Raúl Castro que, já na segunda-feira, enviará um exército de auditores a empresas, além de investigar supostas anomalias de alcance internacional.
A morte do executivo chileno Roberto Baudrand, em circunstâncias ainda não esclarecidas e cujo corpo foi encontrado na terça-feira em Havana, reavivou versões sobre uma investigação de corrupção que, presumivelmente, envolve companhias cubanas e empresários do país.
Enquanto as autoridades de Cuba aguardam em silêncio, o governo do Chile pediu na quarta-feira uma “exaustiva investigação” sobre a morte de Baudrand, gerente da Alimentos Río Zaza, empresa mista do Estado cubano e do chileno Max Marambio, ex-segurança do presidente Salvador Allende e muito ligado à ilha. A empresa está sob investigação do Ministério Público de Cuba, que busca respostas, também, numa agência de turismo – propriedade de um irmão de Marambio – e na Cubana de Aviação, entre outras entidades do país, segundo a imprensa chilena.
O governo cubano e acadêmicos reconhecem o alcance representado pela enorme rede de corrupção, que vem crescendo durante décadas, minando a estabilidade da revolução. “A corrupção é muito mais perigosa que a chamada dissidência interna”, advertiu o cientista político Esteban Morales, ao qualificá-la de verdadeira “contrarrevolução” que “pouco a pouco toma posições em certos níveis do Estado e do Governo”.
Segundo a promotora Caridad Sabó, a Promotoria Geral detectou “uma tendência ao aumento” da corrupção nos últimos dois anos, “com maior participação de líderes e funcionários”. “Há pessoas em posições de governo que estão se enchendo de dinheiro, para quando a revolução vir abaixo, preparando-se para fazer a transmissão dos bens estatais a mãos privadas, como ocorreu na antiga URSS”, disse Morales.
Numa ofensiva da Controladoria Geral, recém-criada por Raúl Castro, milhares de auditores surpreenderão a partir de segunda-feira, durante um mês, 750 empresas, para submetê-las a perícias. Desde que assumiu o comando há quase quatro anos, quando seu irmão Fidel Castro ficou doente, Raúl apertou o cerco contra os roubos ao Estado, que alimentam o gigantesco mercado negro, onde os cubanos compram alimentos e produtos a preços mais baixos do que nas lojas, também encontrando nele o que não existe no mercado legal.
Ante as prolongadas carências e baixos salários, a população adotou uma estratégia de subsistência. Desde milhões de litros de combustível até leite, frango, arroz, óleo, açúcar ou café, que saem dos mercados estatais, tudo é vendido no “mercado negro”.